O que distingue o “Candidato autárquico do Chega pela Azambuja detido por suspeitas de pedofilia” do “Adjunto da ex-ministra da Justiça pedófilo“? A sério, alguém consegue explicar o que leva a que num caso se faça logo no título a pertença política do acusado de pedofilia e noutro um expurgo desse aspecto, remetendo-o para a notícia, ou nem isso? A RTP inicialmente nem no texto da notícia referia em que governo trabalhou Paulo Abreu dos Santos, ele era apenas o “ex-adjunto da anterior ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro”, ou o “ex-adjunto do Ministério da Justiça”, o que nos punha a todos a fazer contas para perceber se a “então ministra” fora ministra de Montenegro ou de António Costa. Já quando fez a notícia sobre a detenção de Rui Pedro Moreira a mesmíssima RTP escreveu “Candidato do Chega à Azambuja suspeito de abusar de dois menores”
Acreditarão os autores destes dislates que as pessoas não dão pela diferença? Acham que resolvem tudo com a diabolização das redes sociais onde estes estúpidos enviesamentos são prontamente assinalados? Ou que dizer que quem chama a atenção para estes assuntos é do Chega encerra a polémica?
Obviamente que Catarina Sarmento e Castro não é responsável pelo comportamento criminoso de alguém que escolheu para trabalhar consigo, mas existem responsabilidades políticas: Paulo Abreu dos Santos foi escolhido por si; Paulo Abreu dos Santos exerceu a actividade criminosa de que está acusado no Ministério da Justiça e com equipamento do Ministério; Paulo Abreu dos Santos foi escolhido pelo gabinete da “então ministra” para estar presente numa reunião com a comissão de vítimas de abusos sexuais na Igreja. Isto não merece uma explicação? Um pedido de desculpas? As notas de euros no gabinete de Vítor Escária parecem-me um pormenor decorativo ao lado disto!
Percebo que Catarina Sarmento e Castro se sinta constrangida com o assunto mas que a comunicação social mostre ainda maior constrangimento é que não entendo. Ou, melhor dizendo, entendo mas não aceito. Porque um dos factores de corrosão do país tem sido este Síndrome de Protecção à Esquerda em Geral e ao PS em Particular, não de um PS qualquer, mas sim ao PS hegemónico da esquerda que teve o seu momento maior nos governos de António Costa com a geringonça. Esse PS que, independentemente dos votos, marca a divergência possível. Esse PS que trouxe o Chega para o centro da vida política sem perceber que seria a primeira vítima da sua táctica.
E é também isso que vai acontecer neste caso: o Síndrome de Protecção à Esquerda em Geral e ao PS em Particular está a actuar, só que já não actua como nos tempos do escândalo de pedofilia na Casa Pia. O PS conseguirá mais uma vez proteger-se mediaticamente, mas do outro lado há quem vá capitalizar com isso. Obviamente o Chega. A direita, ou melhor dizendo a “então direita”, à semelhança da “então ministra”, prefere não falar de assuntos embaraçosos. Quando André Ventura se tornar primeiro-ministro a direita só pode queixar-se de si mesma.