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Escola britânica aconselhada a denunciar professor que mostrou vídeos de Trump nas aulas a programa antiterrorismo

Liceu britânico foi aconselhado a fazer queixa de professor pelas autoridades locais. Em causa, estarão conteúdos sobre Trump mostrados em aula.

Manuel Carvalho
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Um professor de um liceu britânico foi denunciado pela instituição às autoridades locais por representar um risco à segurança dos seus alunos após mostrar vídeos de Donald Trump nas aulas. De acordo com o jornal britânico Telegraph, o docente acabou mesmo por ser forçado a demitir-se.

Depois de uma denúncia do Henley College, o gabinete que no Reino Unido se encarrega da proteção das crianças (Local Authority Designated Officer ou LADO) aconselhou a escola a referir o caso do professor ao Prevent (prevenir, em inglês), um programa do governo de combate ao terrorismo. Em causa, estavam um potencial “crime de ódio” e alegados “danos emocionais” a crianças e adolescentes.

Segundo a associação Free Speech Union, que apoia o docente, trata-se de um caso em que as leis britânicas que se destinam a proteger crianças estão a ser usadas contra adultos que tenham um ponto de vista alinhado com a direita política.

O Telegraph falou com o professor, que prefere manter-se no anonimato. Este afirma que foi “comparado a um terrorista”, o que considera “distópico” e “completamente chocante”. Por isso, o docente do Henley College um liceu em Henley-on-Thames, Oxfordshire, Reino Unido — avançou com uma queixa contra a escola. Depois de um acordo entre as partes, o Henley College indemnizou o professor no valor de duas mil libras (cerca de 2.290 euros). Na origem deste conflito entre a instituição e o professor, estão os conteúdos partilhados com os alunos.

Em causa estão cinco vídeos relacionados com o presidente dos EUA que o professor da disciplina de política mostrou aos alunos. Entre eles, o vídeo da tomada de posse de Trump e trechos de discursos do presidente norte-americano. Um dos vídeos, indicou a escola, citada pelo mesmo jornal, “deixou um dos alunos bastante desconfortável”.

“Senti-me completamente insultado com a sugestão de que eu representava perigo para as crianças. Isso afetou a minha saúde mental. Precisei de consultar um psicólogo. Prejudicou a minha saúde física. Foi absolutamente terrível. Fiquei completamente arrasado”, conta o professor ao Telegraph.

O docente justifica que estava a mostrar vídeos da campanha de Trump porque o atual presidente dos EUA tinha acabado de ganhar as eleições em 2024 e ressalva que também mostrou vídeos de Kamala Harris, candidata dos democratas. Entre outros conteúdos partilhados em sala de aula, figura também um videoclipe sugerido por um dos alunos em que surge a atriz e comediante Roseanne Barr,  apoiante de Donald Trump, ao lado do rapper canadiano Tom MacDonald. Nas imagens, é possível ver apoiantes de Donald Trump e do movimento MAGA (Make America Great Again — Tornar a América Grande Outra Vez).

https://youtu.be/nb7fAEQaJwE?si=lcJkLGT-HoKvRJzz

De acordo com os registos consultados pelo mesmo jornal, o liceu iniciou as investigações em janeiro de 2025, depois de queixas de dois alunos sobre a forma “tendenciosa” e “a fugir do tema” de o professor dar aulas. Depois destas queixas, foi estabelecido um contacto com o LADO, que em maio disse que a opinião do professor “poderia ser vista como radical” e que a escola devia referenciar o professor ao programa de prevenção antiterrorista do governo britânico.

A escola enviou então uma carta ao professor, informando-o que estava a ser alvo de uma acusação de má conduta. Além de abordar os conteúdos partilhados em vídeo, a carta, assegura o Telegraph, alega “falta de equilíbrio ao apresentar opiniões políticas, com ênfase em visões de direita, potencialmente extremistas”. Estas considerações sustentam-se nas alegações de alguns alunos, que foram citados no documento enviado ao professor: “As aulas são tendenciosas e irrelevantes a ponto de se tornarem uma distração daquilo que os alunos deveriam aprender”.

O professor em questão assume-se católico, considera-se republicano e garante que não é extremista. Defende que terá sido alvo de um grupo de alunos, depois de assumir a disciplina de política em setembro de 2024, para fazer face à falta de professores da mesma.

Contactada pelo Telegraph, o Henley College declarou que “não comenta investigações em andamento”, apesar de o acordo entre a escola e o docente já ter levado à demissão deste último. Agora, trabalha como professor substituto, enquanto procura trabalho a tempo inteiro.