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(A) :: Bolsonaristas apelam ao boicote à marca Havaianas após anúncio publicitário que diz para não começar 2026 “com o pé direito”

Bolsonaristas apelam ao boicote à marca Havaianas após anúncio publicitário que diz para não começar 2026 “com o pé direito”

Anúncio com atriz Fernanda Torres gerou apelos ao boicote por parte de bolsonaristas devido à frase "não começar o ano com o pé direito". Fábio Porchat entrou na polémica e causou "crise diplomática".

Manuel Nobre Monteiro
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A famosa marca de chinelos brasileira Havaianas está no centro de uma (nova) guerra política num país ainda dividido após a condenação do antigo Presidente, Jair Bolsonaro, por tentativa de golpe de Estado. Em causa está o anúncio publicitário da marca protagonizado por Fernanda Torres, no qual a atriz afirma que não quer que os brasileiros entrem em 2026 “com o pé direito”, mas sim “com os dois pés” — frase que os “bolsonaristas” interpretaram como uma mensagem dirigida contra a direita.

A reação foi imediata. Eduardo Bolsonaro, filho do antigo líder brasileiro, publicou um vídeo nas redes sociais atirando para o lixo um par de Havaianas pretas com a bandeira do Brasil (símbolo associado à marca). “Eu achava que isto era um símbolo nacional. Enganei-me. Eles escolheram como garota-propaganda da sandália uma pessoa declaradamente de esquerda. E ainda diz para não começar o ano com o pé direito. Isso não foi por acaso“, disse, acrescentando: “O pé direito e o esquerdo estão no lixo“.

Outros políticos e influencers juntaram-se ao boicote à marca. “Havaianas escolheu lado. A direita escolhe o boicote”, escreveu na rede social X o deputado Rodrigo Valadares. Já Thiago Asmar, conhecido como Pilhado, ironizou: “Estou a queimar o pé no asfalto, mas Havaianas nunca mais“. Houve mesmo quem anunciasse a troca da marca por concorrentes diretas, como a Sandálias Ipanema, ou até por Crocs, num gesto de protesto simbólico.

Por seu turno, a deputada de esquerda Duda Salabert classificou a polémica como “um ataque burro” e alertou que “quem mais pode perder não é a marca, mas sim o trabalhador”, lembrando que a Havaianas dá trabalho a milhares de brasileiros. Nas redes sociais, multiplicaram-se apelos para que os apoiantes de Bolsonaro doassem os chinelos que estavam a deitar no lixo.

A polémica ganhou ainda mais força pelo contexto político que o Brasil está a viver. Jair Bolsonaro foi recentemente condenado a 27 anos e três meses de prisão por liderar um plano para reverter o resultado das eleições de 2022, o que provocou tensões entre direita e esquerda. Impedido de voltar a exercer cargos públicos, o antigo Presidente continua, no entanto, a influenciar uma parte significativa do eleitorado e um dos seus filhos, Flávio Bolsonaro, é apontado como potencial candidato às presidenciais de 2026.

Fernanda Torres não comentou publicamente a polémica. Durante a promoção do filme que protagonizou — Ainda Estou Aqui (2024) —, a atriz já tinha assumido de forma clara a sua oposição a Jair Bolsonaro, consolidando a imagem de figura progressista.

Fundada em 1962 e inspirada nas sandálias japonesas zori, a Havaianas tornou-se num dos produtos mais usados no quotidiano brasileiro. Usadas tanto na rua como em casa, a marca vende mais de 200 milhões de pares por ano e é presença regular em mais de 100 países.

Porchat entra na polémica, grava vídeo na Embaixada do Brasil em Roma e MNE emite comunicado

Fábio Porchat decidiu entrar na polémica em torno do anúncio publicitário da Havaianas. O humorista publicou um vídeo nas redes sociais no qual finge ser o gestor de crise de Fernanda Torres. “Fernandinha, sua doida, eles estão a achar que são a Enel [empresa eletricidade], eles querem acabar com a tua luz”, diz Porchat no vídeo humorístico.

A publicação, no entanto, acabou por gerar controvérsia, uma vez que o vídeo foi gravado no interior da Embaixada do Brasil em Roma, Itália. Vários políticos brasileiros criticaram a postura do ator. Rogério Marinho, do Partido Liberal e líder da oposição no Senado, acusou Porchat de instrumentalizar um espaço oficial. “Instalações governamentais não servem para militância nem para proteger aliados“, afirmou o deputado, citado pelo Metrópoles.

Perante a repercussão, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil acabou por esclarecer as circunstâncias da presença de Fábio Porchat na missão diplomática em Itália. Num comunicado, o ministério explicou que o ator e humorista era convidado pessoal do embaixador do Brasil em Roma para a celebração da noite de Natal e que a visita não envolveu qualquer despesa pública.

“Durante a sua estadia na residência, o artista gravou e publicou vídeo sem o conhecimento e autorização [do embaixador]“, lê-se na nota, que acrescenta que “as despesas de convidados pessoais do embaixador são custeadas pelo próprio chefe da Missão Diplomática”.

https://twitter.com/FabioPorchat/status/2003963645798310318

Depois de toda a polémica, Porchat recorrer à rede social X para desejar um “feliz Natal” aos seguidores, deixando uma mensagem: “Sejam leves, sejam felizes, transem, comam, riam e parem de viver para a política. Isso só corrói a vossa vida e não muda nada a vida de 90% desses safados que estão no poder”.