Talvez nunca a televisão tenha afetado tanto a vida real, a mesma que inspira as melhores histórias de ficção. Talvez tenha sido necessário chegar a 2025 e a um retrato sobre as dores de crescimento na atualidade para que um argumento nos assustasse na vida real. Ao mesmo tempo, talvez a melhor solução para todos nós seja a liberdade criativa absoluta, a invenção, reinvenção, o desaforo de sermos ambiciosos, megalómanos nos nossos desejos. E talvez a televisão continue a ser o melhor laboratório de guionismo, interpretação e realização de hoje. Dizemos “talvez” porque há sempre a hipótese de que assim não seja, mas vistas as listas de melhores do ano que se seguem, essa hipótese parece cada vez mais remota.
———————————————————————————————————
Alexandre Borges
MELHOR SÉRIE: “Severance”, temporada 2 (Apple TV+)
https://www.youtube.com/watch?v=_UXKlYvLGJY
Num ano de recuperação para a ficção televisiva e em que voltou a haver espaço para alguma experimentação fora da fórmula Netflix, a escolha de uma só série é, felizmente, difícil. O voto vai para Separação (Severance), série sem género claro, em que a segunda temporada chegou a um nível mais profundo do plot, deixando a sensação de tanto haver ainda por vir. Vamos ver se, ao contrário de tantas, não desilude, mas, para já, o que temos, é a ficção mais densa da TV atual, partindo de uma farsa à separação casa/trabalho para um debate filosófico sobre identidade e consciência.
MELHOR EPISÓDIO: “The Oner”, da série “The Studio” (Apple TV+)
Dizem que a Apple TV+ anda a fazer as melhores séries da atualidade e a não ter o crédito disso – é aproveitar enquanto não se cansam do prejuízo. The Studio, sátira ao universo cinematográfico em transformação no tempo do smartphone e, lá está, do streaming, é proeza de Seth Rogen, que escreve e interpreta um diretor de estúdio saudosista dos anos dourados.

Desigual, tem, no entanto, alguns episódios de antologia, como o sempre difícil nº 2. “The Oner” é, simultaneamente, meia hora de comédia hilariante passada no set de um filme e um exercício técnico brilhante, num ano em que o plano-sequência voltou à moda como exercício maior de virtuosismo audiovisual.
MELHOR PERSONAGEM: Eddie Miller, da série “Adolescência” (Netflix)
A propósito: a outra candidata a série do ano. Tudo a recomenda: urgência do tema, qualidade soberba de texto e interpretações, espanto técnico perante episódios filmados, cada um deles, num só plano-sequência, intenso, até ao fundo do estômago ou da alma.

Fiquemos pela personagem de Eddie Miller, pai do jovem acusado de homicídio de uma colega de escola, interpretado por Stephen Graham, estrondoso ator que, em Adolescência, assume também a dimensão de autor. Carrega, no corpo e no rosto, toda a dúvida, todo o amor, toda a raiva e todo o instinto que tornam esta minissérie um tesouro do nosso tempo.
DESILUSÃO DO ANO: “Dia Zero” (Netflix)
Tínhamos um thriller, um aroma a Guerra Fria, o sentimento bem vivo da vulnerabilidade dos sistemas eletrónicos em que cada vez mais depositamos as nossas existências, e tínhamos Jesse Plemmons, Angela Bassett, Matthew Modine e, sobretudo, Robert De Niro em estreia em televisão.

Claro que esperávamos mais – muito mais. Mas Dia Zero perde-se em tentativas de twist, indeciso entre ser um thriller político, psicológico ou tecnológico, redundando num desenlace pífio, pouco convincente e com pouco ou nada para o espectador levar.
———————————————————————————————————
André Almeida Santos
MELHOR SÉRIE: “The Chair Company” (HBO)
https://www.youtube.com/watch?v=b0lDMHAGDnU
Poderia ser uma daquelas séries que só os críticos gostam (e eles gostaram). Contudo, a realidade ultrapassou o cliché: foi a maior estreia de comédia da HBO nos últimos cinco anos. O sucesso manteve-se ao longo dos episódios seguintes e, entretanto, confirmou-se uma segunda temporada. Tim Robinson está em alta, criou uma série à sua imagem, sem cedências e que, ao mesmo tempo, comunica para uma audiência maior. The Chair Company é uma belíssima construção em volta de “coisas que os homens fazem quando a crise de meia-idade bate”. Na era das teorias da conspiração, o Ron criado por Tim Robinson é um espelho partido para o qual todos deveríamos olhar. E rir com ele.
MELHOR EPISÓDIO: “The Sea”, da série “Big Boys”, temporada 3 (Filmin)
Seguindo o modelo de Fleabag e Baby Reindeer, Jack Rooke transformou um espectáculo ao vivo em produto televisivo. A grande diferença entre Big Boys e as séries anteriormente mencionadas é que Rooke falar menos dele próprio e mais dos amigos, sobretudo Danny (Jon Pointing), o colega de quarto na universidade, uma das melhores desconstruções do modelo masculino na televisão desta década.

O final de Big Boys está na História – sem qualquer exagero —, um gesto lindíssimo do criador para o amigo: e se o teu final tivesse sido diferente? De ir às lágrimas, sim, também como amostra da televisão enquanto arte que pode elevar-se para lá da rotina e do binge-watching.
MELHOR PERSONAGEM: Chris Smith/Peacemaker, da série “Peacemaker”, temporada 2 (HBO)
A Marvel tem o multiverso, a DC Comics tem Chris Smith (John Cena), também conhecido como Peacemaker, uma personagem que não é vilão nem super-herói, com duas características marcantes no passado: matou o irmão quando era mais novo e tem um pai nazi. E se existisse uma realidade paralela em que o pai não fosse nazi, o irmão estivesse vivo (e os três fossem um adorado grupo de super-heróis) e Chris tivesse uma relação com a mulher que deseja? Tentador.

Peacemaker, a personagem (que é também o título da série), é uma belíssima criação de James Gunn para televisão, na qual o realizador parece ter tido carta branca para fazer o que bem lhe apetecesse com as personagens da DC. A segunda temporada é uma das melhores séries de comédia do ano.
DESILUSÃO DO ANO: As séries canceladas ou adiadas na Apple TV+
Tem uma programação quase irrepreensível, contudo, este ano aconteceram duas coisas bizarras na plataforma da tecnológica americana. Cancelou uma série, The Hunt, porque antes da estreia começaram a surgir acusações de plágio. Como uma coisa destas passa por vários estágios, é incompreensível que tenhamos chegadoa. isto na véspera do lançamento. Como também é incompreensível o adiamento de Savant, série que deveria ter sido estreada no final de setembro, com a seguinte premissa: e se fosse possível parar um assassínio em massa?

A série trabalha a fundo os grupos de ódio online, de extrema direita, e foi adiada – sem qualquer previsão de estreia – por causa do assassínio de Charlie Kirk. Faltou coragem em manter a estreia, porque Savant – que já vimos – lança um conjunto de tópicos interessantes para discussão. Teria sido importante falar dela num momento em que a ficção espelharia tão bem o que se passa na realidade.
———————————————————————————————————
Andreia Costa
MELHOR SÉRIE: “Adolescência” (Netflix)
https://www.youtube.com/watch?v=Wk5OxqtpBR4&t=1s
Estreou-se em março e logo aí, no terceiro mês do ano, ficou claro que seria muito difícil aparecer melhor série do que esta em 2025 — The Studio foi a única que esteve perto de destronar Adolescência, mas com um registo completamente diferente. Na história, um miúdo de 13 anos é acusado de matar uma colega. A família, a terapeuta e o detetive que o acompanham têm de perceber se é verdade e o que aconteceu. O sucesso deste projeto faz-se através de um conjunto de motivos: as interpretações brilhantes de Owen Cooper e Stephen Graham (filho e pai, respetivamente), além do brilhante texto deste último (em parceria com Jack Thorne); o facto de todos os quatro episódios serem filmados num único take, o que acrescenta uma dose de tensão brutal a uma história que já é muito pesada; o tema, a masculinidade tóxica e a linguagem dissimulada da Internet que chega às nossas crianças sem nos apercebermos; e o facto de ter suscitado discussões que foram muito além de um conteúdo de televisão.
MELHOR EPISÓDIO: “Adolescência”, episódio 3 (Netflix)
Jamie Miller (Owen Cooper) está preso e encontra-se com Briony Arison (Erin Doherty), a terapeuta que acompanha o caso. Não é a primeira vez que estão juntos, mas é a única sessão que vemos — e é uma montanha-russa que não se faz anunciar. Jamie é um adolescente arrogante, mas de repente já é só um menino perdido que precisa de colo. É violento, doce, inseguro e frustrado. O episódio está contido nesta sala e só sai dela nos breves momentos em que Briony precisa de respirar.

A complexidade e a discrepância de emoções de Jamie contrastam com a calma dela. Muitas vezes nem precisa de falar, a cara desta mulher revela tudo o que está a pensar, a temer, a calcular e é através dessas expressões que vemos grande parte do episódio. As confissões de Jamie (o que sentia por Katie, que o pai tinha vergonha dele, etc) vão-lhe dando (a ela e também a nós) bofetada atrás de bofetada. Sair deste episódio numa espécie de esgotamento emocional é o mínimo que nos pode acontecer.
MELHOR PERSONAGEM: Jamie Miller, “Adolescência” (Netflix)
Este é o papel de estreia de Owen Cooper — repito, é o papel de estreia. Não tinha feito coisas pequenas até aqui, não tinha peças de teatro no currículo, nada. Foi o escolhido entre 500 candidatos e o que este papel exige dele parece uma coisa quase sobrehumana. As dicotomias que demonstra no episódio já descrito acima estão presentes nos capítulos anteriores e, mesmo quando já sabemos o que ele fez, a interpretação de Cooper deixa-nos divididos entre o choque e a empatia.

O ator (será que podemos chamar-lhe ator com um único papel?) consegue entender o turbilhão pelo qual a sua personagem está a passar e transmiti-lo para a câmara, ou se calhar é a sua incompreensão que embala a forma como se divide entre o medo e a raiva, a negação e o conformismo. Seja o que for — e mesmo que não o vejamos em mais nada relevante daqui para a frente —, este é um papel que fica para a história da televisão. Ainda assim, para ser justa, talvez devesse atribuir esta distinção a todo o elenco de Adolescência, sobretudo a família (interpretada por Stephen Graham, Christine Tremarco e Amelie Pease), que carrega a culpa de um crime de que não é responsável e que tem de fazer o luto de um filho vivo. Como é que se continua depois disto?
DESILUSÃO DO ANO: “The White Lotus”, temporada 3 (HBO)
“Faltou só um bocadinho assim.” Recorro a um famoso anúncio publicitário para resumir a terceira temporada de The White Lotus porque é basicamente isto, não há melhor descrição. Voltamos a ter um grupo de ricos a passar férias num resort paradisíaco. Os seus dramas pessoais interligam-se com os arcos narrativos do staff do hotel. Porém, desta vez, e durante oito episódios, estamos sempre à espera de qualquer coisa que nunca chega.

É o problema de estarmos mal habituados: as duas temporadas deram-nos humor negro, personagens inesquecíveis (assim de repente, não há como não referir Tanya e o manager do primeiro hotel, Armond) e umas quantas reviravoltas. Aqui temos cenários incríveis na Tailândia, um elenco classe média alta (de Walton Goggins a Michelle Monaghan, toda a gente quer fazer parte deste projeto), mas ficamo-nos por aí. Mais espiritual, menos sarcástica e muito mais lenta, deixa-nos a pensar se o formato já deu o que tinha a dar.
———————————————————————————————————
Susana Romana
MELHOR SÉRIE: “Pluribus”, Apple TV+
https://www.youtube.com/watch?v=hZX4IgShvg0
Pode uma série cuja primeira temporada ainda nem sequer chegou ao fim (à data da escrita deste artigo) ser a série do ano? Pode, se for uma criação de Vince Gilligan, realizador e showrunner de culto — expressão com possível duplo significado, dado o plot de Pluribus. Depois de Breaking Bad e da prequela Better Call Saul, Gilligan voltou aos seus tempos de guionista de Ficheiros Secretos para se dedicar a um bizarro projeto de ficção científica, do qual pouco ou nada se soube até à estreia. Uma Rhea Seehorn em topo de forma (há episódios de 45 minutos nos quais é a única interveniente) é Carol Sturka, uma autora de best sellers de qualidade que a própria considera duvidosa. Com problemas de álcool e uma recusa de assumir em público a sua relação lésbica com a agente, Carol é infeliz — mas assim se quer manter. Quando um vírus alienígena torna quase toda a população mundial feliz, a escritora faz todos os esforços para que o mundo volte ao normal, com dor, mentira e depressão. A realização é lindíssima e cheia de mensagens subliminares; os guiões são de uma precisão que nos deixa descansados que não haja um final à Lost. E Seehorn, se não ganhar todos os prémios de representação, bem pode pegar fogo à sede dos Emmy.
MENÇÃO HONROSA: “This Is Going To Hurt” (RTP Play)
https://www.youtube.com/watch?v=v4h8xbc0cPg
Baseada numa autobiografia de Adam Kay, ex-médico do SNS britânico, This Is Going To Hurt estreou-se originalmente em 2022, mas chegou este verão a Portugal via RTP Play. Enquanto o livro é sobretudo uma sucessão de episódios caricatos, dos divertidos aos trágicos, a série tem uma narrativa mais consequente, desenhada pelo próprio Kay. Passada nas urgências de obstetrícia de um hospital público, This Is Going To Hurt reflete sobre a saúde pública versus a saúde privada, mas acima de tudo aborda a saúde mental dos médicos de um modo particularmente marcante. Um bombom que não deve ficar perdido só por não estar numa plataforma mais óbvia.
MELHOR EPISÓDIO: “The Pediatric Oncologist”, da série “The Studio” (Apple TV+)
Em abono da verdade, quase todos os episódios de The Studio — a sátira aos estúdios de Hollywood criada por Seth Rogen, Evan Goldberg, Peter Huyck, Alex Gregory e Frida Perez — podiam ser o Melhor Episódio do Ano. Frutífero em cameos inesperados (até Scorsese, a fazer dele próprio, foi nomeado para um prémio de representação) e numa autoironia ácida que Hollywood parecia incapaz de ter desbragadamente, The Studio acompanha Matt Remick, o recém-nomeado diretor da produtora Continental Studios, um apaixonado por cinema a braços com uma indústria cada vez mais oca.

Neste episódio, Matt acompanha a namorada, Sarah, uma oncologista pediátrica, a um evento de angariação de fundos de um hospital — e passa o tempo todo a tentar convencê-la a ela e aos seus colegas médicos que trabalhar na indústria do entretenimento é tão ou mais importante do que aquilo que eles fazem. Os diálogos são acutilantes e fazem particular mossa a quem, trabalhando em televisão, vive rodeado de uma urgência que de facto faz mais sentido quando se está literalmente a salvar vidas.
MELHOR PERSONAGEM: Jackson Lamb (Gary Oldman), em “Slow Horses”, temporada 5 (Apple TV+)
Seria Jackson Lamb a minha Melhor Personagem se não fosse interpretada pelo excelso Gary Oldman? Talvez não, porque não é qualquer ator que consegue trazer vontade de torcer por um personagem literalmente nojento (há uma cena com uns pés, todos eles fungos e crostas, que me enoja até agora). Slow Horses, este ano na quinta temporada, é baseada nos livros de Mick Herron, uma saga com nove romances e cinco novelas curtas.

O nome é um trocadilho com a localização de Slough House, uma espécie de edifício de exílio para agentes do MI5 que falharam gravemente numa missão, mas não o suficiente para serem despedidos. O seu chefe é Jackson Lamb, alcoólico, inconveniente, flatulento, ofensivo, sarcástico — e absolutamente brilhante. Um anti-herói com prego a fundo no anti, responsável por algumas das melhores tiradas de diálogo do ano. Se quiser insultar colegas de trabalho numa próxima reunião, é ver Slow Horses com um bloco na mão.
DESILUSÃO DO ANO: “The Bear”, Temporada 4 (Disney+)
Vou proporcionar ao leitor uma espreitadela aos bastidores deste artigo. O nosso editor manda um mail a encomendar estes textos e pede aos vários intervenientes que mandem as suas respostas só para ele. Logo, há alguma probabilidade daquela que é para mim a Desilusão do Ano estar, sem eu saber, na lista de algum dos meus colegas como um dos acepipes televisivos de 2025. The Bear ganha prémios, The Bear é estiloso, The Bear é falado com entusiasmo por qualquer pessoa que passa mais tempo a ver televisão do que a socializar com seres humanos (culpada).

E The Bear tem inequívocas qualidades (já esteve na minha lista noutros anos), mas à quarta temporada transformou-se naquele amigo cool que está sempre a contar as mesmas histórias e a exibir um ar sofrido quando as suas desventuras não são assim tão entusiasmantes. Vi esta temporada como quem toma um antibiótico receitado pelo médico: até ao fim porque me disseram que era o correto a fazer, mesmo sem adorar. Mas agora: ó Carmy, queres ter um restaurante, tem; não queres, há baldes de cimento para acartar. Que chato, pá.
———————————————————————————————————
Susana Verde
MELHOR SÉRIE: “Severance”, temporada 2 (Apple TV+)
https://www.youtube.com/watch?v=QYVyTvnAsQw
Soará pedante, mas… a esta altura do campeonato ainda é preciso explicar? É que até me parece injusto comparar Severance com o resto que vi — e vi muito e muito bom. Mas não dá para combater a surpresa, nem ultrapassar o entusiasmo da novidade. A segunda temporada não ficou um milímetro que seja atrás da primeira. Guião, elenco, realização, luz, som, arte, música, tudo inatacável. E a sensação permanente de “O que é que é isto que eu estou a ver?”. Venha a terceira…
MELHOR EPISÓDIO: “Severance”, T2 EP 7: “Chikhai Bardo”
O episódio final Cold Harbor é inacreditável, fui buscar o queixo ao chão tantas vezes que fiz uma cova no tapete. Mas sou uma lamechas e não resisti a escolher Chikhai Bardo, que é sobre amor e a sua infinita capacidade de nos trazer uma felicidade que nos expande os pulmões e, no minuto a seguir, pode causar uma dor que nos tira a vontade de respirar de vez.

É sobre Gemma e a sua história com Mark, e é tudo muito, muito lindo e depois fica tudo muito, muito triste. E faz tudo muito, muito sentido.
MELHOR PERSONAGEM: Katherine Willer (Keri Russel), “A Diplomata” (Netflix)
Porquê? É uma obsessão recém-adquirida, varri 3 temporadas em menos de uma semana, mas não foi por isso. No geral, gostei muito d’A Diplomata, mas a embaixadora Katherine ganhou-me no particular. Não tem nada de perfeito e por isso é uma personagem perfeitamente construída.

Não é uma couvette de gelo de blazer, como a maioria das líderes femininas na ficção, e não é por ter emoções e sangue na guelra que perde o poder de decisão. E está sempre meio despenteada e eu senti-me vista.
DESILUSÃO DO ANO: “All’s Fair” (Disney+)
Há um episódio de Black Adder em que Adder diz: “Perdi amigos mais próximos do que o Darling Georgie, na última vez que fui desparasitado”. Eu queria muito conseguir uma coisa deste calibre para descrever All’s Fair, do meu ex-querido Ryan Murphy, sem recorrer ao vernáculo. Direi que é tudo mau, é tudo péssimo e coitada da Glenn Close.

Preferia repetir a minha colonoscopia a voltar a ver All’s Fair. Não recomendo nenhuma das duas experiências, mas ao menos estava anestesiada na primeira.