Esta é uma lista feita de música popular, de um extremo do rock’n’roll aos limites da eletrónica dançável, das terras dos versos coloridos mais cantaroláveis ao fim dos territórios dos mais melancólico dos trovadores solitários. Juntámos paixões nascidas (ou continuamente alimentadas) neste 2025, fizemo-las rodar mais uma vez e apresentamos as contas finais de um ano em que a revolta — mais íntima ou mais física — foi o tom dominante.
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André Almeida Santos
OS MELHORES ÁLBUNS DE 2025:
Traveling Light
Rafael Toral
(Drag City)
No ano passado, muita gente ficou a conhecer o nome de Rafael Toral, tanto cá como lá fora, graças a Spectral Evolution, o álbum que marcava o seu regresso aos discos ambient de guitarra. Traveling Light existe na sequência, continuando a explorar standards de jazz com uma amplitude imensa. O que muda? Aqui o som é imenso, quase que se ouve uma orquestra a sair da sua guitarra e há algo luminoso que se abre depois de ultrapassado o fascínio com o álbum de 2024. (Bandcamp)
Demilitarize
Nazar
(Hyperdub)
A vulgarização do que é entendido como música de dança e eletrónica tem aburguesado o que é entendido como tal e diminuído o seu sentido de urgência. Felizmente, há produtores como Nazar e álbuns como Demilitarize, onde a música surge como ação e a sensação contínua de cair no abismo, ao ouvi-la, é aquilo que se precisa para sentir que a música contemporânea ainda pode agitar as águas, que ainda nem tudo foi feito e que é escusado acomodarmo-nos com essa ideia. (Spotify/Youtube)
Revenge Of The Speaker People
Jung An Tagen
(Editions Mego)
Se o austríaco Jung An Tagen tivesse criado nos anos 1990s, era laureado como um dos mais visionários da eletrónica. Hoje, as cabeças pensantes não estão viradas para este tipo de música abstrata e angular, onde techno, dub e glitch se misturam para um destino incerto. Revenge Of The Speaker People é um novo capítulo sobre música sem mapa, que nos faz partir para a aventura, para a descoberta, onde o novo não é bafiento, apenas algo desconhecido. (Spotify/Youtube)
Alegria Terminal
Vaiapraia
(Tons To Tell)
A música de (Rodrigo) Vaiapraia dá vontade de descobrir. O tempo passa e já vão mais de dez anos desde o seu primeiro lançamento, cinco após 100% Carisma, que lhe deu maior visibilidade, apesar de nessa altura já não estar a viver em Portugal, tal como sucede agora. Alegria Terminal é punk como deve ser, com uma vontade de existir e de persistir enquanto der, depois parte-se para outra. Essa força fulminante na música de Vaiapraia regista alguma da melhor música cantada em português dos últimos dez anos. (Spotify/Youtube)
caroline 2
caroline
(Rough Trade)
O desencanto por modas é rápido e suave e sabia-se que aquela coisa grandes ensembles britânicos que simulavam o pós-rock não era coisa para durar. De salutar, portanto, que os caroline resistiram à moda e, melhor, reforçaram tudo aquilo em que acreditavam no primeiro álbum. Este segundo é uma maravilha de experimentação na pop, onde se sente um desejo de criar música com propósito e de a fazer valer para lá das convenções do momento. (Spotify/Youtube)
2025 NUMA CANÇÃO:
Coldplay Cover
caroline
(Do álbum caroline 2, Rough Trade)
Obviamente que não é uma cover dos Coldplay nem uma tentativa de canção à maneira dos Coldplay. Mas… também o é, à sua maneira. Por isso, há umas três canções dentro de Coldplay Cover, coladas, sobrepostas, atropelando-se, num sentido único. Tudo em maravilhosos quatro minutos: épico, redentor e bonito. Talvez o título faça muita gente ir ouvir os caroline. Deviam. Também dá para começar essa aventura em Tell Me I Never Knew That, com Caroline Polachek. Mas sugerir Coldplay Cover é mais chamativo. (Spotify/Youtube)

António Moura dos Santos
OS MELHORES ÁLBUNS DE 2025:
You’re Weird Now
Guerilla Toss
(Sub Pop)
Este pode não ser o melhor álbum de 2025, mas é certamente candidato ao prémio de “mais injustamente ignorado” — especialmente tendo em conta que foi lançado pela Sub Pop e produzido por Stephen Malkmus, sendo que o cérebro dos Pavement participa inclusive em mais do que uma canção. Provando um pouco da estranheza de que nos acusa no título deste disco, o quinteto vai do no wave tresloucado de Psychosis Is Just a Number à synth pop de CEO of Personal & Pleasure, passando por psicadelismo, noise e pós-punk sem nunca perder o esteio apesar de toda esta variedade. Aliando dissonância a passagens particularmente orelhudas, os Guerilla Toss conseguem um álbum particularmente divertido, mesmo que muito do que cantam aponte para o ennui e para a sensação do desastre iminente que é viver em 2025. (Spotify/Youtube)
The Spiritual Sound
Agriculture
(The Flenser)
Tivesse este álbum sido lançado em 2013 e metade da comunidade do metal estaria a perder a cabeça com a ideia de misturar black metal com shoegaze, indie rock e post-hardcore. Essa fatura calhou, na verdade, aos Deafheaven, que andaram para os Agriculture poderem correr. Hoje já vivemos num mundo onde The Spiritual Sound pode ser apreciado pelo que é: um álbum que parte do metal extremo (e se imbui da sua intensa vitalidade) para explorar até onde a música pesada pode chegar. Basta ouvir a faixa inicial, My Garden, que varia entre furiosas descargas e momentos etéreos. É um truísmo, sim, mas este álbum leva-nos numa viagem que começa mais intensa (o lado A é certamente o mais feroz) e termina em contemplação (onde chegamos até a ouvir passagens folk), inspirada por uma procura espiritual que toca em temas como o budismo (não é por nada que um dos temas se chama Bodhidharma). “Isto não é música de fundo. Isto não é para criar ambiente. The Spiritual Sound é música que questiona”, defende o quarteto, e só podemos concordar. (Spotify/Youtube)
Acetate
Hetta
(Lovers & Lollipops)
No espaço de apenas três anos, os Hetta conseguiram tornar-se num caso sério no que toca à música hardcore/punk/derivados no nosso país. O que fazem não é completamente inaudito — antes deles já tinham vindo bandas como Adorno ou If Lucy Fell —, mas a forma assincrónica como revitalizaram o screamo português está à vista e Acetate mostra-o em todo o esplendor. O quarteto do Montijo não faz música fácil de ouvir nem quer — é um ataque aos nossos sentidos aquilo a que nos querem sujeitar —, mas neste álbum de estreia está mais presente a ideia de canção, há até refrães orelhudos e passagens memoráveis por entre o caos de riffs, martelada rítmica e berraria. De qualquer das formas, o formato de estúdio é apenas um pálida simulacro do que os Hetta são realmente capazes: estes meninos é para ver ao vivo — e tentar sobreviver. (Spotify/Youtube)
…Is Your Friend
Drain
(Epitaph)
Às vezes tudo aquilo de que precisamos é de uma coisa que não reinventa nada mas é extremamente bem feita e aquece-nos a alma, como a canja da avó ou um livre direto que entra junto ao ângulo. Para mim, este ano, foi o caso deste álbum dos Drain, dos mais finos exemplares de crossover (a mistura entre hardcore punk e thrash metal) que chegou aos meus ouvidos este ano. Há riffs que nunca mais acabam e fúria desabrida, mas também groove e balanço que faz abanar o corpo — a faixa de abertura, Stealing Happiness from Tomorrow, é demonstrativa desse equilíbrio irresistível. Esse tema, além de outros como Scared of Everything and Nothing e Who’s Having Fun?, também foram raios de sol num ano tão escuro, pela positividade e perseverança que esbanjam: “And through it all, I survive // Strong heart with a stronger mind //The only thing worse than fear // Is having none ’cause you don’t care”. (Spotify/Youtube)
It’s a Beautiful Place
Water From Your Eyes
(Matador Records)
Este álbum merecia estar neste top apenas por Playing Classics, uma canção tão genial que só não está destacada à parte porque houve outra com a qual obcequei ao longo do ano e porque os Water From Your Eyes não precisam de ocupar dois lugares da minha lista. Aliás, torna-se difícil dedicar mais palavras ao projeto de Nate Amos e Rachel Brown sem recorrer a auto-plágio depois do concerto que deram este mês em Lisboa e cujas considerações sobre o mesmo podem ser lidas aqui. Tal como outros exemplos desta lista, este disco para mim singrou por juntar elementos tão díspares como disco e house com shoegaze e rock grungy de forma a criar canções memoráveis e não mantas de retalhos musicais, seja no júbilo incerto de Nights in Armor ou no terno sufoco à My Bloody Valentine de Born 2. Se nada disto vos convencer, por amor de Deus, ouçam pelo menos a Playing Classics. (Spotify/Youtube)
2025 NUMA CANÇÃO:
Harvest Sky
Oklou feat. Underscores
(do álbum choke enough, True Panther Sounds)
Marylou Vanina Mayniel, a artista francesa que assina com o nome artístico Oklou, admitiu numa entrevista que uma das suas coisas favoritas “é ouvir os sons das pessoas a festejar à distância” — isso está bem patente no seu álbum de estreia, choke enough, e em particular nesta canção. Eurodance folclórico para passar uma galeria de arte, trance medieval sob o efeito de benzodiazepinas, rave music para passar numa masmorra de um castelo: este tem sido o tipo de caracterizações coloridas empregues para descrever este tema, inspirado pelos sons que ouvia na sua infância nas celebrações da Festa de São João. Entre a sedação e a euforia chega-se a uma fantástica música de hyperpop, onde Oklou entrelaça a sua voz com a de Underscores. (Spotify/Youtube)

Cláudia Marques Santos
OS MELHORES ÁLBUNS DE 2025:
The Ephemeral
Evols
(Black Train/8mm)
Quarto disco da banda sediada no Porto, é de dar atenção a este trabalho que intercala rock psicodélico com alguns acordes pop. Mas o mais interessante — e difícil de fazer resultar — é integrar neste universo sonoridades vindas do (free) jazz como é a do saxofone de Rodrigo Amado e, ainda, juntar-lhe vozes da tradição indie. Temas abertos, expansivos, tão refrescantes. (Spotify/Youtube)
Traveling Light
Rafael Toral
(Drag City)
Se, nos tempos que correm, do que necessitamos é de alguns momentos que sejam de leveza de espírito, de sonhar percorrer universos estelares sem qualquer peso às costas, simplesmente ir sem olhar para trás, este novo disco de Toral é o zénite dessa experiência. E ir é apenas percurso, é estar, é flutuar, sem qualquer direção apontada. O epíteto do jazz. (Bandcamp)
Hexed!
aya
(Hyperdub)
Segundo disco da britânica aya, tudo o que lhe conhecemos do seu universo elevado a um novo patamar — a juventude e a vitalidades pautadas pelo desencaixe nas normas, pela adição e as drogas, pela tecnologia e a sexualidade, pelo descontrolo e desespero, pela necessidade da evasão sem ter para onde. Emaranhada numa eletrónica experimental e futurista, a intensidade, sempre a intensidade, e não saber o que fazer com ela. (Spotify/Youtube)
45 Pounds
YHWH Nailgun
(AD 93)
Álbum de estreia de um quarteto sediado em Nova Iorque, 45 Pounds traz-nos um mundo sonoro novo e deliciosamente avariado. Do pós-punk ao hardcore, rasurados por elementos desconetores eletrónicos e momentos instrumentais disjuntivos, os temas — sempre expansivos — dos YHWH Nailgun são um bálsamo para os amantes da sonoridade noise, que encontra no ensurdecimento do som produzido um lugar de conexão com o eu interior. (Spotify/Youtube)
Allbarone
Baxter Dury
(Heavenly)
Tem o selo, e com razão, de ser o melhor disco de Baxter Dury, uma sublimação de todo o percurso discográfico feito até ao momento. As letras das canções estão cada vez mais cáusticas, mas o que têm de mordaz têm igualmente de radiografia àquilo que temos de absurdo enquanto sociedade, da reprodutibilidade oca dos gestos à artificialidade cénica dos lugares — a sensação de corrermos sem sairmos do mesmo lugar. Tudo ao som do denominado hyperpop, a fusão muito dançante de pop, eletrónica e hip hop. (Spotify/Youtube)
2025 NUMA CANÇÃO:
Allbarone
Baxter Dury
(Do álbum Allbarone, Heavenly)
Um clássico instantâneo, direto para a pista de dança. Não sem estar acompanhado à voz por um verdadeiro poeta, de jinga street-smart, munido daquele sotaque inglês próprio da classe trabalhadora vinda especificamente da zona Este de Londres, que faz rimar as palavras e lhes subtrai algumas consoantes. (Spotify/Youtube)

Filipa Vaz Teixeira
OS MELHORES ÁLBUNS DE 2025:
Um Gelado Antes do Fim do Mundo
Capicua
(Universal Music Portugal)
Capicua regressou aos álbuns em 2025 com uma obra em que se arrisca mais no canto e no encanto. As suas agulhas continuam apontadas ao patriarcado e ao neo-liberalismo, à monocultura e ao machismo tóxico, mas em vez de punho cerrado da primeira à última faixa, a rapper muniu-se da subtileza do canto dos pássaros e dos poetas para, no abstrato da arte, se tornar mais completa e agregadora. O encantamento como caminho para a empatia é o sabor deste gelado. Mas que ninguém se engane: no meio da doçura, há fúria e trovões. Com Capicua, não há partos sem dor. (Spotify/Youtube)
LUX
Rosalía
(Columbia/Sony)
Esteticamente, Rosalía não inventou a roda com Lux (Björk não aparece no disco por acaso). O álbum está cheio de elementos ricos, como um mole mexicano, pecando apenas por alguma falta de poder de síntese na reta final. Porém, o grande feito da artista espanhola — a quebrar sucessivos recordes de streaming — é o de meter o mainstream, demasiadas vezes a salivar pela próxima estrela Made in Disney, a transcrever passagens em siciliano no Google translate e a consultar ditas pessoas eruditas sobre o significado verdiano de Berghain (e, já agora, a tirar o mofo a essas mesmas pessoas). Ao fazer isso, baralhou as regras do jogo, jogando, precisamente, o jogo da indústria pop. No fundo, Lux está para Rosalía como Sex para Madonna e isso não é coisa pouca. Bendita sois vós entre as mulheres — e bendita Carminho, por dar alma a Memória. (Spotify/Youtube)
Honey from a Winter Stone
Ambrose Akinmusire
(Nonesuch Records)
Poucos conseguem conceber uma peça tão bem estruturada e, ainda assim, orgânica como o trompetista e compositor Ambrose Akinmusire. O jazz, no qual se funde a sua formação musical, não é um pai ditador que lhe pede purismos, pelo contrário: é o ponto de partida para abarcar tantas outras manifestações, que passam pelo hip-hop, música de câmara e spoken word. Ambrose fá-lo sem a preguiça das fórmulas fáceis e este seu último álbum, um auto-retrato e um retrato das lutas da comunidade negra norte-americana, é peremptório nisso. Daí não surpreender a nomeação para os Grammys 2026 na categoria de Melhor Álbum de Jazz Alternativo. Merece levar o gramofone para casa. (Spotify/Youtube)
Handycam
Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro
(Cuca Monga)
Em outubro, Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro apresentaram-se no MIL, em Lisboa, e não precisaram de mais de meia dúzia de acordes para a plateia perceber que aquilo era papo sério. Ela, paulista e cara do projeto indie-rock Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo; ele, baiano e membro de uma banda que levita no lado psicadélico da vida, os Tangolo Mangos. A união de esforços resultou num álbum que mistura sotaques, línguas e influências, de Mutantes a João Gilberto, de Novos Baianos a Ana Frango Elétrico. Em 36 minutos enxutos, o disco fala de estilhaços de bombas, estilhaços de coração, dos lugares de paz no meio do caos. Música brasileira total, do passado, do presente e do futuro. (Spotify/Youtube)
Nilam
Ganavya
(LEITER)
Com Daughter of a Temple, considerado um dos melhores discos de 2024 por várias publicações especializadas, Ganavya rendeu em definitivo a crítica. Veio a seguir Nilam, co-produzido por Nils Frahm, e uma nomeação para os Grammys 2026, tal e qual o seu antecessor. Um e outro revelam a raridade desta artista, que conjuga as tradições da música canática, do sul da Índia onde cresceu, com as do jazz, moldando melodias voláteis, assentes numa simplicidade de arranjos que transcendem noções de espaço-tempo. O canto de Ganavya é uma oração que vem da Terra e tem em si o potencial infinito do amor, enquanto força que nutre e regenera. Escutemos Nine Jeweled Prayer, canção doce interpretada ao lado dos pais, fechemos os olhos e oremos. (Spotify/Youtube)
2025 NUMA CANÇÃO:
MIL€
Svsto
(do álbum CRISIS, Primavera Labels)
Para quem tinha saudades das Las Bisctecs (As bifas), a estreia a solo de SVSTO foi a melhor coisa que podia ter acontecido em 2025. Com CRISIS, Carla Parmenter leva o “eletro-disgusting” do projeto que partilhou com Alba Rihe para cenários mais obscuros, carregando a pé fundo no techno. MIL€ fala sobre terrenos que outrora foram campos e agora são propriedade dos bancos e de outras crises habitacionais, ambientais, anais e sabe-se lá que mais. É um mundo todo ao contrário a ser vomitado na pista de dança, qual Paraíso ou Teatro de Dionísio, na esperança de nos ver renascer um pouco mais animais. (Spotify/Youtube)

João Bonifácio
Getting Killed
Geese
(Partisan Records)
A chegada súbita dos Geese ao mainstream assemelha-se ao irromper de um relâmpago: já havia nuvens no céu, mas ninguém esperava mais do que chuva até ao raio atravessar o ar. As nuvens desta imagem eram os discos anteriores – a urgência de Projector, o caos de 3D County – que no recém-lançado Getting Killed são transformados num carnaval nervoso de riffs que mordem, em soul alucinada e em psicadelismo delirante. O que mudou tudo foi Heavy Metal, o disco que Cameron Winter, o líder dos Geese, editou a solo antes de Getting Killed – de súbito, Winter e os Geese não eram mais um nano-mini-culto. Quando demos com a loucura explosiva de Trinidad, a primeira canção de Getting Killed era óbvio que eles iam ser enormes – e depois veio o disco todo, com Taxes e 100 Horses e Husbands e finalmente os gen Z têm uma banda rock só deles, isto se esquecermos que toda a gente, de Patti Smith e Bruce Springsteen, os adora. (Spotify/Youtube)
Bleeds
Wednesday
(Dead Ocean)
Quando MJ Lenderman lançou o seu último disco a solo, meia dúzia de pessoas descobriram que ele fazia parte de uma banda chamada Wednesday e ficaram alegremente surpreendidas: não é que estavam ali grandes discos? Nos Wednesday, Lenderman é apenas o guitarrista: a principal compositora é Karly Hartzman, que se separou de MJ pouco antes da escrita de Bleeds – e isso nota-se, nota-se o sangue na fita magnética. Karly destila dor com o vigor de quem não tem medo de mostrar as cicatrizes, enquanto funde country, grunge, shoegaze e indie-rock que eclode em refrões explosivos, com as feridas bem abertas. De Wound Up Here (By Holdin On) a Elderberry Wine, cada nota é um valente pontapé no coração – um pontapé sujo e cheio de poesia. Crescer é doloroso mas a dor por vezes transforma-se num refrão com um riff perfeito. (Spotify/Youtube)
LUX
Rosalía
(Columbia/Sony)
Há pessoas que não conseguem estar quietas muito tempo no mesmo lugar: um dia estão a cantar flamenco, no dia seguinte a misturá-lo com beats hip-hop e reggaeton, a seguir unem todos os estilos eletrónicos e latinos e depois resolvem criar uma catedral simultaneamente espiritual, sinfónica e eletrónica. Que é o que Rosalía (a pessoa aqui descrita) fez no recente LUX: transformar a pop num mosaico sónico de vozes que almejam o céu, beats hip-hop e drama operático. Se Björk, que colabora no disco, fosse latina e tivesse vinte e tais anos, talvez fizesse LUX, talvez caminhasse, como Rosalía, no abismo com vista para a história da música experimental e latina com a segurança de uma deusa modernista. LUX não é um conjunto de canções – é uma epifania revelada por uma diva. (Spotify/Youtube)
Essex Honey
Blood Orange
(RCA/Domino)
A maior parte das pessoas que conhece o nome Dev Hynes conhece-o enquanto autor de Losing you (interpretado por Solange) e Everything is embarassing (interpretado por Sky Ferreira), duas grandes canções pop de r’n’b digital. Quando muito ouviram Time Will Tell, a canção mais Prince alguma vez escrita por outra pessoa que não Prince. Mas Hynes também edita sob o nome Blood Orange e os Blood Orange são, há anos, das melhores experiências sónicas que o mundo nos tem oferecido. Em Essex Honey, Hynes torna-se mais pessoal que nunca, e a eletrónica e os violoncelos estão ao serviço de uma meditação visceral sobre as dores que ficam após crescer em bairros duros. Camadas de piano, grooves quebrados e falsetes evocam uma beleza melancólica que brilha nas ruínas de um ego frágil. Ouvir Essex Honey é como espreitar para dentro de um coração no exato instante em que ele bate de forma errática e sofrida – e é comovente. (Spotify/Youtube)
Willoughby Tucker, I’ll Always Love You
Ethel Cain
(Daughters of Cain)
Não é fácil imaginar literatura a ser transformada em música, mas de certa forma é o que Ethel Cain faz em Willoughby Tucker, I’ll Always Love you: talvez se Faulkner ou Flannery O’Connor fossem músicos tivessem escrito um disco assim, com os lamentos, suspiros e tragédias de uma América gótica que se recusa a morrer. Em parte folk, em parte slowcore, Willoughby Tucker, I’ll Always Love You é todo coração ferido: Janie e Fuck Me Eyes são hinos de paixão e ruína que esmagam com ternura pelos aleijados da vida. É cinema de estrada num buraco negro emocional, onde cada acorde carrega poeira e religião e história e cada silêncio esconde uma tragédia. Um tremendo disco. (Spotify/Youtube)
UMA CANÇÃO PARA 2025
Mio Cristo Piange Diamanti
Rosalía
(Do álbum “LUX”, Columbia/Sony)
Milhares de canções são editadas todos anos, mas quando chegamos a esta altura não é necessário consultar o Excel ou a base de dados: o coração sabe qual a mão cheia de canções que nos faz ferver o sangue. Taxes dos Geese, Elderberry Wine dos Wednesday, Look at You de Blood Orange ou Janie de Ethel Cain ameaçam o trono, mas só Mio Cristo Piange Diamanti ascende ao dito. Nenhuma outra respira assim: começa só com piano e voz, antes de um subtil pulsar eletrónico ferido começar a fervilhar; a voz Rosalía desdobra-se em prantos: a voz sussurra, altera-se, a orquestra ascende, o canto é uma prece rasgada, que pausa antes de uma subida dolorosa e comovente, para depois se despedaçar num lamento sobre fé perdida e um desejo que não se apaga. Um dia falaremos de Mio Cristo Piange Diamanti como falamos hoje de Estranha Forma de Vida, de Amália – como o momento em que uma diva se tornou deusa. (Spotify/Youtube)

José Carlos Fernandes
OS MELHORES ÁLBUNS DE 2025:
Tether
Annahstasia
(Drink Sum Wtr)
Um álbum de estreia que soa como o culminar de uma carreira de décadas. Os arranjos estão reduzidos ao essencial, e é essa a decisão acertada: quando se dispõe de uma voz como a de Annahstasia Enuke, não faz sentido desviar as atenções dela. Há quem a compare a Nina Simone e a Tracy Chapman, mas nenhuma delas se atreveu a colocar a nu o seu coração como o faz Annahstasia. Se ainda restarem no mundo abencerragens que escutam álbuns de fio a pavio, no escuro, sem fazer mais nada, fica um aviso: a intensidade de Tether é intoxicante. (Spotify/Youtube)
Animaru
Mei Semones
(Bayonet)
Os guardiões da pureza da raça não percebem nada de biologia nem de história. Nem de música. Dois dos melhores discos de 2025 foram engendrados pela miscigenação: Tether, da nigeriana-americana Annahstasia, e Animaru, da nipo-americana Mei Semones. Todas as canções de Animaru deslizam, sem atrito, entre as línguas japonesa e inglesa e a componente musical é uma fluida e improvável fusão de bossa nova, jazz, math rock, indie pop e música de câmara. Semones, guitarrista sobredotada, rodeou-se de quatro jovens do seu gabarito em violino, viola, contrabaixo e bateria, mas neste quinteto de virtuosi ninguém comete a deselegância de tocar uma nota supérflua. (Spotify/Youtube)
Big Dog
Bria Salmena
(Sub Pop)
A canadiana Bria Salmena levou algum tempo a encontrar-se: foi vocalista dos FRIGs, fez coros para Orville Peck, lançou dois discos de covers de música country e revelou-se, finalmente, com Big Dog. Este foi escrito a meias com Duncan Hay Jennings, seu parceiro nos FRIGS, e conta com o baterista desta banda, mas há um apreciável ganho de sofisticação e variedade face ao post-punk/grunge áspero e frontal dos FRIGs. Salmena e Jennings não cortaram com o passado – mantém-se a atmosfera crepuscular e a abrasão regressa nalgumas canções – mas abriram espaço para prodígios como o country/folk/indie planante de Twilight. (Spotify/Youtube)
Planting by the Signs
S.G. Goodman
(Slough Water/Thirty Tigers)
O género designado como “Americana”, onde se fundem as várias músicas tradicionais dos EUA, está infestado de música soporífera e satisfeita com a repetição ad nauseam de clichés. Porém, se os ingredientes da música de S.G. Goodman são indiscutivelmente os da “Americana”, a cantora/compositora consegue imprimir-lhe um cunho pessoal e irresistivelmente hipnótico. No terceiro álbum, Goodman não altera os parâmetros definidos em Old time feelings e Teeth marks, mas realça-lhe as sombras e a pungência. (Spotify/Youtube)
If You Asked for a Picture
Blondshell
(Partisan)
Blondshell (Sarah Teitelbaum) não está na música para fazer amigos. Na canção de abertura do seu segundo álbum, Thumbtack, explica que atura um namorado, que compara a um pionés cravado no seu flanco, por ele a distrair das suas obsessões, que são ainda mais penosas. O rapaz da segunda canção é tão destituído de qualidades que ela nem sequer tem coragem de dizer à irmã que andam juntos e o da terceira canção é um fracalhote, a quem ela deixa claro que não irá fazer de sua mamã. Na quarta canção, o alvo passa a ser a sua mãe, a quem pergunta “O que é um julgamento justo do trabalho que fizeste? Alguma vez te arrependeste dele?”. Ah, o caminho que a música pop fez desde a cândida era dos Beatles e dos Beach Boys… (Spotify/Youtube)
2025 NUMA CANÇÃO:
Villain
Annahstasia
(Do álbum Tether, Drink Sum Wtr)
Villain pode, à primeira vista, parecer um ajuste de contas com um ex-amante altamente tóxico e um exercício de catarse destinado a retirá-lo da circulação sanguínea. Mas, também é possível que o “tu” que Annahstasia interpela seja o “inimigo interno”, a voz hipercrítica que faz de “juiz e de júri”, instila sentimentos de dúvida e insegurança e lhe atribui sempre o papel de “má da fita”. A canção começa como uma delicada malha minimal-repetitiva de guitarras acústicas e, puxada pela voz de Annahstasia, converte-se, numa torrente imparável. (Spotify/Youtube)

Luís de Freitas Branco
Getting Killed
Geese
(Partisan Records)
Há 25 anos, mais mês menos mês, ouvi pela primeira vez, em frequência modulada, uma certa banda nova-iorquina, uma mainça de putos cheios de tiques, com penteados e casacos de cabedal metricamente coçados, que os meus pais, do alto da sua condescendência, desconsideraram como revivalismo. The Strokes era o nome. Chegamos a 2025, o ano em que os Gesse — outra banda de putos nova-iorquinos, com os mesmos tiques, as mesmas guitarras — invadem as frequências da miudagem de hoje, quase virgem de rock’n’roll. Agora sou eu, do alto da minha condescendência, que sentencio estas canções como revivalismo, e ainda, com a experiência de quem já viu este filme, que não há história mais bonita. Aproveitem, miúdos. (Spotify/Youtube)
LUX
Rosalía
(Columbia/Sony)
Há o melhor álbum do ano, uma seleção pessoal e subjetiva, e depois há “O Álbum do Ano”, a centrifugadora de expectativa, marketing e crítica avassaladora, uma escolha incontestável. E “O Álbum do Ano” pertence obviamente a Rosalía, ainda mais neste 2025 onde a restante pop perdeu por falta de comparência — salve-se os gracejos de Addison Rae e Sabrina Carpenter. O problema de “O Álbum do Ano” é a ausência de novidade para o pobre coitado do crítico musical que vos escreve. Que a voz, canções e arranjos são sublimes? Que é uma viragem musical e temática drástica como poucas vezes ouvimos a este nível de popularidade? É tudo verdade, deixem-nos em paz, de preferência na companhia de LUX, a bebericar sauvignon blanc. (Spotify/Youtube)
Essex Honey
Blood Orange
(RCA/Domino)
O condado de Essex, a sudeste de Inglaterra, uma terra de pastagens à beira-mar, é a origem improvável do urbano Blood Orange, nome de baptismo Devonté Hynes, o músico que se revelou, como não podia deixar de ser, nos clubes de Nova Iorque. O novo álbum deste prodígio do R&B, Essex Honey, espelha esta identidade de contrastes, desde a nascença: o músico e produtor solitário, de canções de confessionário, que abre o seu quarto ao resto do mundo, com colaborações com Lorde ou Caroline Polachek; a repetição de motivos musicais que se dirigem, repentinamente, a íngremes curvas melódicas; o homem escondido no meio da multidão. Neste ano que perdemos D’Angelo, fiquem descansados, de Blood Orange, a Dijon e Justin Bieber, o futuro do R&B está bem entregue. (Spotify/Youtube)
New Threats from the Soul
Ryan Davis & the Roadhouse Band
(Tough Love)
Nestes dias de fazer contas ao ano, o meu serviço de streaming concluiu, sabiamente, que a minha idade musical é a de um septuagenário, tão-só pelas horas infindáveis a ouvir cantautores de country marginal da década de setenta, na família de Townes Van Zandt ou Guy Clark. É natural que, dada esta sensibilidade gentriática, venha recomendar a country esquisita de Ryan Davis, rapaz de Louisville que compõe canções de dez minutos sem rumo aparente, com uma ingenuidade desarmante: “Talvez o amor que tivemos não fosse o que fez o mundo girar, mas antes algo mais parecido, na verdade, ao que faz as vacas deitarem-se”. Ryan Davis não põe o mundo a girar, é tão banal como uma vaca a deitar-se. E, por vezes, isso basta. Deitemo-nos. (Spotify/Youtube)
Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir
Carminho
(Sony)
“O barco vai”. O primeiro poema cantado por Carminho no portentoso novo álbum é um aviso à navegação: “Português vai, português vem, o corpo cai, o corpo dói”. Carminho vai, atravessa o mundo, canta o erguer e as derrocadas da vida, e retorna à casa de fado, numa placitude desorientadora. Este é um detalhe extraordinário: sorrateira, ano após ano, a fadista rompeu da acanhada Taverna do Embuçado, em Alfama, e chegou ao palco colossal que é o novo álbum de Rosalía, mantendo o pé no mesmo chão, aquele soalho rangente, de escalas menores e ritmos lentos, que é o nosso fado. E aproveito o embalo para aconselhar outros navegadores lusitanos, mais a resistir que a morrer de amor: Viva La Muerte, dos Mão Morta; Ferry Gold, da Garota Não; Capítulo Experimental, do DJ Narciso. (Spotify/Youtube)
2025 NUMA CANÇÃO:
Sugar On My Tongue
Tyler, The Creator
(Columbia/Sony)
Não é preguiça, são factos: permitam-me retornar às conclusões do meu serviço de streaming, que apontou esta canção como a mais ouvida em 2025. Neste ano em que os despojos do mundo do hip hop foram divididos em dois — no outro lado, o frenesim cocainado dos Eclipse —, Don’t Tap the Glass é o primeiro álbum do músico descomplexado, com dez canções bem oleadas, de dança corpo no corpo. Sugar On My Tongue é a cereja em cima do bolo, o docinho que nos derrete, como açúcar na boca. (Spotify/Youtube)

Ricardo Farinha
LUX
Rosalía
(Columbia Records)
Partindo da dor e do desgosto para se entregar à espiritualidade da fé cristã, Rosalía ergueu uma obra ímpar que promete ter um impacto duradouro. Ao mesmo tempo pop avant-garde e peça de arte sacra, a mais ousada das estrelas mainstream fez um disco orquestral, com arranjos épicos que elevam letras transcendentais de purga e renascimento. A indescritível voz de Rosalía continua a ser o seu melhor instrumento, mas acima de tudo destaca-se a visão artística de quem veio revolucionar — uma vez mais — o presente e o futuro da música. (Spotify/Youtube)
The BPM
Sudan Archives
(Stones Throw)
Se Rosalía abraçou o divino para lidar com as angústias interiores, Sudan Archives resolveu fazê-lo na pista de dança. Ao terceiro álbum, a violinista, compositora e cantora norte-americana leva-nos numa viagem eletrónica inspirada na house de Chicago e no techno de Detroit, estados onde tem raízes familiares. A artista deu vida a híbridos frescos e experimentais, ambiências vermelhas e negras dignas de uma noite urgente de clube — entre o amor próprio, o ressalto emocional e as fragilidades mentais, da hiper-independência à auto-exploração, num imaginário tecnológico movido pela sua voz sedosa, o seu virtuoso violino e um mundo inteiro de sons que cabe num sampler. (Spotify/Youtube)
Lotus
Little Simz
(AWAL)
Não há como fugir a um certo padrão: também Little Simz fez um disco marcado por uma separação, neste caso do seu amigo de infância e principal colaborador criativo, o produtor Influ, com quem acabou numa inesperada batalha judicial. Admitindo que ponderou mesmo desistir da carreira, acabou por canalizar todos os seus tormentos para Lotus. Música catártica e confessional, em que a voz surge envolvida por nuances jazz, rock ou afrobeat, expandindo o imaginário musical e artístico de uma das melhores rappers da sua geração. (Spotify/Youtube)
O Mundo Dá Voltas
BaianaSystem
(Máquina de Louco)
Quatro anos depois, um dos projetos mais interessantes do Brasil voltou com um novo disco. Na salada tropical dos BaianaSystem, cabem muitos aromas e sabores, mas tudo vai desaguar na ancestralidade afro-brasileira entranhada na cidade baiana de Salvador. Não sendo o disco mais arriscado ou vanguardista do grupo, demonstra uma maturidade na construção das canções e na qualidade da produção — com um alinhamento que inclui contributos de Gilberto Gil, Seu Jorge, Emicida, Anitta, Melly, Dino D’Santiago ou Kalaf. (Spotify/Youtube)
DeBÍ TiRAR MáS FOToS
Bad Bunny
(Rimas Entertainment)
A trajetória de Benito Ocasio tem sido ascendente desde o início, mas deu um impressionante salto quântico com o álbum que lançou em janeiro. Disco mais ouvido do ano no Spotify em todo o mundo, DeBÍ TiRAR MáS FOToS é uma carta de amor a Porto Rico, nação do reggaeton e território tantas vezes subjugado — até pelo estatuto político que mantém em relação aos EUA, questões sensíveis e que mexem com a identidade cultural local a que Bad Bunny não foge neste disco. O cantor incorpora outros géneros tradicionais porto-riquenhos no seu pop reggaeton que, a par da música de outros nomes, tem contribuído para elevar a cultura pop latina e quebrar definitivamente com a hegemonia cultural anglo-saxónica. (Spotify/Youtube)
2025 NUMA CANÇÃO:
Victory Lap
Fred Again.., Skepta e PlaqueBoyMax
(Do álbum USB, Atlantic/Warner)
Num ano importante para o rap britânico — com a consolidação da nova estrela Central Cee e novos discos de Dave, Loyle Carner, Kae Tempest, Jim Legxacy, Kofi Stone, Knucks, Kojey Radical ou Little Simz — eis que um dos maiores êxitos vem de um projeto que junta um dos principais rappers do panorama, Skepta, ao produtor-estrela Fred Again… A dupla assinou em conjunto um EP de rap veloz e eletrónico, à boa maneira do Reino Unido, mas se há faixa que se destaca e que tem sido banda sonora em vários pontos do mundo é Victory Lap — que se inicia com os versos emprestados de Doechii e inclui outros contributos, como o de PlaqueBoyMax. Entretanto, o fenómeno ganhou outras dimensões, com mais rappers a juntarem-se em versões alternativas da faixa. O braggadocio de Skepta no centro de um dos estrondos sonoros do ano. (Spotify/Youtube)
