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Fact Check. Um dos atacantes de Bondi Beach era militar das IDF?

Publicações nas redes sociais alegam que ataque foi organizado por Israel. Mas atacante já era conhecido por ligações ao estado islâmico e tinha sido investigado por isso no passado.

Mariana Lima Cunha
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A frase

Já se disse aqui nas redes que os dois franco-atiradores eram um pai e filho: o pai morreu assassinado pela polícia, o filho, segundo dizem as notícias, é um soldado da IDF (as redes já deram até seu nome).

— Utilizador de Facebook, 15 de dezembro de 2025

Uma série de publicações nas redes sociais garantem que um dos autores do ataque em Bondi Beach, na Austrália, que provocou pelo menos quinze mortes, chegou a pertencer ao exército israelita (Forças de Defesa Israelitas, ou IDF). O autor da publicação aqui em análise chega mesmo a sugerir que o ataque não passou de um “show sionista”, ou seja, um golpe supostamente orquestrado para culpar a comunidade muçulmana.

Acontece que não existe nenhuma fonte credível que tenha feito essa alegação, num momento em que já existe muita informação disponível sobre o perfil e história de vida dos dois atacantes, pai e filho — Sajid Akram, de 50 anos, morto no confronto com a polícia, e Naveed Akram, de 24 anos, que está ferido e continua internado — e em que não se vislumbra qualquer ligação ao Estado israelita e ao seu exército.

Para já, o motivo que se suspeita ter levado ao crime foi a “ideologia do estado islâmico”, disse a polícia australiana, depois de as autoridades filipinas terem confirmado que pai e filho tinham viajado recentemente para uma parte do país (a cidade de Davao, na ilha de Mindanao) que tem funcionado como um “viveiro de extremismo”, escrevia aqui a CNN. Regressaram à Austrália a 28 de novembro.

A ABC acrescentava, aliás, que as autoridades israelitas, nomeadamente a unidade de contraterrorismo, acreditam que os dois atacantes receberam treino de estilo militar durante essa viagem, sendo daí que retiraram a capacidade de ataque que mostraram ter durante o massacre em Bondi Beach, e não devido a uma suposta ligação ao exército israelita.

Além disso, a polícia australiana encontrou duas bandeiras representando o estado islâmico no carro de Naveed Akram, que já tinha sido sinalizado em 2019 pela agência de segurança interna do governo australiano — não tendo sido então, após uma investigação de seis meses, considerado uma ameaça. As autoridades já vieram justificar que os dois homens não terão sido travados a tempo porque não faziam parte de uma célula terrorista maior.

Ainda assim, as autoridades conheciam as ligações de Naveed Akram a Wisam Haddad, um “clérigo” cuja intervenção “tem influenciado múltiplas gerações de jiadistas australianos”, escreve a ABC.

Pai e filho decidiram atacar o grupo de judeus australianos que estava a celebrar na praia de Bondi na primeira noite do Hanucá, tendo matado 15 pessoas. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, veio frisar que “o ponto” do ataque é que “o antissemitismo existe há muito tempo” — “e o estado islâmico é uma ideologia que tragicamente, durante a última década, levou a uma radicalização de algumas pessoas para esta posição extrema”.

A imprensa internacional escreve que os dois atacantes viviam em Bonnyrigg, subúrbio de Sydney; o filho, nascido no país, trabalhava em construção e o pai, que era originalmente da Índia e emigrara para a Austrália em 1998, tinha uma frutaria. Sajid Akram tinha uma licença de porte de arma, tendo a polícia encontrado seis armas que lhe pertenciam.

A mulher de Sajid Akram e mãe de Naveed Akram, Verena Akram, disse ao The Sydney Morning Herald que os dois lhe tinham dito que iam viajar para pescar durante o fim de semana.

Conclusão

Não é verdade que um dos atacantes fosse um soldado israelita. Naveed Akram, que nasceu na Austrália e trabalhava em Sydney no setor da construção, tinha-se radicalizado e aproximado da ideologia do estado islâmico, tendo mesmo sido investigado pelas autoridades no passado.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.