Seguimos ao minuto o debate neste artigo em direto

Entre muitas divergências, e poucas concordâncias, o momento-chave do debate surgiu quando João Cotrim Figueiredo tentou desmontar a tese dos “ovos todos no mesmo cesto”, defendida por António José Seguro. Começou por acusar o socialista de nem fazer o “pleno” dentro do PS, afirmou ser “o único candidato que consegue ascender à sua área de origem política”, reiterando a “fé de chegar à segunda volta”. Seguro respondeu que uma eleição de Cotrim “reforçava o poder absoluto que já existe à direita”, insistindo na necessidade de um poder mais distribuído. Cotrim atacou: “Eu não sou suspeito [de ser da mesma cor do Governo]” — com Seguro a interromper para lembrar que “é do mesmo espaço político”. O liberal insistiu: “Se durante o seu mandato for eleito um primeiro-ministro do PS, faz o quê? Demite-se? Essa teoria dos ovos é muito perigosa.”
Cotrim questionou ainda se Seguro não via “uma única coisa boa” na lei laboral. O socialista respondeu que o liberal também só olha para um lado, ao garantir que “promulgaria a lei laboral tal como está”, e voltou a valorizar “a estabilidade política” e “a paz social”, apontando que o Governo “tinha tanto por onde começar”, desde logo pela reorganização do SNS. Seguiu-se a defesa do seu pacto para a Saúde e a acusação de que Cotrim não o tinha lido, antes de o debate mudar para o chumbo do Tribunal Constitucional à lei da Nacionalidade.
Aqui, Cotrim defendeu que os “partidos não devem insistir num braço-de-ferro com o TC”, lembrando outros “critérios limitativos”, mas sublinhando que um “registo criminal limpo não é uma exigência extraordinária”. Seguro apontou uma contradição: “O senhor pronunciou-se antes do TC tomar posição a dizer que promulgaria. Disse uma coisa na Golegã e outra aqui.”
Da Golegã passou-se para Belém. Cotrim afirmou que os Presidentes devem “colaborar institucionalmente com os governos”, ao que Seguro respondeu: “Não serei um primeiro-ministro sombra em Belém.” Seguiu-se o confronto sobre experiência, com Seguro a sublinhar que, “ao contrário do adversário”, tinha “experiência governativa” e Cotrim a acusá-lo de desvalorizar “30 anos de experiência profissional”.
O debate terminou num raro momento de convergência na política internacional: Cotrim falou numa “intenção descarada” dos EUA em “apoiar forças nacionalistas na Europa”, enquanto Seguro prometeu dar “impulso”, a partir de Belém, para combater a “fragilidade política” europeia.
Os avaliadores do Observador dividiram-se: duas vitórias para Seguro, uma para Cotrim e um empate, com o socialista a vencer por 0,25.
Um painel de avaliadores do Observador dá notas de 1 a 20 a cada um dos candidatos por cada um dos 28 debates televisivos para as eleições presidenciais e um texto de avaliação ao próprio confronto. A média vai surgindo a cada dia de debates, no gráfico inicial, que abre este artigo. Esta quarta e quinta-feira não há debates, que só regressam sexta-feira, dia 19, com o penúltimo frente a frente desta maratona, entre Cotrim de Figueiredo-André Ventura na SIC (como todos os restantes, às 21h00). Pode ver o calendário completo dos debates televisivos aqui. O debate das rádios terá lugar dia 2 de janeiro às 10h30.
António José Seguro, 13 — Cotrim Figueiredo, 12,75

Alexandra Machado — Um debate de pormenores, de temas com desempenhos opostos e de silêncios. E foram os silêncios que marcaram o frente a frente entre António José Seguro e João Cotrim de Figueiredo. O silêncio mais ensurdecedor foi quando Seguro confronta Cotrim com a declaração, na feira da Golegã, em que o candidato liberal disse que promulgaria a lei da nacionalidade que agora teve algumas normas consideradas inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional. Cotrim ficou em silêncio e parecia fácil responder. Mas no meio de silêncio ficou outro — Seguro acabou por não comentar a decisão do Constitucional.
Cotrim entrou bem a picar o adversário e até a rematar bem o argumento repetido e repetido por Seguro que é o candidato que oferece equilíbrio institucional para os ovos não estarem todos no mesmo cesto (da direita). Cotrim contrargumentou bem. Seguro ficou silenciado. O tema também permitiu a Cotrim sair da legislação laboral.
Houve depois mais dois debates. Um sobre a saúde, que Seguro perdeu, embora Cotrim andasse por terrenos pantanosos, porque o candidato da direita tem-se espalhado em vários debates por não conseguir explicar a sua proposta — e agora acabou a acusar Seguro do mesmo. “Li mas não percebi”, respondeu às tantas Cotrim, depois de usar a sua ironia (que muitas vezes pode não ser percetível) parecendo que não conhecia de todo o Pacto para a Saúde do candidato socialista. Desarmou-o quando matou o tema dizendo que as propostas de Seguro eram inconsequentes.
No final Seguro cometeu outro erro. O de querer puxar o debate para questões empresariais — o terreno de Cotrim que voltou, por isso, a mostrar-se o candidato arrogante (demasiado para um debate).
Feitas as contas, e só por isso Cotrim leva um ponto a mais, Seguro conseguiu dois momentos embaraçosos para o adversário — lei da nacionalidade e quando falou de Ricardo Valente —, mas não chegaram para no deve e haver garantir a melhor.
Helena Matos — Antes de irmos ao debate vamos ao YouTube procurar o Fado da Golegã interpretado por Hermínia Silva. Já se sabe que é uma coisa doutro tempo mas não só Hermínia Silva canta estupendamente como não deixa de ser uma extraordinária ironia que o debate entre António José Seguro e Cotrim de Figueiredo tenha sido marcado pelo que se pode designar o momento Golegã: ia Cotrim de Figueiredo desenvolto a explicar com o regular funcionamento das instituições a decisão do Tribunal Constitucional sobre a Lei da Nacionalidade, quando António José Seguro resolve pegar a situação de caras (vá lá, por uma vez podemos reconhecer que a tauromaquia dá óptimas imagens!) e, enchendo o peito, recorda a Cotrim que, na Golegã, o mesmíssimo Cotrim tinha declarado que promulgaria a lei na versão que o TC agora chumbou. Houve um silêncio no estúdio e Cotrim lá arrancou mas notou-se a estocada.
Porque não dou então a vitória a Seguro? Por causa dos cestos e também um bocadinho por causa dos planos e dos pactos. Seguro tem a mania dos planos e dos pactos. No caso do plano para o crescimento das empresas, Seguro ficou a olhar para Cotrim como um aluno cábula, já no pacto para a saúde ambos empataram na demagogia: Cotrim, ao contrário do que disse, não leu o pacto para a saúde pela prosaica razão que Seguro nem o deu a ler a mais ninguém além de André Ventura a quem o entregou no debate que tiveram, e sobretudo ele mesmo, António José Seguro, também não o deve ter lido porque não o sabe explicar.
Por fim cereja no topo do bolo a fazer-me dar empate e não vitória a Seguro: o grupo de Arraiolos. Pretende António José Seguro que do grupo de Arraiolos sairá a alternativa à defesa da Europa. Neste momento achei por bem dar um empate. E acabar aqui o texto. Agora vão ouvir o Fado da Sina e digam lá se não se aplica como uma luva a estas eleições?
Pedro Jorge Castro — Cotrim foi à Golegã passear-se a cavalo para a fotografia, sem imaginar que levaria um coice um mês mais tarde, neste debate com Seguro, por ter então dito que promulgaria a lei da nacionalidade (agora declarada inconstitucional). Foi uma fração de segundo, mas deixou marcas: o candidato socialista foi eficaz a sugerir que o liberal tinha dito algo diferente na Golegã e agora no debate. Cotrim quase nunca se atrapalha, mas hesitou e não saiu bem deste momento.
Seguro também foi astuto a ripostar com o apoio de Ricardo Valente, da IL do Porto, quando Cotrim se gabava de ser mais abrangente do que a base do seu partido (o que as sondagens indiciam ser verdade). Mas já não vendeu tão bem a ideia de que tem experiência governativa: falou disso como se tivesse substituído um ministro numas férias de verão.
No resto, Cotrim foi eficaz a demonstrar que Seguro diz generalidades sobre a saúde, pareceu mais convincente na economia, falou para os avós que lhe têm escapado (quando alertou para o crescimento da violência doméstica contra idosos) e rebateu de forma inteligente a teoria dos ovos no mesmo cesto (“Se for eleito um governo do PS, demite-se?”) Sem o golpe da Golegã, teria ganho. Assim, ficou ele ligeiramente aquém. Mas nenhum dos dois comprometeu as suas bases de apoio, num debate vivo e civilizado qb, com elogios mútuos (coisa que vai rareando).
Rui Pedro Antunes — Começou como um diálogo cortês mas, sem nunca ser desrespeitoso, tornou-se num quase-elegante duelo de esgrima. E ambos foram conseguindo pontuar sem precisarem de tirar a máscara que levavam. Cotrim tentou atingir Seguro dizendo que “nem o pleno no PS fazia”, mas o socialista trazia o contra-golpe bem estudado: “Ricardo Valente, antigo dirigente nacional da IL, é meu apoiante”. Cotrim foi, aí, lento a reagir.
No round seguinte, Seguro tentou colar Cotrim à direita para prosseguir a habitual tese de não colocar os “ovos todos no mesmo cesto”. Aí, o liberal levou a melhor: “Se durante o seu mandato for eleito um primeiro-ministro do PS faz o quê? Demite-se?”. Nesse caso foi Seguro a não saber reagir.
Mas o socialista está cada vez mais reactivo, como o dia em que uma vítima de bullying ganha músculo e decide virar-se, com êxito, aos bullies. Quando chegou o tema da Lei da Nacionalidade, Cotrim disse que espera que “partidos não insistam num braço de ferro com TC”. Seguro não perdoou: “Mas disse que promulgaria”. E enquanto Cotrim tentava encontrar-se, lembrou que sabia até o local das declarações: “Disse-o na Feira da Golegã”. Seguro ganharia aqui o debate naquilo que o almirante chamaria um “coice”.
É verdade que Seguro foi incoerente quando acusou Cotrim de levar uma estratégia de fazer perguntas e depois ter acabado por fazer o mesmo. O que até levou o moderador Vítor Gonçalves a brincar com a situação: “Se puder fazer uma pergunta, agradeço a oportunidade.” É igualmente um facto, como também registou Seguro (como se fosse negativo), que Cotrim é “exímio na forma e no marketing”. Ainda assim, o socialista teve o mérito, mostrando que tinha feito o TPC, e ao ter disferido golpes na altura certa. Foi um combate competente de ambos, maduro e educado, mas com Seguro a pontuar ligeiramente mais. Beneficiou do facto de falar do Grupo de Arraiolos (bocejo), não dar direito a pontos negativos.
Recorde aqui:
o debate entre Gouveia e Melo e André Ventura
o debate entre António Filipe e André Ventura
o debate entre Marques Mendes e Catarina Martins
o debate entre André Ventura e Jorge Pinto
o debate entre António Filipe e Catarina Martins
o debate entre António José Seguro e Catarina Martins
o debate entre Catarina Martins e Cotrim Figueiredo
o debate entre António José Seguro e Marques Mendes
o debate entre António Filipe e Gouveia e Melo
o debate entre António José Seguro e Jorge Pinto
o debate entre Cotrim Figueiredo e António Filipe
o debate entre Luís Marques Mendes e Jorge Pinto
o debate entre André Ventura e Catarina Martins
o debate entre Jorge Pinto e Gouveia e Melo
o debate entre Marques Mendes e André Ventura
o debate entre Cotrim Figueiredo e Jorge Pinto
o debate entre Catarina Martins e Gouveia e Melo
o debate entre Gouveia e Melo e Cotrim Figueiredo