Seguimos ao minuto o debate neste artigo em direto

Falaram de tudo: lei laboral, greve geral, independência, estabilidade política, economia, imigração, Saúde, Chega, situação internacional (a correr) e, no fim, da ameaça de oito distritos do interior ficarem sem jornais em papel. Foram tantos temas que nenhum brilhou — e os dois candidatos até acabaram a concordar em momentos improváveis para um debate extrema-esquerda vs. centro-direita.
No arranque, sobre greve geral e lei laboral, Catarina Martins disse que o Governo “se colocou numa situação impossível ao colocar-se nas mãos do Chega” e “se portou de forma arrogante”. Depois virou-se para Marques Mendes: “O que é que aconselharia?” Ele fugiu à pergunta, disse que “a greve foi a democracia a funcionar” (nenhum fez referência aos distúrbios) e que “o que é importante é o passo seguinte”. Defendeu um acordo “mais amplo”, que vá além da lei laboral e inclua “salários, formação profissional e eventualmente política fiscal”, também “mais produtividade”, mas com regras claras sobre como “distribuir ganhos entre empresas e trabalhadores”.
Catarina disse estarmos perante uma “questão de regime” e que por isso “uma” Presidente devia intervir. Mendes respondeu que nem pensar: não era o Governo, era candidato a Presidente; e que de forma gelada atacou: “Há uma probabilidade baixa da Catarina ser eleita Presidente” e “elevada” de ele o ser, concluindo que um Presidente “não deve meter-se na negociação, deve fomentar a negociação”.
Na discussão sobre independência, Mendes disse querer usar a sua experiência “a favor do país” e atirou: Catarina diz querer estabilidade, mas “no momento próprio chumbou o orçamento e causou instabilidade”. Ela devolveu que Mendes “faria o mesmo que Marcelo Rebelo de Sousa fez” e lembrou que os Orçamentos “não são moções de censura”.
Passaram pelo artigo da The Economist (já um clássico), pela imigração — Catarina elogiou a Via Verde, que “demora tempo a dar resultados” mas agora já começa a mostrá-los —, pelas PPP na Saúde — onde Mendes disse que foi Catarina quem acabou com “algo que funcionava” — e concordaram na importância da NATO — com Mendes a considerar a relação EUA-Europa “no pior momento desde a Segunda Guerra”.
Sobre dar posse a um Governo do Chega, não divergiram muito: Catarina cumprirá a Constituição “se o Chega vencer”, embora garanta que isso “não vai existir” e que vetará ministros “como Jorge Sampaio fez”. Mendes disse ser “óbvio” que um Governo deve cumprir a Constituição e que vê “medidas grosseiramente inconstitucionais” no Chega.
O debate acabou em absoluta harmonia: Mendes assegurou que Catarina “não tem melhor coração” do que ele e que também quer “melhor salários” e “melhor pensões”. E ainda lhe pediu apoio para evitar que oito distritos do interior fiquem sem jornais em papel.
Um painel de avaliadores do Observador dá notas de 1 a 20 a cada um dos candidatos por cada um dos 28 debates televisivos para as eleições presidenciais e um texto de avaliação ao próprio confronto. A média vai surgindo a cada dia de debates, no gráfico inicial, que abre este artigo. Este sábado, na RTP, haverá mais um confronto de extremos, entre André Ventura e Catarina Martins (como todos os restantes, às 21h00). Pode ver o calendário completo dos debates aqui.
Marques Mendes, 12,5 – Catarina Martins, 12

Helena Matos — Não sei se foi o debate que foi desinteressante ou se eu começo a sofrer duma espécie de fadiga não dos materiais mas de tanta conversa para fazer tempo. Há ainda outra explicação: estes dois candidatos já não têm muitas mais oportunidades para causar uma segunda impressão. Cada um deles só vai ter mais debate e em ambos os casos debates difíceis porque na mesa área política: Catarina Martins vai debater com Jorge Pinto e Marques Mendes com Gouveia e Melo. Assim, no debate desta noite, quer Catarina Martins quer Marques Mendes pareciam aqueles praticantes de exercício nas cidades que nos semáforos ficam a correr no mesmo sítio à espera que abra o verde para os peões.
Em resumo, seja como for e pelo que for, dei comigo a pensar que Marques Mendes não estava interessado em ganhar. Para ganhar tinha de ser claro em matérias como a legislação laboral, coisa de que Marques Mendes foge como o diabo da cruz. Marques Mendes já se está a ver na segunda volta e não quer criar anticorpos: se a segunda volta for com André Ventura pode vir a ter o BE entre o seu eleitorado. O mais que Marques Mendes arriscou foi criticar o fim das PPP na saúde, assunto que é hoje uma evidência. Quanto a Catarina Martins precisava de colar Marques Mendes ao governo o que fez com alguma habilidade e por isso e só por isso dou-lhe a vitória. Portanto os dois cumpriram o tempo sem sofrerem danos mas também sem obterem ganhos de maior.
A luta a sério ficou adiada para o encontro com outros adversários.
Miguel Santos Carrapatoso — Um debate inteligente de parte a parte, entre dois candidatos que, estando num dia bom, controlam muito bem o ritmo neste tipo de formatos. Apesar de tudo, Luís Marques Mendes, que partia com alguma desvantagem teórica, saiu vencedor. Um dia depois da greve geral, e tendo em conta que é o candidato oficial da AD, seria de esperar que Catarina Martins tentasse colar o social-democrata aos aspetos menos populares da reforma laboral — e foi isso que a bloquista fez.
Mas Mendes, sem violentar o próprio eleitorado, não só conseguiu definir uma distância de segurança face a Montenegro (“Eu não sou o Governo”), como ainda foi particularmente eficaz a destrunfar a alegada superioridade moral da adversária (”Não tem melhor coração do que eu”) e a desafiar o Governo a aproximar-se dos trabalhadores.
Em cima disso, conseguiu com relativo sucesso corresponsabilizar Catarina Martins pela crise política de 2022 e pelo estado a que chegou a Saúde, não deixando de lembrar o apoio da bloquista ao governo de António Costa (cativações como pano de fundo) e ao fim das Parcerias Público-Privadas (PPP). Catarina Martins não sofreu nenhum K.O., foi-se aguentando com contra-argumentos com alguma validade e ainda conseguiu piscar o olho a uma ala mais à esquerda do PS, nomeadamente com um rasgado elogio a Marta Temido.
Ainda assim, fica o filme do debate: Mendes baralhou, deu o jogo, acompanhou as apostas da adversária e, finalmente, recolheu as fichas, levitando, sem grande dificuldade, durante todo o frente a frente.
Pedro Jorge Castro — Maravilhoso Coração Maravilhoso — o de Luís Marques Mendes, claro. A adversária desta noite também foi uma boa alma: não o desmentiu, nem o contrariou, e até se indignou com a hipótese (alvitrada pelo próprio) de não achar que ele tem um bom coração.
A ex-líder do Bloco precisaria de muito mais para deixar o 7º lugar nas sondagens. O candidato apoiado pela AD vence por ter saído deste debate com grande tranquilidade. Atirou a Catarina Martins com o fim das PPP na saúde, colou-a à imagem irritante dos falsos moralismos e superioridades morais, acusou-a de ter provocado instabilidade política quando deitou abaixo o governo de Costa e resistiu a mudar de posição e a estampar-se sobre a lei laboral.
Como bónus, apesar de nem se saber se vai à segunda volta, já sugeriu a Montenegro uma saída para desbloquear as negociações com os sindicatos, juntando mais temas à mesa para baralhar e dar de novo. É ou não é um coração maravilhoso? Caso seja eleito, vamos ver se o primeiro-ministro algum dia irá a Belém cantar-lhe os últimos versos da música de Marco Paulo:
“Tu és a chama que se aninha no meu peito
Para que sempre exista amor
Para levá-lo onde eu for
Eu te agradeço todo o bem que me tens feito”.
Rui Pedro Antunes — Marques Mendes e Catarina Martins não disputam eleitorado e estavam, por isso, a aproveitar a oportunidade para falarem para os respetivos eleitores. A candidata apoiada pelo Bloco foi mais eficaz, quer pelo que disse, quer pelo que não disse. Catarina Martins conseguiu falar para os grevistas, onde tem muito potencial eleitorado e onde haverá, principalmente entre manifestantes, muitos indecisos à esquerda. Falou de temas que lhe interessam que vão desde a imigração ao SNS e ainda teve a sorte de Mendes falar nas PPP, que entram como sopa no mel no público-alvo para quem a bloquista se dirige. Ainda conseguiu assustar pensionistas — eleitorado onde o adversário que tem à frente é mais popular — ao abanar o fantasma da comissária Maria Luís Albuquerque, numa espécie de dois em um, já que lembrou um rosto da troika. É nos anti-troika que também está muita da esquerda que quer conquistar. Além disso, Catarina Martins também ganhou no que não disse: não caiu na tentação, como provavelmente cairia Mortágua (ou mesmo Louçã) de confrontar Mendes com Angola. Toda essa sensatez contribui para o seu PMEC, Processo de Moderação em Curso.
O ex-líder do PSD é daqueles candidatos que, mesmo quando está menos bem (e este foi, talvez, o seu pior debate), cumpre. Mendes trazia bem estudada a ideia de que Catarina Martins tinha uma “pedra no sapato” por ter provocado a queda de Costa em 2021 ao não aprovar o OE. No entanto, isso é contraditório com o que repetiu durante o debate, quando disse que há pouca probabilidade de Catarina ser eleita. Ora, precisamente por isso, quem vota na candidata apoiada pelo BE, pouco se importa com o que faria em Belém, porque sabe que não chegará lá.
Depois, foi forçado, pelas circunstâncias da greve, a pressionar o Governo a negociar e a alterar a legislação laboral. Mendes disse mesmo: “Eu não sou o Governo”. O candidato convenceu-se que a independência é um valor fundamental na campanha e quer muito contrariar a tese dos “ovos todos no mesmo cesto”, mas isso é conversa para a segunda volta. Mendes não se pode dar ao luxo de desperdiçar votos da AD — que vai ser a pedra-basilar da sua votação. E, cada vez que se afasta em demasia do Governo, corre esse risco. O ex-líder do PSD esteve melhor, no piscar de olho ao centro-direita, quando disse a Catarina Martins: “Você não tem mais coração que eu”. Atirar à esquerda com não superioridade moral, cai sempre bem junto da direita. Numa readaptação de um slogan de Guterres, Mendes safou-se melhor pelo coração do que pela razão.
Recorde aqui:
o debate entre André Ventura e Jorge Pinto
o debate entre António Filipe e Catarina Martins
o debate entre António José Seguro e Catarina Martins
o debate entre Catarina Martins e Cotrim Figueiredo
o debate entre António José Seguro e Marques Mendes
o debate entre António Filipe e Gouveia e Melo
o debate entre António José Seguro e Jorge Pinto
o debate entre Cotrim Figueiredo e António Filipe
o debate entre Luís Marques Mendes e Jorge Pinto
o debate entre André Ventura e Catarina Martins
o debate entre Jorge Pinto e Gouveia e Melo
o debate entre Marques Mendes e André Ventura
o debate entre Cotrim Figueiredo e Jorge Pinto
o debate entre Catarina Martins e Gouveia e Melo
o debate entre Gouveia e Melo e Cotrim Figueiredo