Seguimos ao minuto o debate neste artigo em direto

“Precisamos é de um Presidente com experiência, que não venha ao improviso e a aprender no cargo”, atacou logo a abrir António José Seguro. A resposta de Gouveia e Melo não se fez esperar: acusou Seguro de ser “candidato nem, nem”, depois de dizer que era “líder nem, nem”: “Com toda a estima que tenho por si, não é um líder para os tempos modernos. Mário Soares disse-o há uns anos: que era inseguro e que os seus eleitores não deviam confiar em si”. Arrancava assim um bate-boca em que o PS e a experiência eram atirados entre os dois candidatos num debate em que ambos tentavam conquistar a parte do eleitorado que ambos disputam.
Seguro voltou a falar, aliás, na necessidade de “equilibrar” os poderes políticos no país, numa altura em que o Governo é PSD e CDS, evitando responder diretamente à questão do pouco apoio do PS. Mas não deixou de atirar à tão clamada independência partidária de Gouveia e Melo, referindo os encontros que o almirante teve com Nuno Melo e depois com André Ventura e ainda à escolha do seu mandatário nacional, Rui Rio: “CDS, Chega, PSD. Todos juntos. É isso que o senhor representa, esse campo político”. Gouveia e Melo não se ficou, tentando ir à garganta do adversário: “E represento também o PS. O senhor nem representa o pleno do PS”. Seguro aproveitou para ainda ripostar: “O senhor almirante que se dizia apartidário, agora diz que representa o PS.”
Se se ficassem por aqui, já tinham indo bastante longe. Mas Gouveia e Melo ainda disse a Seguro que “esteve onze anos fora da política e agora vem reciclar a sua carreira. Esteve fora dos momentos difíceis e eu estive sempre presente, em Pedrógão e na vacinação. Eu não sou um profissional da política, sou um profissional dos resultados”. Seguro considerou-o “indigno” e lembrou-lhe o caso dos militares do NRP Mondego. “A diferença entre nós os dois é que eu não uso o poder para humilhar os meus subordinados”, devemos respeitar “a dignidade humana e não como fez na Madeira”, isso “desqualifica-o para o cargo”. O almirante teve a última palavra para dizer que Seguro “não pode ser comandante supremo.”
Depois veio o tema do pensamento político, uma questão que o próprio ex-líder do PS colocou ao almirante. “Não vai para Belém dar ordens aos partidos. Que experiência tem de diálogo com os partidos e o Governo e as instituições europeias?”, perguntou Seguro. Gouveia e Melo tentou falar dos acordos internacionais difíceis que teve de negociar, mas não enunciou nenhum e rematou com um ataque: disse que Seguro é “líder para a estagnação”. Seguro contra-atacou: “Disseram-lhe para vir cá dizer isso?”
No que sobrou do debate, Gouveia e Melo disse que é “estranho” ver o Governo falar em período eleitoral de um “salário mínimo de 1600 euros”, com Seguro a não divergir muito neste ponto. Afirmou que o Governo “desistiu da concertação social” e garantiu que quando se reunir com o primeiro-ministro semanalmente (se for eleito Presidente) não será “para tomar chá”. De acordo também sobre a Justiça: Seguro também quer ter uma conversa séria com o PGR se for eleito e Gouveia e Melo (tal como Rio) acha que saberem-se “dados sobre processos” judiciais em “tempos de eleições” é “justiça de pelourinho”. Para marcar uma nuance, palavra de outro debate, Gouveia e Melo disse ter uma diferença para Seguro: “Não sou europeísta, tenho um pé na Europa e outro no Atlântico”. Já o candidato apoiado pelo PS repetiu: “Não temos de dar cabo de nenhuma aliança, mas temos de depender mais de nós próprios”. Mas ambos defendem a NATO.
Foi todo o debate a discordar para acabar numa pequena concórdia.
Um painel de avaliadores do Observador dá notas de 1 a 20 a cada um dos candidatos por cada um dos 28 debates televisivos para as eleições presidenciais e um texto de avaliação ao próprio confronto. A média vai surgindo a cada dia de debates, no gráfico inicial, que abre este artigo. Amanhã, quarta-feira, na RTP, mais um debate à esquerda, que vai opor, Catarina Martins e António Filipe (como todos os restantes, às 21h00). Pode ver o calendário completo dos debates aqui.
Gouveia e Melo, 9,5 — António José Seguro, 14,5

Alexandra Machado — António José Seguro e Henrique Gouveia e Melo encontram-se numa televisão para um debate. E acabam a disputar o mesmo eleitorado. Foi o debate em que Seguro esteve mais espevitado (sim é verdade) e começou logo quando Gouveia e Melo lhe atirou a frase proferida por Mário Soares: “Não é um líder para os tempos modernos”. Seguro arregaçou as mangas e foi à luta. Como não tinha ido em debates anteriores. E ganhou o debate. Gouveia e Melo tentou várias vezes fugir, declarando ser um debate de pequena política sempre que o tema lhe era incómodo. Passou ao lado da colagem a elementos ligados a José Sócrates, passou ao lado às provocações de Seguro sobre encontros com líderes do CDS, do Chega e PSD (Rui Rio é o seu mandatário) e ainda o desarmou quando nas críticas de Gouveia e Melo sobre o facto de Seguro não conseguir consenso nem no PS lhe perguntou se isso já era grande política. Perdeu-se um pouco quando Gouveia e Melo disse que representava o PS, deixando Seguro com uma reação poucochinha (“eu não represento nenhum partido”, disse Seguro).
Gouveia e Melo foi preparado com três ou quatro soundbites e ainda foi buscar o mesmo argumento utilizado por Catarina Martins sobre a abstenção do PS de Seguro a um Orçamento do PSD/CDS nos tempos da troika. Gouveia e Melo a ir ao eleitorado de esquerda, apesar de se ter proclamado “mais liberal”, e sempre a recordar a sua liderança no processo de vacinação no tempo da Covid-19 (“Não sou profissional da política, mas sou profissional dos resultados”).
A primeira parte do debate foi a que mais picardias teve. Na segunda parte muito acordo – porque também nada de verdadeiramente polémico foi dito – mas mesmo na defesa, o terreno fértil de Gouveia e Melo (e embora tecnicamente tenha sido visível), o candidato socialista esteve seguro.
Filomena Martins — Foi o melhor debate de António José Seguro até agora. Vivo, claro, rápido — e, sobretudo, presidencial. Gouveia e Melo passou grande parte do tempo a reagir, não a propor. Seguro entrou a dominar a primeira metade e nunca mais perdeu o pulso. Numa corrida em que ambos disputam parte do mesmo eleitorado de centro-esquerda e centro moderado, esta vantagem pesa.
O tema das sondagens abriu o debate: Seguro a cair, Gouveia e Melo a captar parte do eleitorado do PS. Seguro relativizou e fez o que sabe fazer: puxou dos 127 autarcas que o apoiam e da ideia de equilíbrio do sistema político. Gouveia e Melo respondeu com a cassete da “pequena política” e tentou colar Seguro à reciclagem do passado. Mau arranque para o almirante: Seguro devolveu com a primeira estocada da noite — “Eu não uso o poder para humilhar os subordinados” — e abriu a questão da reprimenda aos militares na Madeira. Foi um momento decisivo. Seguro foi mais rápido, mais preparado e mais contundente; Gouveia e Melo ficou preso à defesa do “rastilho” que teria evitado.
Quando a conversa voltou à troika, Seguro fez aquilo que poucos políticos fazem: assumiu, sem tremor, que voltaria a fazer a abstenção violenta. Transformou um ponto frágil num argumento de coragem — e funcionou. Depois lembrou que o almirante almoçou com Melo e Ventura e que tem como mandatário Rui Rio. Gouveia e Melo tentou desvalorizar com a acusação de “politiquice”, mas já estava em perda de terreno.
Nas propostas económicas, Seguro foi mais concreto: salários definidos na concertação, economia verde, fusão de PME, reuniões semanais com o primeiro-ministro. O almirante disparou um diagnóstico amplo — turismo excessivo, IRC elevado, contrato social — mas faltou-lhe densidade operacional. Seguro parecia líder; Gouveia e Melo parecia reativo.
Na Justiça, ambos reconheceram fragilidade, mas Seguro foi mais institucional: condenou a devassa das escutas, pediu explicações ao PGR e defendeu mecanismos anticorrupção sem cair no populismo penal. O almirante falou em vigilância alargada e em agendas ocultas, mas não acrescentou muito ao debate.
Na política externa, a diferença tornou-se filosófica: Seguro é europeu e atlântico; Gouveia e Melo é atlântico tanto quanto europeu. Seguro falou de independência estratégica; o almirante insistiu no peso dos EUA e na necessidade de ler a Ucrânia com realismo militar. Seguro soou mais equilibrado; Gouveia e Melo mais rígido.
No final, não há dúvida: foi uma vitória expressiva de António José Seguro, que leva 14. Gouveia e Melo, irregular e defensivo, fica com 9. Um debate que pode mexer no xadrez da segunda volta.
Miguel Santos Carrapatoso — Alguém ligou António José Seguro à corrente. Fez bem. Henrique Gouveia e Melo apareceu no debate a dizer, para variar um bocadinho, que rejeita a “pequena política”. E foi vê-lo a utilizar declarações de Mário Soares com mais de dez anos para atacar a capacidade de liderança do adversário e a puxar para si os méritos (que raramente se lembra de partilhar) na resposta aos incêndios de Pedrógão Grande e à Covid-19 — quem ouvir o almirante, será capaz de jurar que foi ele quem governou o país nos últimos dez anos.
Seguro não se ficou e foi disparando contra o militar, questionando, várias vezes, a experiência política de Henrique Gouveia e Melo. Mas o que verdadeiramente pôs a nu a incoerência do seu adversário foi a história do suposto suprapartidarismo. Primeiro, Gouveia e Melo colou-se à ala esquerda do PS que sempre criticou Seguro pela “abstenção violenta” no Orçamento do Estado de Pedro Passos Coelho, metendo os pés pelas mãos na questão do Tribunal Constitucional. “O senhor parece a Catarina Martins”, provocou o socialista. Sorriso amarelo.
A partir daí, Seguro carregou, lembrando que o almirante teve um copo noturno com Nuno Melo, almoçou em segredo com André Ventura e tem como mandatário Rui Rio. Isto não é suprapartidarismo; isto é poliamor. Perante os factos, Henrique Gouveia e Melo introduziu uma grande novidade: “Eu represento outro campo político, que é o PS, e sabe muito bem”. Na verdade, ninguém sabia. Intuía-se, via sondagens, que uma parte do eleitorado socialista se revia em Henrique Gouveia e Melo; desconhecia-se por completo que o almirante se assumia como representante do PS. Seguro registou a novidade e investiu contra o adversário; o almirante, mais uma vez, desdisse-se dois ou três minutos depois.
Então, o debate passou a ser sobre grande política; Gouveia e Melo, pelo contrário, continuou incapaz de ir além dos grandes lugares comuns e das grandes contradições. Resultado: Henrique Gouveia e Melo engavetou-se; António José Seguro alargou o seu espaço político.
Pedro Jorge Castro — Gravíssima quebra de segurança: não há detector de metais nos estúdios da SIC? Como é que deixaram António José Seguro entrar com um lança-granadas no debate contra o almirante? E como é que o candidato-estratega, com tanta experiência militar, achou que podia defender-se com fisgas, lançadas sem grande pontaria?
O mais surpreendente até é que o primeiro ataque partiu do próprio Gouveia e Melo: sempre a queixar-se de pequena política, mas sem hesitar em ir buscar críticas feitas há 11 anos por Mário Soares ao seu adversário. Seguro não se encolheu, cresceu para o almirante e deixou-o atrapalhado, a titubear e a enganar-se: caramba, nem um ataque que estava escrito nos TPC conseguiu decorar, dizendo que Seguro não era líder, para depois lhe chamar líder nem-nem, quando queria chamar-lhe candidato nem-nem.
Seguro foi inesperadamente demolidor e eficaz, a vincar as ideias de que o almirante era um autoritário que tinha humilhado o seus homens; que achava que ia para Belém dar ordens aos partidos; que nem teve sensibilidade para adiar o anúncio da candidatura para depois das legislativas; e o golpe final foi quando o corrigiu sobre o orçamento — que não tem leis: “Está a ver?”. O almirante estava a ver, sim. Admitiu o lapso, que tratou como “pormenorzito”. E por dentro deve ter sentido que se desgraçou perante mais uns quantos indecisos.
Recorde aqui:
o debate entre António José Seguro e Catarina Martins
o debate entre Catarina Martins e Cotrim Figueiredo
o debate entre António José Seguro e Marques Mendes
o debate entre António Filipe e Gouveia e Melo
o debate entre António José Seguro e Jorge Pinto
o debate entre Cotrim Figueiredo e António Filipe
o debate entre Luís Marques Mendes e Jorge Pinto
o debate entre André Ventura e Catarina Martins
o debate entre Jorge Pinto e Gouveia e Melo
o debate entre Marques Mendes e André Ventura
o debate entre Cotrim Figueiredo e Jorge Pinto
o debate entre Catarina Martins e Gouveia e Melo
o debate entre Gouveia e Melo e Cotrim Figueiredo