
A frase
União Europeia pede para não se desejar ‘feliz Natal” para não ofender muçulmanos.
— Utilizador de Facebook, 03 de dezembro de 2025
Uma publicação recorrente em época natalícia volta este ano a circular nas redes sociais, perto da quadra, com uma critica à União Europeia por ter pedido para que as pessoas não desejassem um “feliz Natal” entre si “para não ofender muçulmanos”. Esta polémica teve início há quatro anos, numa proposta vinda da comissária europeia para a Igualdade da altura que acabou por ser retirada depois de ter recebido críticas até do Papa Francisco.
A publicação volta agora a ser partilhada nas redes sociais e, neste caso aqui analisado, com uma suposta notícia associada que tem como título: “Europa de joelhos: pede que pessoas não desejem ‘Feliz Natal’ ‘para não ofender os muçulmanos'”. O texto que surge na imagem fala na retirada, pela Comissão Europeia, de “um guia interno que recomendava aos funcionários não usarem a palavra ‘Natal” nas suas comunicações oficiais e para que “não se dê por certo que o mundo todo é cristão”, para “evitar ofender sensibilidade religiosas'”, “especialmente os muçulmanos”.

Há dados corretos na base desta publicação, no entanto, ela sugere que há uma decisão tomada e isso não é verdade. Os factos que são verdadeiros referem-se a uma proposta da comissária Helena Dalli que acabou por ser retirada — como aliás, pode ler-se no site que é também partilhado nesta publicação.
A ideia inicial da proposta da então comissária maltesa (ficou no cargo até 2024) passava por substituir o uso de palavras como “Natal” por “festividades”, com o argumento de garantir uma comunicação mais “inclusiva” na União Europeia. “Nem toda a gente celebra os feriados cristãos e nem todos os cristãos os celebram nas mesmas datas”, considerava, na altura, a comissária.
As críticas que surgiram às “diretrizes para uma comunicação inclusiva” fizeram a maltesa recuar e reconhecer, num comunicado, que a versão “não servia adequadamente o propósito” inicial e não “correspondia aos padrões da Comissão”. Da proposta constavam, segundo as notícias que foram sendo publicadas, outras sugestões, como acabar com o uso de palavras como “senhoras e senhores” ou “chairman“, também em nome de uma maior inclusão.
https://observador.pt/2021/12/01/festividades-em-vez-de-natal-comissaria-para-a-igualdade-volta-atras-com-diretrizes-para-uma-comunicacao-mais-inclusiva/
No que dizia respeito em concreto à questão do Natal, a proposta chegou mesmo a ser criticada, em 2021, pelo Papa Francisco, que, citado pela Agência Ecclesia, considerou a ideia “um anacronismo”, aconselhando a União Europeia a não abrir “caminho a colonizações ideológicas”, já que isso poderia levar à “divisão de países” e mesmo “ao colapso da União Europeia”. Já nessa altura, a posição levava em linha de conta o risco que esta posição poderia significar para o crescimento de populismos.
Após várias críticas, Helena Dalli reconheceu que a versão das diretrizes publicadas “não servia adequadamente o propósito” e não “correspondia aos padrões da Comissão”. Por estes motivos, acabou por desistir das diretrizes que não foram reformuladas. A Comissão Europeia tem políticas gerais de diversidade e inclusão e fala em “linguagem inclusiva”, mas sem regras específicas contra o Natal ou outras festas cristãs.
Uma publicação semelhante já tinha sido analisada pelo Observador em 2021, com a mesma conclusão, como pode reler aqui.
https://observador.pt/factchecks/fact-check-comissao-europeia-propos-abolir-o-natal/
Conclusão
Não existe um pedido da Comissão Europeia para que as pessoas deixem de usar expressões como “feliz Natal” para evitar ofender não cristãos durante a época festiva. Chegou a existir uma proposta interna, em 2021, sugerindo que os funcionários usassem expressões genéricas como ‘festividades’ em vez de ‘Natal’ para garantir uma “comunicação mais inclusiva”. Mas a proposta suscitou polémica e a sua autora, a então comissária europeia para a Igualdade, Helena Dalli, acabou por retirá-la.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ENGANADOR
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.