Seguimos ao minuto o debate neste artigo em direto

Marques Mendes ignorou a primeira pergunta — era sobre a greve geral, que só voltou a ser feita bem mais tarde — e entrou de forma brutal no debate contra Cotrim de Figueiredo: quis esclarecer a polémica dos homens da sua candidatura que Cotrim disse que o pressionaram a desistir, “uma acusação muito grave, de quem eu não esperaria”. E perguntou diretamente ao adversário se e quando tinha falado com ele para o pressionar a desistir e quais a pessoas que o tinham feito a seu pedido. O candidato liberal ficou atordoado, respondeu que nunca tinha falado no nome de Mendes, que também não ia dizer os nomes e que tinha apenas presumido que estavam mandatados pela candidatura do ex-líder do PSD.
Cotrim Figueiredo ainda tentou contra-atacar, perguntando por que não falava Mendes de Gouveia e Melo, que também se disse pressionado: “É revelador começar por aí, acha que a minha candidatura é muito mais perigosa do que a de Gouveia e Melo”, atirou, mas Mendes ia preparado, respondeu que falaria quando debatesse com o almirante e continuou a ‘bater’ em Cotrim. “Apresenta acusações sem fundamento, com leviandade, ligeireza imensa, ninguém gosta, os seus eleitores não gostam disso” e deu a estocada final: “Cotrim Figueiredo porta-se como um André Ventura envergonhado, faz acusações e não as provas, a sua palavra não é para levar a sério, não o recomenda para o cargo do Presidente”.
Cotrim ainda tentou responder com o lado profissional do adversário, mas também sem concretizar, citando o facto de no livro [de Luís Rosa, redator principal do Observador] que será apresentado na quarta-feira, encaixar em apenas 5 páginas a sua vida depois de sair do Governo. Mendes falou numa “tentativa de assassinato de caráter”: “Fui a pessoa mais escrutinada nos últimos anos”, respondeu.
Finda a questão de carácter, veio finalmente o tema da greve geral e da lei laboral, onde Cotrim foi mais claro. “Promulgaria esta lei laboral nesta versão mais recente, que já é resultado dos recentes contactos com a UGT, mesmo que não goste de todas as posições que lá estão, nomeadamente em relação à natalidade”, assumiu o liberal. Mendes não quis dizer o que faria, apelou apenas “ao equilíbrio” e diálogo”, mas só se pronuncia com o texto final, ainda que considere que há questões que se colocam para o futuro “que a podem justificar.”
Depois veio a questão fiscal e Mendes voltou a querer colar Cotrim Figueiredo completamente a propostas liberais. Lembrou que Cotrim quer a privatização da CGD e trouxe de novo a “proposta de uma taxa única no IRS” da IL. O liberal contestou e disse que não “propõe há cinco anos” a taxa única, até porque “temos o IRS mais progressivo da Europa”. Já quanto às privatizações, admitiu uma “grande diferença” para Mendes. Na TAP “havia tentativas de influência inclusive nas rotas” e “quantas decisões tomou a CGD que não fossem no estrito interesse da sua rentabilidade e não por orientações políticas?”, perguntou.
Discordaram também sobre a NATO, com Mendes a dizer que a Europa “tem de abrir os cordões à bolsa” e investir em Defesa, e aproveitando novamente para criticar Cotrim: “Defendeu um europeu e não um americano no comando da NATO, ora isso agravaria ainda mais a relação e só beneficiaria Putin.” O candidato apoiado pela IL disse que “prudência pode ser igual a medo da mudança” e explicou que desde a administração Biden “se notava que a preocupação dos EUA se estava a deslocar para o sudeste asiático”. Por isso, acha que “a Europa tem de se dar ao respeito e fazer por si própria, tem de acordar”.
Em resumo, Cotrim defendeu a sua candidatura mais “arejada” e Mendes pediu consensos, definindo-se como um Presidente “mediador”, o que não significa “ser mole, nem frouxo, mas ser firme”.
Um painel de avaliadores do Observador dá notas de 1 a 20 a cada um dos candidatos por cada um dos 28 debates televisivos para as eleições presidenciais e um texto de avaliação ao próprio confronto. A média vai surgindo a cada dia de debates, no gráfico inicial, que abre este artigo. Esta segunda-feira, feriado, defrontam-se António Filipe e Jorge Pinto, na RTP (como todos os restantes, às 21h00). Pode ver o calendário completo dos debates aqui.
Cotrim Figueiredo, 10, 5 — Marques Mendes, 14

Filomena Martins — O debate abriu com um murro na mesa: Marques Mendes confrontou Cotrim Figueiredo sobre a acusação de que “gente da sua candidatura” o teria pressionado a desistir. Cotrim engasgou-se, negou ter invocado o nome de Mendes, mas não apresentou um único nome. E foi então que Mendes disparou a frase da noite: “O senhor comportou-se como um André Ventura envergonhado.” A partir daí, Cotrim nunca mais recuperou. Entrou em modo defensivo, sempre a reboque, enquanto Marques Mendes marcava o ritmo, o tom e a agenda.
Quando o tema passou para a pobreza, Cotrim refugiou-se no crescimento económico — o seu mantra habitual —, mas só percebeu que estava fora de jogo quando Mendes sublinhou que há dois milhões de pessoas que não podem esperar décadas por produtividade. Mendes ocupou o espaço social que Cotrim deixou livre, afirmando-se como candidato de sensibilidade e responsabilidade.
Também no tema das empresas públicas Cotrim falhou o contra-ataque: quando Mendes o acusou de defender a privatização total da CGD, Cotrim perdeu a oportunidade evidente de lembrar que essa discussão já existira no tempo de Passos Coelho. Ficou a pairar a sensação de que conhecia a resposta, mas não a deu.
Nas leis do trabalho, Cotrim foi claro — prometeu promulgar — enquanto Mendes usou o manto institucional: só decide sobre o texto final. Ainda assim, Mendes parecia sempre mais confortável, mais dono do palco, mais presidencial. Até quando Cotrim tentou humilhá-lo com a frase sobre o livro onde a vida pública de Mendes cabe em cinco páginas, Mendes virou o ataque contra o atacante: “Isto foi uma tentativa de assassinato de carácter.”
No final, a sensação era inequívoca: Marques Mendes comandou o debate, definiu o enquadramento político, desmontou o adversário nos primeiros cinco minutos e nunca mais largou o volante. Num duelo de estilo e de substância, venceu com clareza.
Helena Matos — Em primeiro lugar, tenho de reconhecer que me enganei. Troquei-me com os debates. Achava eu que tinha de avaliar um debate de candidatos à presidência da República e caí num debate de candidatos ao cargo de chefes de Governo. Eles discutiram escalões de IRS e a privatização da CGD como se estivessem numas legislativas.
Note-se que o debate começou de forma muito dura com Marques Mendes a interpelar directamente Cotrim de Figueiredo sobre a acusação que este fez à sua candidatura. Para quem não se recordar foi assim: há semanas a candidatura de Cotrim de Figueiredo acusou a candidatura de Marques Mendes de tentar que o liberal desistisse da sua corrida a Belém. Não acho que isto interesse a alguém mais que aos comentadores, jornalistas e assessores das campanhas. E por isso apesar da mossa que o ataque provocou em Cotrim não acho que o tenha impedido de ganhar o debate.
Em segundo lugar, o jovem que Marques Mendes quer levar para o Conselho de Estado causa-me a irritação do jarrão de flores da sala duma tia-avó a quem se visitava nas tardes de Domingo. É mais um elemento decorativo que um argumento mas o facto de Marques Mendes insistir nele quer dizer que deve funcionar do ponto de vista do marketing político.
Em terceiro e último lugar dou a vitória a Cotrim porque nos escassos minutos em que os candidatos trataram de matérias em que o Presidente pode ter um papel — no caso a lei laboral — esteve muito melhor que Marques Mendes. Não só disse ao que vinha, como mostrou estar melhor informado que Marques Mendes.
Se Cotrim e Marques Mendes fossem candidatos a comentadores ganhava Marques Mendes, mas como se candidataram à presidência da República dou a vitória a Cotrim de Figueiredo.
Miguel Viterbo Dias — O debate ficou resolvido logo nos primeiros minutos. Luís Marques Mendes entrou decidido a mostrar quem era o adulto na sala e a desmontar a estratégia de “challenger” de João Cotrim Figueiredo ao querer demonstrar que é uma postura pouco presidencial.
Marques Mendes recuperou as acusações de Cotrim Figueiredo sobre pressões para desistir e tentou forçar o candidato liberal a concretizar. Não o fez e perdeu a grande oportunidade de sair por cima neste tema que foi Cotrim a colocar no debate público. Mas pior: a estratégia de fuga de Cotrim Figueiredo foi socorrer-se de insinuações sobre o passado profissional de Marques Mendes que, mais uma vez, não concretizou.
Depois deste arranque que ditou o desfecho do frente a frente, nos restantes temas a discussão marcou algumas divergências mas, e daí a nota atribuída a Cotrim Figueiredo, o também eurodeputado não conseguiu mostrar que é a alternativa vencedora a Marques Mendes. O social democrata foi atrás do voto jovem – o core de Cotrim – e na reta final ainda saiu por cima ao encostar o liberal às propostas da IL. Cotrim Figueiredo assumiu as dores do partido na questão da taxa única e até nas privatizações, em que Marques Mendes se socorreu da Caixa Geral de Depósitos, que é, aos dias de hoje, das mais lucrativas para o Estado.
Os jogos grandes não ganham campeonatos mas este debate era o campeonato de Cotrim Figueiredo e foi Marques Mendes a sair por cima.
Rui Pedro Antunes — Mendes e Cotrim disputam o mesmo espaço político, daí que o debate desta noite fosse dos mais importantes para ambos.
Luís Marques Mendes sabia que só tinha uma oportunidade para ferir João Cotrim Figueiredo — aquela meia hora — e entrou ao ataque. No combate de rua há uma regra fundamental: dar o primeiro soco, para deixar o adversário logo debilitado. Mendes conseguiu-o ao desafiar Cotrim a dizer quem da sua candidatura o pressionou a desistir. Ao não responder, o liberal passou como um populista que atirou uma toada para o ar (o que Mendes chamou de “Ventura envergonhado”) sem o provar com factos. O ex-líder da IL ficou abananado, a reclamar por aquele assunto ocupar tanto tempo de debate. Problema: foi ele a trazê-lo para a campanha.
João Cotrim Figueiredo conseguiu levantar-se do chão ao atirar o livro/longa-entrevista do jornalista do Observador Luís Rosa sobre Marques Mendes contra o candidato liberal. Cotrim alegou que o ex-líder do PSD só dedicou cinco páginas desse livro aos 18 anos em que esteve fora da política. Por um lado, o liberal conseguiu mostrar que conseguia contra-atacar, e logo onde mais dói a Mendes: na sua vida profissional — que não é conhecida do grande público. Por outro lado, o ex-líder do PSD conseguiu, em parte, anular o golpe, pois lembrou que Cotrim estava mais uma vez a atirar suspeições para o ar sem concretizar. “Tem alguma pergunta?”, chegou a questionar impávido Marques Mendes.
O liberal conseguiu ganhar pontos na legislação laboral, ao dizer claramente que promulgaria. Para quem quer ir buscar “metade do PSD”, não ter vergonha de validar opções do Governo é útil. É verdade que irrita a esquerda, os estatizantes e faz Keynes dar voltas na campa, mas desse lado já não vinha um único voto para o liberal.
Cotrim foi mais claro na definição do modelo económico que defende para o país, enquanto Mendes tentava, sem êxito, forçar um debate sobre jovens. Se estivéssemos em presidenciais nos EUA, esta parte poderia ser suficiente para o liberal reequilibrar o debate, mas como o país é Portugal, não chega.
Apesar disso, Mendes foi ainda eficaz a abanar os papões liberais, como a privatização da CGD — conseguindo a atenção/preocupação de milhões de portugueses (conservadores com as suas contas bancárias) que são clientes Caixa.
Recorde aqui:
o debate entre António José Seguro e Catarina Martins
o debate entre Catarina Martins e Cotrim Figueiredo
o debate entre António José Seguro e Marques Mendes
o debate entre António Filipe e Gouveia e Melo
o debate entre António José Seguro e Jorge Pinto
o debate entre Cotrim Figueiredo e António Filipe
o debate entre Luís Marques Mendes e Jorge Pinto
o debate entre André Ventura e Catarina Martins
o debate entre Jorge Pinto e Gouveia e Melo
o debate entre Marques Mendes e André Ventura
o debate entre Cotrim Figueiredo e Jorge Pinto
o debate entre Catarina Martins e Gouveia e Melo
o debate entre Gouveia e Melo e Cotrim Figueiredo