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Fact Check. Governo lança manual para identificar filhos com "tendências da extrema-direita"?

Nas redes sociais surgiu um manual para os pais identificarem filhos com "tendências da extrema-direita" — com identificação da "Direção-Geral de Cidadania e Igualdade". Será verdade?

Miguel Pinheiro Correia
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A frase

Alerta. Terá o seu filho tendências da Extrema-Direita? Esteja atento aos seguintes comportamentos. (…) Em caso de dúvida, contacte as autoridades ou os serviços de apoio à prevenção da radicalização.

— Utilizador de Facebook, 17 de outubro de 2025

Em vários perfis de diferentes redes sociais — desde o Facebook ao Telegram —, tem surgido um cartaz com um chamativo “Alerta” escrito em letras garrafais, acompanhado de um pretenso manual que pretende ajudar os pais a identificar filhos que se posicionem politicamente na “extrema-direita”.

“Terá o seu filho tendências da Extrema-Direita? Esteja atento aos seguintes comportamentos”, lê-se no suposto panfleto com várias indicações, entre as quais: “Rejeição do consumo de drogas, álcool ou pornográfia (sic)”; “Valorização de atividades ao ar livre e contacto com a natureza”; “Apreço pela história, cultura e símbolos nacionais”; “Interesse por literatura clássica e autores tradicionais”.

O cartaz termina com um aviso. “Em caso de dúvida, contacte as autoridades ou os serviços de apoio à prevenção da radicalização”. Além disso, e mais relevante, a imagem tem no topo superior direito o símbolo da República Portuguesa, o brasão de fundo e, no canto inferior direito, uma assinatura da “Direção-Geral de Cidadania e Igualdade”, além do endereço eletrónico do site do Governo e, novamente, o logótipo.

“Agora percebo porque é que todos os dias me chamam de facho”, lê-se na descrição da publicação que conta com alguns comentários de pessoas incrédulas com esta descrição aparentemente institucional.

Contactado pelo Observador, o Governo esclarece que não só a publicação é falsa, como não existe nenhuma “Direção-Geral de Cidadania e Igualdade”. “Importa esclarecer que a imagem que circula nas redes sociais, alegadamente emitida pela ‘Direção-Geral de Cidadania e Igualdade’, é falsa e não corresponde a qualquer campanha oficial do Governo. Mais se informa que não existe atualmente qualquer entidade pública com essa designação — o organismo competente nesta área é a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG)”, esclareceu o ministério da Cultura, Juventude e Desporto.

O Executivo também lembra, na resposta ao Observador, que há vários “elementos essenciais” que podem ser verificados para comprovar estas “publicações ou conteúdos com aparência institucional”. “Se o conteúdo se encontra publicado em canais oficiais (como gov.pt ou redes sociais verificadas de Ministérios); Se o nome e o logótipo das entidades correspondem aos oficialmente existentes; Se existe confirmação da informação divulgada em comunicados ou notas de imprensa governamentais”.

Além disso, a presença de erros ortográficos — como na palavra “pornografia” — pode indicar que a publicação não teve a revisão normalmente associada a uma comunicação institucional do Governo.

“Este caso concreto é retrato da importância que cada vez mais se impõe no que concerne à verificação das fontes e da autenticidade das imagens, mesmo quando estas recorrem a símbolos ou identidades visuais do Estado, uma vez que podem ser manipuladas para deliberadamente desinformar. Reforça-se ainda a necessidade de reportar às autoridades competentes sempre que sejam identificados conteúdos desta natureza, nomeadamente, ao Centro Nacional de Cibersegurança”, rematou o ministério.

Conclusão

Este cartaz do Governo é falso e insere-se na retórica de vitimização muitas vezes usada por páginas extremistas para gerar indignação e, com isso, mais interação. A falsidade da partilha é comprovada pelo facto de nem sequer existir uma Direção-Geral com o nome apresentado na imagem — que usa o logo do Governo para passar por verdadeira.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.