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Depois de ganhar carro elétrico, Autoeuropa vai eletrificar produção e substituir gás natural até 2029

Fábrica de Palmela vai substituir o gás natural que usa na pintura das carroçarias por eletricidade e está a instalar campos geotérmicos para controlar a temperatura na unidade através da água.

Ana Suspiro
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A Autoeuropa anunciou a produção do primeiro veículo totalmente elétrico este ano. O novo modelo da Volkswagen só começará a sair da linha de montagem a partir de 2027 e 2026 será o último em que serão ainda fabricados automóveis a gasolina em Palmela.

Em paralelo com a transição para os carros elétricos, a fábrica de Palmela está já a investir na transformação do processo produtivo para descarbonizar o mais possível a produção, o que passa por fornos a eletricidade na produção, mas também pelo recurso à geotermia para reduzir as necessidades de energia na climatização dos equipamentos.

A execução deste projeto, que foi apresentado esta terça-feira aos jornalistas pela Autoeuropa, vai reforçar a posição de Palmela como fábrica de bandeira (flag ship) da descarbonização dentro do grupo Volkswagen.

Com esta transformação, a Autoeuropa conta reduzir em 30% a energia total consumida, com benefícios na fatura, ainda que resulte num aumento do consumo de eletricidade. Haverá apenas uma margem pouco acima dos 10% das necessidades de energia que continuarão a vir de fontes fósseis.

Será uma transformação que vai além do produto e que implica uma grande mudança na fábrica, que já não produzirá apenas híbridos, sublinhou o diretor-geral da unidade de Palmela, Thomas Hegel Gunther.

A descarbonização do processo industrial tem um valor previsto da ordem dos 300 milhões de euros, para o qual o Estado português já anunciou um incentivo financeiro de 30 milhões de euros. É um projeto para executar até ao primeiro semestre de 2029.

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A Autoeuropa ainda não revelou qual será o valor do investimento a realizar para a produção do novo modelo totalmente elétrico — o ID Every1c. Em curso estão investimentos de 500 a 600 milhões de euros para o modelo que está em produção — o T-Roc híbrido.

Apesar da eletrificação, a fábrica de Palmela depende totalmente de terceiros para o abastecimento de energia. A empresa está a estudar instalação de produção própria a partir de fontes renováveis — eólica e fotovoltaica — mas ainda não há uma decisão tomada para avançar no horizonte dos próximos cinco anos, explicou ao Observador a diretora de planeamento e produção, Margarida Pereira. Para já, apenas a nova ETARI (estação de tratamento de água residual e industrial) tem painéis fotovoltaicos instalados na cobertura, o que permite à instalação ter autonomia energética durante o dia.

Grande parte da atividade industrial da Autoeuropa, como é o caso da linha de montagem, já usa eletricidade. Mas há duas componentes da produção que usam o gás natural, combustível que ainda representa 50% da energia total consumida pela empresa.

O maior consumidor de energia é o processo de pintura da carroçaria que engloba não só a aplicação de tinta e verniz, mas também a fase de tratamento e anticorrosão, afirma a diretora de planeamento da produção da Autoeuropa. Margarida Pereira explica que a cada fase da pintura o carro tem de ser “cozido” num forno que atualmente é abastecido a gás natural. E são necessárias varias “cozeduras” ao longo do processo. Este forno vai passar a ser elétrico e terá lugar numa nova nave de pintura que está atualmente em construção.

Outro processo que usa o gás é a climatização das instalações de pintura que é assegurada por cerca de uma centena de unidades de insuflação na cobertura das naves industriais. Em cada uma delas, ilustra Margarida Pereira, é como se existisse “um bico a gás natural” a queimar para produzir calor no Inverno e frio no verão. Essa função vai passar a ser garantida por centrais centralizadas nas zonas norte e sul da área industrial que vão usar eletricidade para produzir valor ou frio. Este processo tem associado um sistema de tubagens por onde circula água que distribui a temperatura ajustada pelas naves industriais.

Para garantir que a água fique temperada, foram instalados dois campos de geotermia nos terrenos da fábrica que usam perfurações no solo com profundidades médias de 12o metros, e onde a temperatura média ronda os 19 graus. Essa água é transportada através de um circuito fechado para obter o nível da refrigeração adequada, reduzindo substancialmente a necessidade de usar eletricidade para este fim. A água é reutilizada.

A Autoeuropa pretende igualmente reduzir o atual consumo de água, o que passa por instalar um novo processo de filtros nas cabinas de pintura e verniz que dispensa o uso de água para arrastar os resíduos e partículas. Vão ser usados filtros que usam apenas o ar.

Ao contrário da eletricidade, da qual a Autoeuropa depende totalmente de terceiros, a empresa tem alguns furos para consumo próprio de água, que complementa com abastecimento da rede. Sobre a produção própria de eletricidade no perímetro da fábrica, a diretora de planeamento de produção indicou ao Observador que existem estudos “que apontam em duas direções possíveis” — painéis fotovoltaicos para reforçar o abastecimento e autonomia energética ou instalação de turbinas eólicas. “São estudos e cenários”, que também podem vir a contemplar baterias, “mas não há tecnicamente nada que se perspetive nos próximos cinco anos”.

Com uma produção diária de quase 1.000 carros e laboração em contínuo, a Autoeuropa é a maior fábrica de automóveis em Portugal com um contributo de 1,6% para o Produto Interno Bruto e peso de 4,5% nas exportações, segundo dados de 2024.