Pelo menos 60 membros do grupo criminoso Comando Vermelho, incluindo dois dos seus líderes, morreram esta terça-feira numa megaoperação na cidade brasileira do Rio de Janeiro. Segundo o mais recente balanço do Governo deste estado brasileiro, o grupo retaliou com um ataque de drones e quatro polícias foram mortos. Esta é já a operação mais letal de sempre no Rio de Janeiro.
No total, 81 homens foram detidos, cinco deles feridos e hospitalizados, encontrando-se sob custódia. As autoridades apreenderam 75 fuzis, duas pistolas e nove motos. Segundo o portal G1, que cita fontes do Governo do Rio de Janeiro, os quatro polícias foram mortos durante os confrontos nos complexos do Alemão e da Penha — dois são polícias civis e dois são militares do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). De acordo com a imprensa brasileira, há ainda nove agentes baleados e três civis também foram atingidos vítimas de bala perdida. Entre os civis feridos, está uma mulher que frequentava o ginásio e que foi atingida de raspão, mas que entretanto já recebeu alta, e um homem sem-abrigo que foi atingido nas costas.
Os bloqueios foram ordenados pelo Comando Vermelho depois de cerca de 2.500 polícias terem ocupado, desde a madrugada, as comunidades que compõem os complexos de favelas da Penha e do Alemão, numa operação destinada a prender os líderes da organização.
“É assim que a polícia do Rio de Janeiro é recebida por criminosos: com bombas lançadas por drones. Esse é o tamanho do desafio que enfrentamos. Não é mais crime comum, é narcoterrorismo”, escreveu nas redes sociais o governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, acompanhado por um vídeo das operações no qual é possível ver a utilização de drones para lançar bombas contra as autoridades.
https://twitter.com/claudiocastroRJ/status/1983132405645852872
Por outro lado, durante o dia, pelo menos 50 autocarros de transporte público foram roubados e utilizados pelos narcotraficantes para bloquear ruas e avenidas, segundo a RioÔnibus, empresa responsável pelo serviço, que teve de alterar os itinerários de 120 carreiras de autocarros devido aos tiroteios e ao bloqueio das vias. As universidades, incluindo a prestigiada Universidade Federal do Rio de Janeiro, e várias escolas públicas e privadas de vários bairros da cidade encerraram as portas e enviado os alunos para casa.
Perante a situação caótica, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro declarou o nível 2 de risco, numa escala que vai até 5. O presidente do município do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, explicou que as medidas adotadas, especialmente a decisão de que todos os serviços públicos continuem a funcionar normalmente e prolonguem os horários, visam evitar que a cidade brasileira seja paralisada por grupos criminosos. “O Rio não pode tornar-se refém dos grupos criminosos”, afirmou Paes numa conferência de imprensa no Centro de Operações, de onde coordena as medidas para reverter a paralisação da cidade.
O autarca acrescentou que os grupos criminosos também recorrem a notícias falsas nas redes sociais para tentar gerar pânico e paralisar ainda mais a cidade. “Não podemos aceitar que esses grupos criminosos tomem o controlo da cidade desta forma. Já é inaceitável perder parte do nosso território e menos ainda ver a cidade inteira paralisada”, declarou.
Entre as vias afetadas figuram algumas das mais importantes da cidade, como a Avenida Brasil, a Linha Vermelha, a Linha Amarela e a Via Grajaú-Jacarepaguá, na zona norte e oeste da ‘cidade maravilhosa’. Um grupo chegou mesmo a bloquear por alguns minutos, com um camião, a principal via de acesso ao aeroporto internacional do Rio de Janeiro, o que provocou atrasos entre os passageiros, embora sem levar ao encerramento do terminal.
Governo estadual e Governo federal trocam acusações
Em conferência de imprensa, o governador do estado brasileiro do Rio de Janeiro criticou a falta de apoio do Governo Federal contra as organizações criminosas. Cláudio Castro classificou a operação como “a maior” já realizada contra o Comando Vermelho e disse que o Rio de Janeiro “está sozinho nessa guerra”. “Essa operação de hoje tem muito pouco a ver com a Segurança Pública. É uma operação de Estado de Defesa. É uma guerra que está passando os limites (…) que nada tem a ver com segurança urbana. Deveríamos ter um apoio maior e até das Forças Armadas”, frisou o governador. “Não temos o auxílio de blindados nem dos agentes de forças federais, nem de segurança nem de defesa”, criticou.
Já o Governo federal brasileiro garantiu não ter recebido qualquer pedido de ajuda do governador do Rio de Janeiro para apoiar a megaoperação. “Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro (…) para esta operação, nem ontem, nem hoje, absolutamente nada”, disse, em conferência de imprensa, o ministro brasileiro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.
O ministro brasileiro recordou ainda que responsabilidade pela segurança pública “nos estados é das autoridades locais, é do governador”. “As forças federais não são forças coadjuvantes das polícias militares e das polícias civis, nós auxiliámos o Rio de Janeiro no que pudemos”, frisou Lewandowski, acrescentando que quando o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, pediu a transferência de líderes das fações criminosas para as penitenciárias federais de segurança máxima esse pedido “foi atendido”.
A Operação Contenção, que visava deter líderes criminosos do Rio de Janeiro e de outros estados, e de combater a expansão do Comando Vermelho, mobilizou cerca de 2.500 agentes, que entraram em confronto com os alegados criminosos, com o objetivo de cumprir 100 mandados de prisão e 150 de busca e apreensão.
Esta é já a operação mais letal de sempre do Rio de Janeiro, depois das duas operações realizadas em maio 2021, no Jacarenzinho, que causou 28 mortes, e em maio de 2022, na Vila Cruzeiro, que registou 24 mortes.
Pelo menos 45 escolas fecharam, cinco clínicas suspenderam os atendimentos e 12 autocarros desviaram o seu trajeto devido à operação, segundo a imprensa brasileira.“Peço aos moradores da região que permaneçam em casa enquanto as forças de segurança atuam”, apelou o governador.
O Comando Vermelho foi criado em 1979 nas prisões do Rio de Janeiro e é atualmente uma das organizações criminosas mais perigosas do mundo.
Notícia atualizada às 22h49 com paralisação do Comando Vermelho.
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