O jogo foi um ponto de viragem. Na temporada passada, o Real Madrid foi goleado pelo Barcelona nos dois jogos do Campeonato, perdeu a final da Taça do Rei para os catalães e voltou a ser derrotado na Supertaça. Já esta época, sofreu uma goleada com o Atl. Madrid depois de no ano passado ter empatado duas vezes com os colchoneros. Este domingo, o Real Madrid venceu o Barcelona e conquistou finalmente um jogo grande — mas já ninguém se lembra disso.
Apesar de terem sido os golos de Mbappé e Jude Bellingham a contrariar o de Fermín López para garantir os três pontos no Santiago Bernabéu, Vinícius tornou-se o protagonista da noite. O avançado brasileiro foi substituído por Xabi Alonso já dentro dos últimos 20 minutos, motivando a entrada de Rodrygo, mas apressou-se desde logo a demonstrar desagrado em relação à saída: ficou de boca aberta a olhar para a placa com os números, soltou vários impropérios em direção ao banco de suplentes e caminhou para a linha lateral quase sem olhar para o colega de equipa e enquanto falava sozinho.
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Já depois de sair, sem sequer cruzar um olhar com Xabi Alonso, foi interpelado pelo adjunto Sebas Parrilla e soltou as afirmações que gelaram o universo do Real Madrid: “Sempre eu! Vou deixar a equipa, é melhor se deixar a equipa, eu deixo”, atirou, de braços no ar e cabeça perdida, acabando por descer imediatamente aos balneários sem sequer passar pelo banco de suplentes.
Uns minutos depois, porém, voltou. Assistiu à ponta final do jogo como se nada se tivesse passado, junto a Mbappé e Bellingham no banco, e ainda teve tempo para se envolver na confusão que marcou o final da partida: Pedri agarrou-lhe a camisola, Raphinha garantiu que não chegava a vias de facto com Lamine Yamal e ainda atirou umas frases pouco simpáticas ao avançado espanhol. Tudo dentro de campo, com polícia à mistura e já de chinelos calçados.
Depois do jogo, Vinícius publicou um conjunto de fotografias no Instagram, escrevendo apenas “um lindo domingo em casa”, e acabou por ser convencido pela estrutura do Real Madrid a dar uma pequena entrevista ao canal de televisão do clube – onde não abordou o desentendimento com o treinador, mas falou sobre a discussão com os adversários. “O Clássico é assim, existem muitas coisas a acontecer dentro e fora de campo. Tentamos equilibrar tudo, mas às vezes não é possível. Não queremos ofender ninguém, nem os jogadores do Barcelona nem os seus adeptos”, sublinhou.
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Xabi Alonso não quis comentar o episódio na conferência de imprensa, limitando-se a confirmar que o assunto seria discutido internamente, mas reconduzindo todo o foco para a vitória importante que o Real Madrid tinha acabado de conquistar contra o principal rival. Certo é que, se ficou claro logo no Mundial de Clubes que o avançado brasileiro não seria indiscutível para o treinador espanhol, a ideia tem-se prolongado ao longo da temporada: Vinícius não foi titular em três dos 13 jogos dos merengues esta temporada, só terminou outros três dos 10 em que começou de início e é apenas o sexto jogador mais utilizado do plantel.
E há quem o defenda. Apesar de o desagrado do brasileiro ter caído mal junto do universo do Real Madrid, que não apoia nem encoraja este tipo de comportamento dentro de campo, Toni Kroos saiu em defesa do antigo colega e lembrou que nem sempre é fácil gerir as emoções provocadas e espoletadas por um jogo desta dimensão.
“Quando fazes um jogo excecional, principalmente num jogo destes, não ficas contente. Eu também nunca gostei de ser substituído. Mas, sendo justo, nunca fui diretamente para o balneário. Podemos sempre julgar a partir de fora, mas temos de ter presente que ninguém a não ser os que lá estão, num Clássico e em frente a 80 mil pessoas, sabe que um jogador quer tudo menos sair. Ninguém pode imaginar essa emoção. A maioria dos que a julgam nem sequer conseguem colocar-se naquele lugar”, começou por dizer o antigo médio alemão no seu podcast.
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Ainda assim, Kroos deixou um recado a Vinícius, sublinhando também que não acredita que o caso traga ondas de choque no balneário. “A frio e ao longo vai pensar ‘bem, podia ter guardado a raiva um pouco mais’. Posso entender, mas como se vê nas imagens não dá a impressão de ser o ideal. Ainda assim, quero assinalar que é uma situação emocional excecional estar num jogo assim. Vi coisas destas aconteceram muitas vezes e acho que não podemos levar tudo tão a sério. Os treinadores também não o fazem, sobretudo os que foram jogadores”, indicou.
A opinião, porém, não é unânime. Álvaro Benito, antigo jogador do Real Madrid, lembrou a Vinícius uma lição que aprendeu logo nos primeiros tempos nas camadas jovens dos merengues – e sublinhou que, muito provavelmente, o clube terá um problema para resolver em relação ao comportamento do avançado brasileiro.
“Tem de controlar as emoções. A mim ensinaram-me em pequeno. Cheguei com 12 anos ao Real Madrid e a primeira coisa que me disseram foi: ‘Tu não te representas a ti, tu representas o Real Madrid’. Os jogadores não se representam a eles mesmos, representam algo muito maior do que eles. Se isto se repete não é uma decisão do Xabi Alonso, acho que o próprio clube tem de perceber o que quer fazer em relação ao tema. É um assunto de respeito à instituição, aos colegas e ao treinador. É algo que não pode repetir-se, mas que dificilmente é controlável”, concluiu, em declarações no programa “El Larguero” da Cadena SER.