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(A) :: Furacão Melissa faz sete mortos nas Caraíbas. Já chegou a Cuba com Presidente a antecipar que "causará muitos danos"

Furacão Melissa faz sete mortos nas Caraíbas. Já chegou a Cuba com Presidente a antecipar que "causará muitos danos"

Melissa é um furacão de categoria 3 e um dos mais fortes do ano. Deixou rasto de destruição e mortes no Haiti, República Dominicana, Jamaica e já chegou a Cuba, com Díaz-Canel a antecipar os danos.

Madalena Moreira
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Manuel Nobre Monteiro
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Agência Lusa
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Primeiro, o Haiti, depois a República Dominicana e a Jamaica, onde chegou pelas 12h00 locais (17h00 em Portugal Continental), e depois Bahamas e Cuba. É este o percurso do furacão Melissa, que, com ventos de mais de 295 quilómetros por hora, desceu esta quarta-feira para um furacão de categoria 3 (a terceira mais alta na escala), depois de ter ameaçado ser a tempestade mais forte de 2025,  segundo dados do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, na sigla inglesa).

https://twitter.com/NHC_Atlantic/status/1983095400505499904

O furacão Melissa atingiu Cuba esta quarta-feira, com o Presidente, Miguel Díaz-Canel, a admitir que o país sofreu “danos consideráveis” com a passagem do furacão Melissa, que obrigou à deslocação de mais de 700 mil pessoas, depois de ter devastado a Jamaica. “A noite foi muito difícil”, escreveu o chefe de Estado na rede social X, apelando aos cubanos para que “permaneçam em casa” devido aos ventos extremamente fortes e à instabilidade meteorológica.

Ao início do dia, Díaz-Canel já tinha confirmado que foram colocadas várias brigadas para ajudar nos esforços de recuperação. “Já existem brigadas especializadas em eletricidade, recursos hídricos, comunicações e construção que trabalharão em conjunto com as forças em cada território nos esforços de recuperação”, afirmou, citado no The Guardian. “Sabemos que este ciclone causará muitos danos. Teremos toda a capacidade para recuperar a produção de alimentos, a reconstrução de casas destruídas ou danificadas, a recuperação da economia e também a recuperação e vitalidade dos principais processos produtivos e sociais do país.”

Na Jamaica, três pessoas morreram durante os preparativos para a chegada da tempestade — duas após árvores lhes terem caído em cima e uma terceira por eletrocussão —, confirmou o ministro da Saúde e Bem-Estar, Christopher Tufton, na noite de segunda-feira. Outras 13 pessoas ficaram feridas, a maioria em quedas de escadas e telhados enquanto tentavam reforçar as casas. “Não apostem contra a Melissa porque vão perder”, apelou o ministro jamaicano Desmond Mckenzie.

A tempestade, que chegou ao noroeste jamaicano no final do dia de terça-feira, chegou a ser classificada como categoria 5 pelo NHC, mas com a aproximação da ilha da Jamaica, acabou por perder alguma potência. Não obstante, a agência mantém os avisos: “Esta continua a ser uma situação extremamente perigosa”, escrevem nas suas plataformas oficiais.

https://twitter.com/NHC_Atlantic/status/1983264557348073533

Poucas horas após a tempestade ter infiltrado território jamaicano, o ministro Desmond McKenzie adiantava que mais de 530 mil pessoas estavam sem eletricidade. Recorde-se que a Jamaica tem uma população de 2,8 milhões. Ao mesmo tempo, a região de St. Elizabeth, no sudoeste do país, viu o seu único hospital público com “danos significativos” numa das suas secções. “As instalações administrativas sofreram danos significativos, e o abastecimento elétrico em algumas zonas foi afetado”, revelou o hospital num comunicado citado pela agência Reuters.

Em preparação, Kingston decretou ordens obrigatórias de evacuação para as zonas em risco de inundação e enviou autocarros para retirar as populações locais, descreve a Associated Press. Para além das inundações, são esperados deslizamentos de terras e ventos severos, que levaram o Presidente jamaicano a declarar que “tem estado de joelhos a rezar” pelo país. O meteorologista Jonathan Porter antecipou à agência que a catástrofe ambiental pode “tornar-se numa crise humanitária rapidamente”.

Para dar resposta, o Governo abriu mais de 800 centros de abrigo em todo o território, incluindo escolas, igrejas e edifícios públicos. Contudo, apenas 133 estavam a ser utilizados até à manhã desta terça-feira, revelou à CNN Tannecia Stephenson, especialista de Ciências do Clima. “Há alguma afluência no acesso a estas instalações, mas não tanto quanto se esperava”, explicou.

Algumas pessoas recusaram abandonar as suas casas. É o caso de Walker, que não quis ir para um abrigo com os dois filhos devido a uma experiência “terrível” durante o furacão Ivan, em 2004. Ao todo, o Governo contabilizou menos de mil pessoas nos 800 abrigos por toda a ilha. Em resposta, o ministro dos transportes notou a natureza inédita da tempestade e apelou às pessoas para “serem espertas“. “Se não, infelizmente, pagarão as consequências”.

https://twitter.com/BradyBGWX/status/1983092486454292814

O NHC insiste que o furação irá alcançar o continente com uma força “devastadora, capaz de causar danos estruturais completos em áreas expostas e elevadas”. O aeroporto internacional de Kingston já registou ventos de 65 quilómetros por hora e rajadas de 83 quilómetros por hora em pré-fase da tempestade.

https://twitter.com/NHC_Atlantic/status/1983105019202183488

A Organização Meteorológica Mundial (OMM), afiliada na ONU, declarou que “é esperada uma situação catastrófica na Jamaica“. De acordo com a especialista em ciclones tropicais da OMM, Anne-Claire Fontan, “para a Jamaica, esta será, sem dúvida, a tempestade do século“. Por seu turno, um porta-voz da Cruz Vermelha anunciou que se estima que o furacão Melissa afete diretamente pelo menos 1,5 milhões de jamaicanos.

https://twitter.com/BackpirchCrew/status/1983052567409025142

Também nas Bahamas se fazem preparações para o furacão, que deverá atingir o sudeste do país esta terça-feira. O Governo emitiu ordem formal de retirada dos residentes de cinco municípios. “Este aviso é emitido para garantir que as pessoas que correm maior risco possam ser realocadas de forma segura antes que as condições piorem”, precisou o primeiro-ministro das Bahamas, Phillip Davis, numa conferência de imprensa, em que acrescentou que os planos irão sendo atualizados ao longo de terça e quarta-feira e instou os residentes das áreas evacuadas manter o contacto com a ‘Family Island’ para obter informações detalhadas sobre os horários a que terão de deixar os locais onde vivem e os meios de transporte.

Neste contexto, as Nações Unidas anunciaram a ativação do seu mecanismo de Ação Antecipada face ao próximo impacto do furacão Melissa em Cuba, com o qual prevê distribuir mais de 100 toneladas de arroz e material de emergência. O Presidente Miguel Díaz-Canel apelou esta terça-feira à população para que cumpra as medidas de proteção civil para se evitarem mortes e danos resultantes do impacto do potente furacão Melissa no leste da ilha.

“Sabemos que os danos que este furacão vai causar serão muitos, mas teremos a capacidade de nos recuperarmos na produção de alimentos, na recuperação das habitações e também na recuperação da economia”, disse o Chefe de Estado cubano numa mensagem difundida na televisão estatal.

Ainda antes de chegar à Jamaica, o Melissa já deixou um rasto de destruição pela América Central. No Haiti, três pessoas morreram e mais de 15 hectares de plantações de milho foram destruídos, o que pode agravar a fome que o país vive. Na República Dominicana, morreu uma pessoa, 50 mil pessoas ficaram sem energia e mais de 3 mil ficaram desalojadas. “Não é motivo para brincar”, alertou o ministro do ambiente dominicano.

O Melissa é o décimo terceiro furacão da época do Atlântico. Porém, o facto de ser uma tempestade lenta torna-o particularmente destrutivo. “Quando mais devagar uma tempestade se desloca, mais tempo tem para despejar muita chuva num único local”, simplificou Stephen Mullens, professor da Universidade da Florida ao New York Times. Além da chuva, os ventos prolongados num mesmo local também afetam mais facilmente estruturas debilitadas.

https://twitter.com/BackpirchCrew/status/1982555017694605552

O fenómeno é causado quando a tempestade fica “presa” entre duas zonas separadas de alta pressão, que fazem abrandar os ventos que “empurram” o sistema. Neste caso, o Melissa abrandou ao largo do sudeste da Jamaica, sobre as águas quentes do Mar das Caraíbas, onde velocidade passou para metade dos cerca de 16 quilómetros por hora a que uma tempestade costuma circular nas Caraíbas. As águas quentes e a geografia montanhosa do Haiti e da Jamaica acentuam o fenómeno, pois a intensa humidade “alimenta” a tempestade, o que pode causar níveis de precipitação inéditos.

(Artigo atualizado às 8h00 com atualização da categoria do furacão de 4 para 3)

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