Pela primeira vez desde que é Presidente, Trump impôs sanções à Rússia. Caso para dizer, finalmente. E não foram sanções leves. Os alvos foram as maiores empresas petrolíferas da Rússia, a Rosneft e a Lukoil. Biden nunca sancionou estas duas empresas, mas já tinha imposto sanções às terceira e quarta maiores petrolíferas russa, a Gazprom Neft e a Surgutneftegaz. As quatro empresas juntas exportam cerca de 4/5 do petróleo russo.
Às sanções norte-americanas, junta-se o pacote mais recente de sanções da União Europeia (aprovado na semana passada) que termina com a compra de petróleo russo pelos europeus no início do próximo ano. Simultaneamente, as refinarias da Índia, que compravam na Rússia, refinavam e vendiam para o resto do mundo (incluindo para a Europa), já declararam que vão deixar de comprar petróleo russo. A diminuição drástica da exportação de petróleo vai afectar de um modo grave, não só a economia russa, como a sua capacidade de financiar a guerra (cerca de um terço do orçamento de estado na Rússia é pago pelas receitas do petróleo). Além disso, a Ucrânia está a intensificar os ataques militares às infraestruturas petrolíferas na Rússia, campos de petróleo e refinarias.
Com as sanções, Trump quer forçar Putin a aceitar um cessar-fogo e um processo de paz. Mas Putin enfrenta um grave problema. No dia que aceitar a paz, toda a gente na Rússia (e no resto do mundo) vai perceber o óbvio: para quê uma guerra que trouxe tantos custos para a Rússia e tão poucos ganhos?
O que ganhou a Rússia com a guerra até agora? Antes de Fevereiro de 2022, as tropas russas ocupavam cercar de 45 mil km2 de território ucraniano. Neste momento, ocupam cerca de 90 mil km2, mas isso não chega a 20% do território ucraniano. Nem sequer conseguiram ocupar todo o Donbass; por isso, Putin diz sempre a Trump que quer toda a região para iniciar negociações de paz. Quer conquistar pelo acordo de paz o que não consegue através da guerra. Os ganhos da Rússia em mais de três anos e meio de guerra são 45 mil km2.
Vamos agora enumerar os custos e as perdas. Antes de mais, convém recordar que Putin, em Fevereiro de 2022, justificou o início da guerra, afirmando que a nação ucraniana “não existia”. Hoje, não deve haver alguém no mundo a negar a existência da nação ucraniana. Mas a Rússia perdeu muito mais com a guerra. Morreram mais de um milhão de soldados russos. A economia está a ficar destruída: a inflação e a dívida pública estão a aumentar; no último orçamento de estado, acentuou-se a carga fiscal e a classe média russa começa a pagar os custos de guerra; o sector petrolífero está em crise, a vender cada vez menos e a preços a baixo do que se pratica no mercado, e sem tecnologia para aumentar a produção; as reservas de moeda estrangeira desapareceram do banco central. Nas últimas semanas, assistiram-se a purgas em Moscovo, com juízes e militares presos. No plano externo, a Rússia está mais dependente da China (o que deixa muitos nas forças armadas em pânico), e perdeu a influência que lhe restava no Médio Oriente. Eis o preço de 45 mil km2:
- Centenas de milhares de mortos;
- A economia destruída;
- Perda dos maiores mercados de energia;
- Dependência da China;
- Redução da Rússia a uma potência regional incapaz de derrotar o seu vizinho mais relevante;
- Transformação da Ucrânia numa nação independente e europeia.
A Rússia está a perder a guerra, e Putin sabe. Em Fevereiro de 2022, cometeu o maior erro da sua vida política. O grande risco é se recorre a armas nucleares para esconder o seu fracasso absoluto.