
A frase
Recentemente, esta mulher chegou ao aeroporto dos Estados Unidos da América com um passaporte de um país estranho chamado “TORENZA”. O passaporte tinha vistos de outros países também desconhecidos. O que chamou atenção das autoridades americanas é que este país não existe.
— Utilizador do Facebook, 14 de outubro de 2025
As imagens mostram uma mulher idosa, vestida com um chador azul que só lhe deixa a face a descoberto. Está visivelmente desorientada, parece até assustada. A voz off explica: acaba de aterrar no aeroporto JFK, em Nova Iorque, vinda algures do Japão, e de mostrar aos funcionários da imigração dos Estados Unidos um passaporte emitido por Torenza — país que não existe. O passaporte parece real, continua a narração: “Tem chip biométrico, hologramas e vários carimbos, mas todos de lugares que não existem em nenhum mapa”. Depois de ser confrontada com a inexistência de Torenza, a mulher fica ainda mais confusa e faz um desabafo altamente perturbador: “Então, este não é o meu mundo?”. A seguir, há uma interferência no vídeo e a enigmática passageira desaparece sem deixar rasto.

Há inúmeros registos e variantes do vídeo, também em vários idiomas, nas redes sociais. As imagens têm servido para alimentar teorias sobre a vida extraterrestre, dimensões paralelas e afins. Mas basta uma observação superficial para perceber que não são reais. Ou melhor, metade das imagens usadas nos vídeos são reais — as da mulher de chador desorientada num aeroporto americano e da funcionária da companhia aérea que tenta ajudá-la são verdadeiras. Já a sequência em que uma mulher com os mesmos traços, mas consideravelmente mais nova, é detida por agentes da polícia norte-americana e acaba a desaparecer são nítida e comprovadamente geradas através de inteligência artificial.
As imagens reais existem e estão disponível na Internet porque foram feitas no âmbito do Airline, um programa de televisão do canal americano A&E que, entre janeiro de 2004 e dezembro de 2005, mostrou o dia a dia de passageiros, funcionários de terra e tripulantes da Southwest Airlines.
As gravações em causa remontam a setembro de 2004 e foram captadas, não no JFK, mas no aeroporto de Los Angeles. A mulher, que estava efetivamente desorientada, não vinha de Torenza, com uma passagem pelo Japão, mas de Baltimore, no estado americano de Maryland — e era cidadã saudita. Não falava uma única palavra de inglês e o sobrinho, que tinha ficado de a apanhar à chegada, estava atrasado. A funcionária da companhia aérea estava só a tentar ajudá-la.
Conclusão
Não é verdade que esta mulher tenha chegado a solo americano com um passaporte de um país que não existe, Torenza. O vídeo viral em que essa teoria é explanada mistura imagens reais, emitidas na televisão americana, com imagens geradas por inteligência artificial. A mulher estava desorientada, sim, mas por não falar inglês e não ter ninguém para a receber à chegada. Não por ser uma viajante de outro mundo ou de uma dimensão paralela.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.