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Minho: a terra que sustenta a democracia local!

Enquanto o país discute burkas e outras baboseiras, o Minho vota e garante níveis de participação constantes de eleição para eleição.

Paulo Ricardo Lopes
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Num tempo em que a política nacional se tornou refém de ciclos mediáticos e de estratégias partidárias voláteis, o Minho mantém-se fiel a uma outra ideia de democracia — a que se constrói de perto, entre vizinhos, nas feiras e nas praças. No mapa das últimas autárquicas, o Quadrilátero Minhoto — Braga, Guimarães, Famalicão e Barcelos — voltou a provar que a política de proximidade ainda resiste, e que aqui se vive com outra intensidade.

Enquanto os grandes comentadores nacionais nos ignoram olimpicamente, preferindo abordar disputas em outras zonas do país, demasiado preocupados com leituras nacionais de eleições que são locais, o eleitor minhoto vai às urnas e vota como em nenhum outro lugar do país.

No Minho votou-se mais!

Numas eleições em que a abstenção é imagem de marca em muitos dos maiores concelhos, o Quadrilátero Minhoto disse presente.

Eleitores e Votantes nas autárquicas 2025

A taxa de participação eleitoral nas autárquicas foi bem acima da média nacional, com os maiores municípios do Minho a subirem lugares na tabela dos municípios com mais votantes, colocando quatro municípios no top15 de votantes, sendo que só dois estão nesse top15 em termos de eleitores.

Falta de Mediatismo

Curiosamente, esta vitalidade política quase nunca merece manchete. O Minho não tem mediatismo que merece, tendo ocorrido aqui duas das mais disputadas lutas autárquicas e pouco se falou delas. Uma das grandes viradas nestas autárquicas foi em Guimarães, bem mais relevante do que as mais badaladas em Viseu, Bragança ou Coimbra, que conseguiram ter mais destaque.

Enquanto Lisboa e Porto monopolizam o debate público, os candidatos do Minho trabalham sem protagonismo nacional, enquanto se fala abundantemente de Isaltino em Oeiras, da Margem Sul e do Algarve, no Quadrilátero Minhoto só Braga mereceu algumas referências e mesmo estas mais como causa da inexplicável escolha do PSD nacional, do que pelo interesse nos problemas da cidade.

Mesmo assim, o eleitor do Minho disse presente. Faltou-lhe o espetáculo, mas sobrou-lhe substância do voto. E é nesse contraste entre ruído e trabalho que se revelou mais uma vez o nosso verdadeiro amor à democracia.

Braga, Capital do Norte

Este slogan que marcou a campanha da IL em Braga não esteve longe de ser atingido. A distância entre o número de votantes em Braga e no Porto foram apenas 7 mil votos. Será que a atenção mediática se aproximou desta tendência?

Não, claro que não. E fica cada vez mais difícil explicar o porquê de a Câmara Municipal do Porto ter mais vereadores que as restantes com mais de 100 mil habitantes. Sintra e Gaia servem mais pessoas e não têm igual número de vereadores, porquê?

A disputa eleitoral de Braga teve tudo, dois partidos tradicionais fortes, um independente com elevado potencial, dois partidos emergentes e mesmo um ex líder partidário nacional. Não teria merecido mais atenção dos média nacionais?

Eu diria que até podia dar para fazer um podcast ao género daquele que vamos ouvindo por estes dias, relativo às Presidenciais 1986.

No fim, Rodrigues bateu Braga por pouco mais de 276 votos, ficando a sensação de que se repetissem as eleições, tanto Silva como Rocha teriam hipótese de assaltar os dois primeiros lugares. Falta saber como se governa uma câmara tão partida?

Está mesmo na hora de mudar o sistema de votação autárquica, reforçando o poder da Assembleia Municipal e retirando lá as “inerências” dos presidente de junta, que tendem a subverter a proporcionalidade do voto…

Guimarães

Em Guimarães, a vitória da coligação Juntos por Guimarães representou uma mudança bastante significativa na política da cidade berço, visto que foi o fim de mais de três décadas sob domínio socialista. Tal implicou a ida de 100 mil eleitores às urnas, simbolizando uma participação robusta de 70% dos inscritos, fazendo com que Guimarães subisse de 13.º concelho com mais eleitores, para 7.º com mais votantes nestas autárquicas.

O facto de se tratar de uma disputa acesa, o fim de ciclo de 12 anos de governação de Domingos Bragança, também contribuíram para esta afluência. Acresce ainda um fator relevante em autárquicas, que passa pela dimensão e número de freguesias de um concelho, que se mostrou fator determinante de participação.

Não é de estranhar que Barcelos, Famalicão e Guimarães, alguns dos concelhos com mais freguesias do país tenham uma taxa de abstenção menor que outros concelhos com menos freguesias. Aqui é de salientar que é em pequenas freguesias destes concelhos que se encontram taxas acima dos 80% de participação eleitoral, naquilo que é um dos poucos pontos positivos da desagregação de algumas freguesias.

Famalicão e Barcelos

Em Famalicão e Barcelos estão duas das maiores concelhias nacionais do PSD, sendo muito difícil competir em autárquicas com estas máquinas bem implementadas na comunidade. Temos como exemplo o PS Famalicão, que após um investimento brutal, sendo mesmo a força política com maior orçamento de campanha no quadrilátero, ficou a mais de 13 mil votos de distância do PSD (embora com um número de votos superior ao que elegeu João Rodrigues como presidente em Braga).

Barcelos é mesmo um dos concelhos com taxa de participação mais expressiva, e mesmo sem uma eleição equilibrada conseguiu ter 72,4% dos eleitores a votar e ter mais votantes do que qualquer concelho da Margem Sul, subindo 8 lugares no ranking de votantes face ao ranking de eleitores, tal como Famalicão.

Conclusão

Enquanto o país discute burkas e outras baboseiras, o Minho vota e garante níveis de participação constantes de eleição para eleição. Aqui as autárquicas são uma festa, provocam também sempre algum azedume, mas o povo diz presente e garante legitimidade reforçada aos eleitos. De uma forma muito particular, o Quadrilátero Minhoto continua a sustentar, discretamente, a credibilidade da democracia local em Portugal.

Quando o país voltar a olhar para o mapa das autárquicas, talvez perceba que o verdadeiro centro da política portuguesa não está em Lisboa e Porto — está no Minho, onde a democracia está bem mais próxima das pessoas!

Fica a dica para os atuais candidatos presidenciais, se querem ter bons resultados não se esqueçam de onde estão os votantes!