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(A) :: Fact Check. Após acordo de cessar-fogo, vídeo mostra Hamas a assumir controlo de Gaza e a desafiar Israel?

Fact Check. Após acordo de cessar-fogo, vídeo mostra Hamas a assumir controlo de Gaza e a desafiar Israel?

Militantes do Hamas em carros. Este vídeo seria a prova de que o grupo islâmico estaria a tentar controlar a Faixa de Gaza, após o acordo de cessar-fogo assinado com Israel. Será mesmo assim?

José Carlos Duarte
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A frase

O cessar-fogo deste domingo (12) não significou paz total na Faixa de Gaza Forças do Hamas voltaram a ocupar partes do território não controladas por Israel, retomando o patrulhamento nas ruas e prendendo supostos colaboradores israelitas

— Utilizador de Facebook, 13 de outubro de 2025

Um vídeo com vários carros onde estão militantes do Hamas. Esta seria a prova de como o grupo islâmico estaria novamente a assumir o controlo de Faixa de Gaza, desafiando Israel e até o acordo de cessar-fogo assinado com Telavive.

Em publicações das redes sociais, lê-se que “forças de segurança do grupo foram vistas a patrulhar as ruas e a prender supostos colaboradores de Israel”. “Vídeos que circulam nas redes sociais mostram detenções e até espancamentos de suspeitos.”

“Mesmo com a trégua, o domínio do Hamas é contestado por clãs e grupos rivais, especialmente no sul do território. Entre eles estão as Forças Populares, que se recusam a entregar as armas e afirmam querer ser ‘uma alternativa ao Hamas’. Os recentes confrontos entre fações deixaram mortos e reacenderam o clima de instabilidade na região. A retoma parcial do poder pelo Hamas aumenta a incerteza sobre o futuro político e a segurança em Gaza”, lê-se ainda em várias publicações.

O conteúdo das publicações não está errado. Desde que foi declarado o cessar-fogo, é verdade que o Hamas tem posto em prática um plano de vingança. Nas ruas de Gaza, registaram-se lutas entre clãs e milícias armadas contra o grupo islâmico.

De acordo com a BBC, para apoiar esta estratégia, o Hamas recorreu a telefonemas e mensagens de texto para convocar sete mil membros, a fim de retomar o controlo do território assim que o cessar-fogo foi assinado. Registaram-se pelo menos 27 mortos nestas lutas armadas entre clãs e grupos armados.

https://observador.pt/especiais/vinganca-do-hamas-nas-ruas-milicias-armadas-e-um-acordo-de-paz-incerto-mesmo-com-cessar-fogo-gaza-ainda-pode-mergulhar-numa-guerra-civil/

Apesar de o conteúdo das publicações refletir em grande parte o que ocorreu na Faixa de Gaza momentos depois de o acordo ter sido assinado, o vídeo publicado nas redes sociais não mostra militantes do Hamas a tentar dominar e ocupar o enclave palestiniano.

O mesmo vídeo que aparece associado a estas informações foi publicado em janeiro de 2025 na página de Facebook do utilizador Aboubakr Esseddik Boukhari. Segundo a legenda do vídeo, mostrava uma “mulher palestiniana a saudar os combatentes da resistência”, que retribuíam a saudação durante a “entrega de quatro mulheres soldados na cidade de Gaza”.

No final de janeiro deste ano, o Hamas decidiu libertar quatro soldados israelitas. As quatro militares estavam em cativeiro desde 7 de outubro e foram presas nos postos fronteiriços no sul de Israel. Esse vídeo mostraria como esse momento foi recebido na Faixa de Gaza — e não como o Hamas está a tentar controlar as ruas de Gaza após o acordo de cessar-fogo assinado em outubro de 2025.

Conclusão

Mesmo que as informações que estão nas publicações correspondam à verdade, o vídeo não mostra militantes do Hamas a retomar o controlo da Faixa de Gaza após as tréguas. Nas redes sociais, o vídeo já estava disponível desde janeiro de 2025 (meses antes do cessar-fogo), mostrando como uma mulher saudava membros do grupo islâmico.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.