
A frase
“Fui condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, mas não vou aceitar essa injustiça. A minha defesa está a recorrer, mas os custos com os advogados e processos são absurdamente altos. Por isso, criei uma ‘vaquinha’ para bancar a minha defesa e lutar pela minha liberdade”
— Jair Bolsonaro, 21 de setembro de 2025
Nove dias depois de ser conhecida a pena aplicada a Jair Bolsonaro, começou a circular um vídeo nas redes sociais no qual aparecia o ex-presidente do Brasil a pedir ajuda à sua larga onda de apoiantes para poder pagar os custos “absurdamente altos” para poder recorrer da decisão do juiz relator Alexandre de Moraes que o condenou a 27 anos e 3 meses de prisão.
Nas imagens, Bolsonaro discursa sentado, gesticulando com as mãos apoiadas numa mesa onde pousam uma folha e duas canetas. De casaco vestido, tem atrás um retrato onde surge mais formal, dos tempos em que ainda era o Presidente brasileiro.
https://observador.pt/especiais/democracia-brasileira-nao-se-abalou-e-bolsonaro-foi-condenado-a-27-anos-de-prisao-mas-a-sua-luta-politica-esta-longe-de-terminar/
“Fui condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, mas não vou aceitar essa injustiça. A minha defesa está a recorrer, mas os custos com os advogados e processos são absurdamente altos”, ouve-se a explicar. “Por isso, criei uma ‘vaquinha’ para bancar a minha defesa e lutar pela minha liberdade. Cada doação é um passo em direção à minha absolvição, desde já, muito obrigado pela sua ajuda”.

O vídeo não se assemelha às produções realizadas com inteligência artificial que são cada vez mais comuns, não se percebendo qualquer edição de imagem, parecendo tudo bastante real em termos de aparência visual. No entanto, como apontou a Reuters, a manipulação evidente não está no vídeo, mas sim no som. As imagens com o suposto pedido nunca foram partilhadas no Instagram oficial de Bolsonaro, mas nessa rede social há uma publicação com semelhanças evidentes a este vídeo.
Nessa gravação, o antigo Presidente do Brasil aparece novamente com o casaco, sentando na mesma mesa e com a folha e duas canetas na exata posição do vídeo em análise. Ao ouvir o que diz Bolsonaro, percebe-se que quem difundiu o vídeo sobre a “vaquinha” utilizou a imagem, mas colocou outro som que não corresponde ao original.
No vídeo verídico, publicado a 14 de julho deste ano (antes de ser condenado), Bolsonaro insurge-se contra a Jovem Pan, um portal de jornalismo brasileiro, que noticiou nesse dia que o ex-Presidente não seria candidato para as eleições de 2026. “Vamos aqui resolver um problema, não procede a informação da Jovem Pan que eu estou fora [da corrida]. (…) Não tem furo jornalístico. Se tivesse falado algo nesse nível, eu convidaria a imprensa e daria uma conferência”, explicou com os mesmos gestos do vídeo manipulado partilhado a 21 de setembro.

Além disso, lembra a Reuters, há um motivo que evidencia que este vídeo é manipulado: apesar de ser verdade que Bolsonaro já angariou dinheiro através de campanhas feitas por apoiantes, o ex-presidente brasileiro está impedido de usar as redes sociais por ordem do Supremo Tribunal Federal — inclusive por meio de terceiros — desde 18 de julho (data da sua última publicação no Instagram).
Conclusão
As imagens são verdadeiras, mas o som utilizado é manipulado. Isto é, alguém utilizou um vídeo real de Bolsonaro a criticar jornalistas e colocou o som manipulado do ex-Presidente brasileiro a pedir dinheiro para ajudá-lo a pagar os custos judiciais para recorrer da condenação a 27 anos e três meses de prisão por cinco crimes: tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito, tentativa de golpe de estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de património. Por isso, a alegação de que Bolsonaro publicou um vídeo a pedir uma “vaquinha” é, evidentemente, falsa.
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.