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(A) :: Fact Check. Ajuda humanitária na flotilha que tentou chegar a Gaza era composta sobretudo por droga, álcool e preservativos?

Fact Check. Ajuda humanitária na flotilha que tentou chegar a Gaza era composta sobretudo por droga, álcool e preservativos?

Circulam nas redes sociais publicações que denunciam que a flotilha humanitária "não levava comida" nem medicamentos, acusando tripulantes de apenas levar drogas, álcool e preservativos. Será verdade?

José Carlos Duarte
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A frase

FlOTILHA. Apreendidas as embarcações, foram detectadas drogas, preservativos e uma lata de comida para criança. Afinal, não havia ajuda humanitária.

— Utilizador de Facebook, 06 de outubro de 2025

A temática da flotilha humanitária que tentou chegar à Faixa de Gaza, e que levava a bordo a deputada e coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, e mais três portugueses, motivou várias publicações nas redes sociais, muitas delas a criticar a iniciativa.

Algumas publicações sugerem que a flotilha humanitária não trazia ajuda humanitária — e que foram encontrados  a bordo preservativos, álcool e drogas. Alguns posts ainda sugerem que havia a bordo uma lata de leite materno e que esse seria o único componente que alegadamente poderia configurar-se mesmo ajuda de entre todo o material encontrado nas embarcações em que seguiram os ativistas.

“Não levavam comida”, a “ajuda humanitária era droga e preservativos”, lê-se numa publicação. Noutra, denuncia-se que havia a bordo “muita bebida alcoólica e muitos preservativos”: “Era isto que levavam para ajudar a Palestina naqueles barcos”.

Sem qualquer sustentação, outra publicação critica o “bando de idiotas úteis” que integraram a flotilha e que eram “financiados por fações terroristas”. “Após intervenção israelita”, o resultado do que foi encontrado nas embarcações teria sido “uma lata de leite materno, bebidas alcoólicas e preservativos/drogas”.

“Apreendidas as embarcações, foram detetadas drogas, preservativos e uma lata de comida para criança. Afinal, não havia ajuda humanitária”, alega outra publicação, enquanto outro post refere que foram “encontradas quantidades insignificantes de alimentos, nenhum medicamento, porém, um número não desprezível de preservativos”.

Em nenhuma destas publicações se revela qualquer sustentação para o teor das alegações. A organização da flotilha humanitária garantiu que a bordo iam alimentos, medicamentos e outros bens essenciais. E também partilhou fotos e vídeos do interior das embarcações que comprovam a existência de comida e equipamentos médicos.

https://twitter.com/kieran_andrieu/status/1962557433026388448?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1962557433026388448%7Ctwgr%5E8e966c7454af8bfce9043dc30259addb5160cd22%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.estadao.com.br%2Festadao-verifica%2Fdoacoes-ajuda-humanitaria-barcos-flotilha-israel-gaza%2F

Antes de a flotilha chegar perto de Gaza, por motivos de segurança para os tripulantes, o governo de Itália chegou a apelar a que os ativistas deixassem a ajuda humanitária na ilha de Chipre, num processo que seria mediado pelo Patriarcado Latino de Jerusalém. Ainda que a organização da iniciativa humanitária tivesse rejeitado o pedido, é uma prova de que havia mantimentos dentro das embarcações. Após os navios terem sido intercetados, Israel apreendeu a comida e os medicamentos que iam a bordo.

Não há qualquer evidência de que, entre a ajuda humanitária, houvesse droga, preservativos ou álcool. Os organizadores da flotilha atribuíram estes rumores com uma campanha de difamação criada por Israel.

No X, a 2 de outubro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel publicou um vídeo com um guarda a alegar que “não havia muita ajuda humanitária” dentro de uma embarcação em que estava. “Não era sobre a ajuda, era sobre a provocação”, atirava Telavive. Terá sido desta publicação nas redes sociais que os rumores se começaram a espalhar.

http://twitter.com/IsraelMFA/status/1973874535662563391

Mais tarde, a 6 de outubro, a diplomacia israelita sublinhava que a flotilha “rejeitou as propostas de Israel, Itália e Grécia” para entregar a ajuda num “porto regional”. Mas reconheceu que, a bordo das embarcações, havia “cerca de duas toneladas” de ajuda humanitária “em 42 embarcações”. Ressalvou a seguir que esta quantidade é “menos de um décimo do que [transporta] um comboio humanitário”.

Mesmo que realce a pequena quantidade de ajuda humanitária que a flotilha trazia a bordo, Israel acabou por confirmar que havia bens essenciais dentro das embarcações. E da parte do governo israelita, por meios oficiais, nunca houve qualquer referência a drogas, álcool ou preservativos.

https://twitter.com/IsraelMFA/status/1975202293227147617

Conclusão

Não é verdade que a flotilha humanitária não transportasse ajuda humanitária, ou que os únicos bens que transportava eram álcool, drogas, preservativos e uma lata de leite materno. Existem fotografias que mostram os tripulantes a colocarem mantimentos dentro das embarcações. Além disso, Israel confirmou a existência de mantimentos a bordo dos barcos — cerca de duas toneladas, ainda que realce tratar-se de uma quantidade muito inferior ao que transporta normalmente um comboio humanitário.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.