
A frase
Janja não pode sair do hotel para fazer compras nos EUA.
— Utilizador de Facebook, 18 de setembro de 2025
“Janja não pode sair do hotel para fazer compras nos EUA.” Esta alegação foi partilhada diversas vezes nas redes sociais durante a viagem da primeira-dama do Brasil, Rosângela Lula da Silva (Janja), aos EUA no final de setembro para um evento das Nações Unidas.
Janja foi a representante brasileira para as mulheres na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) e viajou para os EUA no dia 17 de setembro, três dias depois chegaria ao mesmo país o Presidente Lula da Silva para participar na Assembleia Geral da ONU. Na partilha aqui analisada consta que “a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, não poderá realizar passeios turísticos nem fazer compras durante sua estadia nos Estados Unidos. Isso porque ela entrou no país com um visto especial concedido em razão de um acordo firmado entre os Estados Unidos e a ONU, que obriga o país-sede da organização a permitir a entrada de delegações oficiais. Esse visto, no entanto, é restrito exclusivamente a compromissos oficiais, como reuniões, eventos e conferências vinculados à ONU”, afirma o autor da publicação. Ou seja, “Janja não pode circular livremente para atividades pessoais, como turismo ou compras”.

As notícias sobre a estadia da primeira-dama brasileira nos EUA, entre os dias 18 e 24 de setembro, desmentem esta publicação, já que existem registos de atividades de Janja fora dos compromissos oficias vinculados à ONU. Não só foi noticiada a presença da primeira-dama numa cerimónia evangélica, na igreja batista The Abyssinian Baptist Church, no bairro Harlem, em Nova Iorque, como também foi revelado pela imprensa que Janja esteve na 5.ª Avenida a fazer compras, dias antes de Lula chegar, segundo a Folha de S. Paulo. Nenhum dos artigos refere problemas com a entrada ou circulação de Janja no país que visitou.
O portal de notícias Metrópoles explicou o processo de entrada da primeira-dama do Brasil nos EUA, num artigo em que diz que o visto especial foi concedido ao abrigo do acordo dos EUA com a ONU, que obriga à autorização de entrada de delegações oficiais. Mas não há informação sobre restrições associadas a este visto, como é indicado na publicação.
Janja ficou hospedada, tal como Lula quando chegou dias depois, na residência oficial do embaixador do Brasil na ONU, Sério Danese, que fica em Nova Iorque. Não só esteve em eventos ligados à COP30, como também acompanhou o Presidente em compromissos oficiais nos EUA. A agenda da primeira-dama brasileira é pública e está no site do Planalto, onde se confirma a atividade oficial que manteve nos EUA e nem sempre nas instalações da ONU.
Além disso, em vários sites brasileiros de informação, a própria assessoria de imprensa de Janja negou que tivessem existido problemas com restrições de circulação à primeira-dama.
Publicações com a informação de limites a Janja nos EUA começaram a circular no meio da controvérsia sobre as autorizações de entrada de autoridades brasileiras naquele país. Na origem desta tensão diplomática está o agravamento das tarifas comerciais ao Brasil por parte dos EUA. Mas também a condenação pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil do ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro, por tentativa de golpe de Estado.
Trump considerou que existia uma “caça às bruxas” no país: “Creio que é uma caça às bruxas e que é muito lamentável. Ninguém está contente com o que o Brasil está a fazer, porque o Bolsonaro era um Presidente respeitado, muito respeitado.” O Presidente brasileiro, Lula da Silva, chegou a responder, através de um artigo no New York Times, nas vésperas da reunião nos EUA, com o título “A Democracia Brasileira e a sua Soberania não são negociáveis”. O texto contraria a tese da “caça às bruxas” e Lula diz-se mesmo “orgulhoso” da decisão do STF. O caso agravou muito as relações entre os dois Estados e, durante a reunião nos EUA, Lula chegou a denunciar a “agressão contra o poder judiciário”, considerando-a “inaceitável”.
Na preparação da 80.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a própria organização chegou a mostrar-se preocupada com o atraso na emissão de vistos para a participação do Brasil. Desde agosto que as autoridades brasileiras sofreram sanções (vistos revogados) por parte dos EUA, num sinal de agravamento da tensão diplomática. No âmbito na Assembleia Geral da ONU, a família do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, foi uma das atingidas pelas sanções norte-americanas. O ministro acabou mesmo por desistir da deslocação ao país.
Conclusão
A publicação em causa surgiu num clima de tensão diplomática entre os EUA e o Brasil, com a aplicação de sanções a Brasília. Mas, no caso da primeira-dama, não existiram restrições à sua deslocação, ao contrário do que alega a publicação aqui analisada. Janja viajou com um visto especial para representar o Brasil na CPO30, mas não ficou limitada às instalações da ONU, tendo feito compras e participado numa cerimónia evangélica durante a sua estadia nos EUA. Não há registo de problemas com a primeira-dama brasileira, que também acompanhou o Presidente Lula em alguns compromissos oficiais.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.