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PS tenta polarizar autárquicas, com o Chega do lado de lá

Na Convenção Autárquica do PS, José Luís Carneiro recorreu a comício da Fonte Luminosa para colocar o PS ao centro, no atual contexto de crescimento de um Chega que os socialistas colam ao PSD.

Rita Tavares
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O PS parte para as eleições autárquicas a fazer do Chega o adversário preferido e a forma de se posicionar ao centro. De um lado o “fiel depositário dos valores fundamentais” da democracia e do outro, o partido que José Luís Carneiro não nomeou, no discurso da rentrée socialista, mas que descreveu como “os que podem atacar a democracia e o estado de direito democrático”, o Chega.

No discurso de encerramento da Convenção Autárquica do partido, o líder socialista parece não ignorar o facto de existir uma sondagem recente que coloca o Chega à frente, em intenções de voto para eleições legislativas. Com as autárquicas a um mês de distância, os socialistas fazem contas aos estragos que o Chega pode fazer nas suas próprias ambições a esse nível e tentam que esta seja uma batalha entre o PS da Fonte Luminosa e os extremismos.

Quem lembrou o comício do Verão Quente, o momento de maior polarização do país político, foi o próprio José Luís Carneiro. Com a intenção de colocar o PS, neste momento, como o partido moderado, Carneiro lembrou o PS de 1975 (e o discurso de Mário Soares) dizendo que “não queria voltar à antiga ditadura da direita, mas também não queria ir para uma nova ditadura de esquerda”.

É a forma de chegar aos eleitores moderados, ao centro: deixar o PSD (“os que já se deixaram confundir”) colado ao Chega que, por sua vez, coloca como o alvo a abater em eleições. Com o primeiro teste pós-desaire das legislativas ao virar do verão, Carneiro usa as autárquicas para este posicionamento socialista, afastando os seus candidatos de eventuais tentações de sobrevivência.

“Podem confiar no candidatos do PS porque no dia 12, mesmo que não consigam alcançar as maiorias que desejavam, serão a garantia dos valores que referimos e nunca se colocarão do lado dos que podem atacar a democracia e o estado de direito democrático”, disse na convenção em Coimbra, com os candidatos a presidentes de Câmara do partido alinhados atrás de si. Nesta convenção foi precisamente lido o compromisso autárquico do partido onde consta a obrigação de “acordos pós-eleitorais apenas com quem prossiga os ideais” socialistas, aqueles que descreve como “progressistas”, “humanistas”, “cosmopolitas” e de acordo com o “primado da razão, de progresso e de sustentabilidade”.

Na intervenção, o líder atirou-se sobretudo aos que alinham pela “instrumentalização dos medos”, afirmando, em contraponto, o PS como o “baluarte dos valores da liberdade, da igualdade e da justiça social”. Antes de Carneiro tinha já falado, na abertura, o presidente do partido Carlos César e na mesma linha. “Uma grande votação nas candidaturas do PS será um contributo para que Portugal continue excecionado das tendências autocráticas e ditatoriais que minam outros espaços e continentes”, disse, citado pela Lusa, César que considera mesmo que as autárquicas podem ser motivo “para um novo fôlego para a democracia portuguesa”, no atual contexto político.

Quanto ao que também estará em causa daqui a um mês, o líder socialista vincou propostas que já tinha na sua moção de estratégia: alterações à lei de finanças locais e também à lei eleitoral autárquica. Colocando-se como “o futuro primeiro-ministro”, Carneiro assumiu como compromisso de aprovar uma nova lei de finanças locais, para que os municípios portugueses “participem mais das receitas do Estado” e que “seja mais proativa na criação de maiores condições de coesão, na distribuição de recursos por todo o país”.

Além disso, quer  “dar mais eficácia ao poder local” mas também que consiga maior “estabilidade dos executivos municipais” — e é aqui que entram as alterações à lei eleitoral das autarquias locais e a sua ideia de executivos monocolores, ou seja, sem incluírem oposição. Aos mesmo tempo, Carneiro quer “reforçar os poderes das assembleias municipais”, no escrutínio aos governos municipais. E ainda quer um novo estatuto dos eleitos locais, nas freguesias e nos municípios.