Os resultados estavam à vista nos Europeus, os resultados teriam tendencialmente de saltar também para o Mundial. Depois de andar afastado dos principais palcos durante alguns anos, a participação de Portugal nas últimas três fases finais do Campeonato da Europa apontava no sentido de uma evolução: 20.º lugar em 2019 com uma vitória em cinco jogos (e a queda na primeira fase por apenas um ponto), 15.ª posição em 2021 com duas vitórias em cinco jogos e a eliminação na “negra” nos oitavos frente aos Países Baixos, décimo posto em 2023 com três vitórias em cinco jogos e a queda na fase a eliminar com a Ucrânia. Agora, os palcos iriam ser outros, bem mais distantes, mas serviam sobretudo para confirmar o sucesso de uma renovação.
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Apenas pela terceira vez na história, a Seleção conseguiu o apuramento para uma fase final do Campeonato do Mundo, depois do 15.º lugar no longínquo ano de 1956 (França) e dessa campanha épica conseguida em 2002 na Argentina com uma oitava posição da equipa onde pontificavam nomes como Bira, Nuno Pinheiro, Manuel Silva, Carlos Teixeira, Roberto Reis, Hugo Gaspar ou João José, entre outros. O antigo central era agora o selecionador de uma “fornada” que começava a ter outra experiência internacional e que chegava às Filipinas em busca do “impossível”, tendo em conta que passavam apenas duas equipas em cada um dos oito grupos mas que Portugal teria pela frente os EUA e Cuba, duas das melhores seleções da atualidade e do top 10 do ranking mundial. Olhando para todo o contexto, o primeiro encontro seria quase uma “final”.
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“Queremos passar à fase seguinte. Percebemos que não somos favoritos mas ambicionamos ser competitivos. Devemos ter consciência de que Cuba e EUA são candidatos não só à passagem como às medalhas. Mas isto é desporto e Portugal, tal como a Colômbia, ambicionamos qualificar-nos para a fase seguinte. Trabalhamos diariamente, temos um grupo que é extremamente ambicioso, focado e que quer atingir a fase a eliminar, consciente das dificuldades e de que vamos ter que trabalhar muito, até durante os jogos, para o conseguir”, apontara João José na antecâmara do arranque contra a sempre forte formação das Caraíbas.
“Devemos libertar-nos de qualquer pressão pois essa não está do nosso lado. Queremos tanto passar que não podemos bloquear. Não sendo favoritos, devemos estar mais soltos e desfrutar mais da experiência, controlando as emoções no momento de jogar. A pressão é um privilégio porque nós estamos aqui, ou seja, somos privilegiados por cá estar. Esta pressão que estamos a sentir é perfeitamente normal mas devemos abraçá-la, por assim dizer, ou seja, faz parte”, acrescentara o selecionador, ciente de que Cuba partia com um natural favoritismo mas crente de que havia alguma margem para surpreender até pelo primeiro adversário.

Cuba continua a ser um autêntico viveiro de talentos, que discute jogos com qualquer seleção como se viu recentemente na Liga Mundial, mas que em várias ocasiões não consegue controlar aquilo que continua a ser o seu “calcanhar de Aquiles”: a irregularidade anímica e emocional que apresenta nos grandes momentos, que faz com que a equipa seja capaz de ganhar aos melhores mas seja também surpreendida por conjuntos que poderiam surgir como mais acessíveis. Foi isso que aconteceu mesmo: ainda sem contar com Alexandre Ferreira, Portugal superou um mau arranque e conseguiu mesmo sentenciar aquela que fica como a primeira grande surpresa desta edição do Mundial, dando também um passo importante para o apuramento. “É difícil fazer melhor do que isto, logo num encontro de estreia”, acabou por assumir João José no final.
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Ainda assim, o arranque não apontava nesse sentido. Com Miguel Tavares Rodrigues, Kelton Tavares, Filip Cveticanin, Nuno Marques, José Pedro Pinto e Lourenço Martins de início, Portugal cometeu vários erros no início do primeiro set, deixou que Cuba partisse para uma vantagem de cinco pontos que seria determinante para controlar o resto do parcial (9-4), chegou a ter seis pontos de avanço (14-8) e fechou com 25-20. João José não estava satisfeito com o que via, entre alguma ansiedade pela estreia que também se fazia notar, mas foi deixando que tudo voltasse ao normal sem mexer na equipa. Acabou por ser uma aposta de sucesso.
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A eficácia de serviço subiu a pique, colocando outras dificuldades na receção cubana, a ligação de Miguel Tavares Rodrigues com os centrais melhorou, Nuno Marques apareceu como grande marcador do conjunto nacional (19 pontos, com mais 14 de Cveticanin e outros tantos de José Pinto), o bloco começou a causar real mossa no jogo ofensivo contrário. Mais do que isso, Portugal quis muito mais ganhar do que Cuba, algo que se via na forma como os jogadores discutiram todas as bolas como se fossem a última e não davam um ponto como perdido, da defesa baixa aos ataques contra blocos triplos. De forma natural, e com a equipa cubana a acusar em demasia a inversão do comando da partida, a Seleção fechou o segundo set por 25-22 e carimbou o triunfo por 3-1 com um duplo 25-19 em parciais onde ganhou cedo uma vantagem confortável.
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