Se André Ventura estava à espera de ver o partido alinhadíssimo na hora de dizer sim ou não a uma candidatura presidencial, saiu do Conselho Nacional ainda mais confuso — e sem uma decisão unânime. Tal como o próprio — que se tem desdobrado em argumentos e contra-argumentos sobre o que seria melhor ou pior para o Chega —, também o partido se mostrou absolutamente dividido entre aqueles que acham que o líder não pode desviar atenções do objetivo de chegar a primeiro-ministro e quem acredite que, neste ponto, não há volta a dar.
Depois de várias horas a ouvir opiniões contraditórias sobre a sua candidatura a Belém, o Observador sabe que André Ventura disse aos conselheiros que anuncia a decisão dia 16 de setembro, a próxima terça-feira.
No discurso inicial, Ventura reiterou que seria um “mau sinal” para o país que “o líder da oposição seja candidato a Presidente da República”, mas também reforçou que o Chega tem de ir a jogo e não pode apresentar alguém que fique aquém das expectativas — por isso, Ventura recusou entrar em “aventuras loucas” para obter um resultado que seja um “desastre”. Posto isto, e mesmo sublinhando de todas as formas e feitios que “não é o “ideal” e que nem sequer o queria, chegou-se à frente: “Se quiserem, e entenderem que devo ir, aqui estarei. Se entenderem que não devo ir, aqui estarei.”
À porta fechada, perante cerca de 400 conselheiros nacionais e observadores, ouviu de tudo e só falou no final. Ao Observador, deputados, dirigentes e conselheiros do Chega descreveram o ambiente como “muito dividido“, com muitos argumentos trocados entre quem considera que André Ventura deve mesmo ir às presidenciais — muitos por assumirem que já não há nenhuma boa opção no horizonte — e quem olha para a ideia com receios.
Um alto dirigente do Chega explicou ao Observador que muita gente optou por ficar calada e que era difícil perceber para que lado caía a maioria se apenas se analisassem as palmas e apoios a quem resolveu dar opinião, mas também assume que há pouco a fazer depois de tantas tentativas em vão. “Nem o André Ventura queria ir, nem nós queríamos que ele fosse. Tentámos tudo para não ter de ir, mas a realidade diz que não há outra solução“, argumenta.
O também deputado realçou ainda que, no núcleo mais fechado de Ventura, ninguém teria a notoriedade necessária para conseguir “10, 11, 12 ou 13%”, com a “possível exceção” de Rita Matias — desde logo arredada da equação por não ter a idade mínima necessária para ir a votos numas presidenciais. “Tentámos independentes, analisámos várias opções, procurámos quem tivesse notoriedade só por si para conseguir 10/13% e concluímos que não há ninguém com notoriedade para fazer melhor do que 6 ou 7%”, prossegue. Ainda assim, houve mesmo quem tentasse convencer os colegas de partido de que, para evitar a candidatura de Ventura, há outras opções que podiam fazer sentido — e foi nesse seguimento que os nomes de Pedro Santos Frazão e Nuno Simões de Melo foram sugeridos.
Também as eleições europeias, em que o Chega levou António Tânger Corrêa como cabeça de lista, ainda pesam nos ombros de André Ventura, que assumiu o resultado muito aquém do desejado — com a queda de 785 mil votos e de mais de oito pontos percentuais, que se espelharam em 9,79% dos votos. A somar a isso, depois desse mau resultado, o Chega fez ainda melhor do que tinha feito nas legislativas de 2024 e chegou à liderança da oposição — o que torna as eleições presidenciais ainda mais relevantes para o partido. “Não podemos correr o risco das europeias“, desabafa um deputado do Chega, assumindo que essa má memória está longe de ter sido esquecida e é um constante abre-olhos na hora de decidir.
Do lado oposto, André Ventura foi ouvindo que tem como principal missão chegar a primeiro-ministro e que não deve desviar-se desse objetivo, já que há quem acredite que existe um risco real de vencer e que isso poderia complicar a vida do partido, designadamente na ambição de ser Governo. Aliás, já na antevisão do Conselho Nacional, havia quem levantasse dúvidas sobre onde e como ficaria o Chega se Ventura ocupasse o Palácio de Belém.
Se André Ventura contava medir o pulso ao partido e sair do Conselho Nacional com uma decisão fechada, não lhe facilitaram a vida. Porém, deixaram-lhe uma certeza — mesmo daqueles que preferiam que não fosse candidato a Belém: no momento em que decidir, está decido e tem o partido ao seu lado. No final do dia, Ventura continua a ser o ativo mais valioso do Chega, para o que der e vier — e ninguém faria melhor do que ele fará em termos de resultado, acreditam.
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