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Imigrantes: precisamos da nossa compreensão

É bomlembrar que, para além dos imigrantes, também os nativos são seres humanos. Isto é, os tugas também merecem ser tratados com a mesma dignidade, justiça e humanidade com que tratamos os imigrantes

José Miguel Pinto dos Santos
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Os imigrantes1 são pessoas. Mais: são pessoas humanas2! Isto dá-lhes o direito3 de serem tratadas como tal, com dignidade, justiça e humanidade. Mas poder-se-á levantar a questão: quem é que sofre maior dano, o imigrante que é tratado desumanamente4, ou o local que o trata mal? Sócrates, aquele que foi julgado e injustamente condenado, responde clara e inequivocamente: “É pior cometer uma injustiça5 de que a sofrer, pois quem a comete torna-se injusto, algo que não acontece ao que a sofre.6

Dito por outras palavras: quem sofre uma injustiça não perde, por isso, a sua humanidade nem, consequentemente, a sua dignidade; mas cometer uma injustiça é um rebaixamento, uma indignidade, que é acompanhada por um dano à humanidade do próprio. Algo a evitar a todo o custo, por quem tem juízo.

O que poderemos então fazer para ajudar os pobres dos nativos, aqueles que sem juízo praticam descriminação cega e injustiça descarada, a desenganarem-se7 de modo que não sofram tamanho dano ontológico, para já não dizer espiritual? A resposta de Franciscus8, o anterior @Pontifex, era clara: devemos acompanhá-los, fazer caminho com eles, tentar perceber o que os move e sermos compreensivos. Mas não nos levará este acompanhamento a uma espécie de emigração para os verdejantes e apetecíveis prados da iniquidade e jingoísmo? E não serão os portões que se abrem para a injustiça largos e os caminhos da xenofobia9 fáceis? (cf. Mt. 7,13)

Parece que, pelo contrário, para se ser verdadeiro amigo de um compatriota nosso, desejar o seu bem, deveríamos tentar defende-lo de si próprio, pois ele pode ser o seu prior inimigo. Uma reação algo mais cristã face a injustiças contra imigrantes seria chamar à parte os que as praticam e admoestá-los ao arrependimento; caso eles não liguem à nossa repreensão, voltar a fazê-lo, mas agora acompanhados por uma ou duas testemunhas e, se ainda assim continuarem a tratar mal os imigrantes, comunica-lo à Igreja; e se eles se recusassem a ouvir a própria Igreja, excomunga-los publicamente (cf. Mt. 18,15-17) na esperança que tal reprovação eclesial os levem ao arrependimento, à consequente confissão sacramental dos seus pecados (ou à sua conversão & batismo…) e, finalmente, à reconciliação com os nossos irmãos bangladeshi e sírios por eles maltratados.

Que pensar então do facto de não ter havido, até ao momento, qualquer notícia de excomunhão pública, por parte dos nossos srs. bispos & cardiais, a nenhum tuga por maus tratos praticados por palavras ou atos contra imigrantes? Não será isso evidência de que a proverbial tolerância nacional continua bem viva na nossa sociedade y cultura, e que news de atos discriminatórios praticados neste nosso PorTugal contra imigrantes são fake? Ou será, pelo contrário, indicação de que os nossos responsáveis eclesiais estão a acompanhar pastoralmente aqueles impiedosos malfeitores que tratam desumanamente os imigrantes, fazendo o seu caminho juntamente com eles?

De igual modo, convirá recordar que, para além dos imigrantes, também os nativos são seres humanos. Isto é, os tugas também merecem ser tratados com a mesma dignidade, justiça e humanidade com que tratamos os imigrantes! I aqui surge um problema: como numerosos estudos antropológicos comprovam, existem culturas muito ricas, que não seria politicamente correto aqui listar, que consideram como “não humanas”, ou pelo menos como tendo um grau inferior de humanidade, pessoas a elas não pertencentes, que não partilham sua cosmovisão, teologia ou estádio de desenvolvimento embrionário. Como consequência, sujeitos provenientes destas sociedades muito avançadas têm propensão de considerar que os mandamentos da Lei de Deus, que proíbem certas ações contra outros seres humanos, como matar, roubar, violentar, mentir, só se aplicam aos membros da sua tribo, sociedade ou civilização, mas não aos outros seres, a humanoides infra-humanos, i.e., macacos10, que, neste contexto, somos nós, os tugas.

Não será, neste caso, razoável que u nosso governu tente proteger a dignidade e humanidade dos nativos de ataques de imigrantes, potenciais ou atuais, especialmente daqueles cuja superioridade cultural e humana lhes permite, & nalguns casos incita, a atos de violência, roubos, estupros e assassínios contra os que não pertencem ao seu grupo? E será que esta proteção da dignidade & direitos dos nacionais não poderá ser feita, dentro do respeito pelos princípios constitucionais, através da promulgação de leis, simples, breves e claras, regulamentando a entrada e as condições de estadia a seres humanos, dignos sim, mas de tal modo sofisticados que não se ajustam bem à nossa simplicidade nacional, conjuntamente com a sua implementação e fiscalização efetivas? Ou será que não se aplica aqui o que sabiamente dizia Rabi Eleazar ben Shammua: “Aquele que é compassivo para com os cruéis é, em última análise, cruel para com os compassivos”11? Precisamos, pois, da nossa compreensão (i.e., da do nosso guverno) para as potenciais ameaças à nossa segurança e bem-estar.

Mas, a implementação de tais medidas não significaria colar a alguns imigrantes um adjetivo12, por exemplo “ilegal” 13? Sim, mas só para aqueles que não cumprissem as regras que, repete-se, devem ser claras, simples & justas e aplicadas sem parcialidade14 nem prepotência. Algo como já é feito aos condutores de veículos motorizados que violam repetida e gravemente o longo e complexo código das estradas—que pretende defender a nossa segurança e bem-estar.

E será que passando um imigrante a ser “ilegal”, já poderíamos violar as regras básicas da justiça e decência humana? Poder, podemos sempre, mas se a questão fosse “será vantajoso?” ou “será legitimo?” a resposta seria, na senda de Sócrates, um claro: “NÃO!”. E porquê? Porque é horrível, para o próprio, para a sua dignidade e humanidade, praticar uma injustiça! Para que nós possamos manter a nossa humanidade, a nossa dignidade, precisamos da nossa compreensão para com a natureza humana dos outros, imigrantes inclusive.

Us avtores não segvew as regras da graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein as du antygu. Escreuew covmv qverew & lhes apetece. #EncuantoNusDeixam

  1. Imigrante: pessoa humana que merece a nossa compaixão por, através de publicidade danosa, ter sido levada a crer que a vida no nosso país seria melhor que na do seu; merece nalguns casos o nosso acolhimento fraternal e noutros que a ajudemos a ganhar juízo, a voltar à sua pátria, ou a que de lá não venha para cá.
  2. Humano: membro da espécie humanoide, cuja humanidade frequentemente não chega à de um animal.
  3. Direito:legitimidade para se ser, ter ou fazer, tal como ser mentiroso, ter negócios imobiliários e negociatas com empresários amigos, e fazer os portugueses mais pobres são direitos adquiridos de qualquer político detentor de cargo público na nossa democracia.
  4. Desumanidade: tratamento comum às mãos dos homens; uma das principais características que distingue os humanos dos outros seres.
  5. Injustiça: fardo sem peso quando o pomos nas costas dos outros, mas esmagador quando o temos que carregar aos nossos ombros.
  6. Platão, Górgias, 475.
  7. Desenganar: convencer um nosso irmão de um erro melhor e mais avançado do que aquele que ele tinha previamente adotado.
  8. Us authores aproveitam esta oportunidade para reafirmar a sua profunda devoção filial ao falecido @Pontifex e sua suma fidelidade ao seu magisthério, procurando humildemente praticar seus konçelhos, nomeadamente contribuindo para a bagunça eclesial (“quero bagunça nas dioceses”) e promoção da in-“segurança doutrinal” neste mundo (cf.: “se o cristão … quer tudo claro e seguro, então não encontra nada”), na esperança de ajudar nossos irmãos a não se deixarem seduzir pela estabilidade e segurança que são apanágio deste mundo depravado.
  9. Xenofobia: estado mental de uma pessoa que pensa que o mundo seria perfeito se fosse exatamente igual ao seu bairro, mas sem quaisquer dos vizinhos com quem não simpatiza.
  10. Macaco: animal arborícola que vive em árvores genealógicas e ocasionalmente colhe o fruto fácil & gratuito do prestígio alheio.
  11. Midrash Tanchuma, Metzora 1.
  12. Adjetivo: palavra colocada antes de um substantivo para libertar este de qualquer significado substancial.
  13. Ilegal: incompatível com a opinião da maioria dos juízes do tribunal constituxiunal.
  14. Parcialidade: flexibilidade na vida política, judicial, empresarial e familiar geralmente acompanhada por inúmeras vantagens económicas e emocionais; capacidade de perceber as vantagens pessoais a obter através do suporte a uma das partes de uma controvérsia ou adoção d’uma de duas opiniões em conflito.