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(A) :: IMT questionou Carris sobre descarrilamento de 2018 no elevador da Glória apesar de só ter supervisão da Bica e Santa Justa

IMT questionou Carris sobre descarrilamento de 2018 no elevador da Glória apesar de só ter supervisão da Bica e Santa Justa

Apesar de não supervisionar o elevador da Glória, o Instituto de Mobilidade e Transportes (IMT) questionou Carris após incidente de 2018 para saber se poderia repetir-se na Bica e Santa Justa.

Ana Suspiro
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O descarrilamento do elevador da Glória em 2018 não ficou totalmente fora dos radares das entidades com responsabilidades no setor dos transportes. Apesar de não ter competências de fiscalização deste ascensor da Carris, o IMT (Instituto da Mobilidade e Transportes) colocou questões à Carris na sequência deste incidente.

O pedido de informação foi feito não porque o IMT estivesse a supervisionar a segurança daquele veículo, mas porque um departamento daquela entidade queria perceber se a mesma situação poderia afetar os elevadores da Bica e de Santa Justa, até porque partilhavam a mesma empresa de manutenção (à data, a CME). Estes dois últimos eram os equipamentos que estavam à data sob supervisão do instituto que fiscaliza a segurança dos transportes públicos porque não eram veículos movidos por cabos elétricos. Esta era uma tarefa que estava atribuída à Autoridade Nacional de Segurança Ferroviária que, tal como tem sido noticiado, não tem, nem nunca teve, responsabilidades sobre os elevadores da Glória e do Lavra.

A partir de 2020, e na sequência da transposição de um regulamento europeu, o IMT deixou de ter a responsabilidade pelas instalações classificadas de interesse histórico, cultural ou patrimonial e que tenham entrado em serviço antes de 1 de janeiro de 1986 e sem terem sofrido alterações de conceção ou de construção significativas.

A informação sobre o descarrilamento de maio de 2018 foi pedida pelo departamento do IMT que tinha a responsabilidade pela segurança ferroviária nesse mesmo mês e terá sido dirigida a um diretor da Carris e não à administração. Terá sido uma diligência informal apenas para obter alguns esclarecimentos e, pela informação recolhida pelo Observador, não deu origem a qualquer relatório ou recomendações. Questionados sobre esta diligência, o IMT e a Carris não responderam até à publicação deste artigo.

O caso foi logo divulgado pelo jornal Público em 2018 como tendo resultado de uma “grave falha de manutenção”. À data a Carris reconheceu a existência de uma anomalia técnica sem dar mais detalhes.

Esta semana, e depois do acidente que provocou a morte de 16 pessoas no mesmo elevador, a empresa divulgou as fichas do registo da ocorrência preenchidas em maio de 2018 das quais não consta a causa do incidente. A Carris não terá feito um relatório porque não se tratou de um incidente grave e, como já foi referido, o ascensor da Glória não estava debaixo da supervisão do IMT.

De acordo com a lei, cabe às entidades que exploram as instalações por cabo para o transporte de pessoas (autoridades de transportes ou outras) — neste caso a Carris — garantir a segurança das instalações e dos passageiros.

A Carris era também a responsável pela manutenção da parte da infraestrutura que deu origem ao descarrilamento de 2018, na medida em que as vias áreas e a via férrea estavam excluídos dos contratos de manutenção entregues a empresas privadas desde 2012. De acordo com o divulgado em 2018 pelo Público, o descarrilamento foi provocado pelo desgaste do verdugo (as saliências entre as rodas que permitem o encaixe das mesmas no carril) por não terem sido torneadas as rodas com a frequência devida.

A empresa não divulgou as causas do acidente, mas de acordo com a informação obtida pelo Observador, a avaliação feita internamente terá constatado que a dimensão do verdugo em algumas das rodas estava no limiar do mínimo admissível. Outra falha que terá contribuído para as rodas saltarem do carris e irem parar à calçada foi alguma sujidade na via férrea que comprometeu ainda mais o encaixe da roda no carril.

O descarrilamento de 7 de maio de 2018 não deu origem a um relatório de acidente porque não provocou danos materiais nem pessoais, mas obrigou a parar o elevador da Glória durante mais de um mês, tendo sido antecipada em vários meses a reparação geral do equipamento prevista para o final desse ano. O elevador esteve parado até 7 de junho do mesmo ano.

https://observador.pt/2025/09/08/descarrilamento-de-2018-do-elevador-da-gloria-nao-deu-origem-a-relatorio/

Além de antecipar a grande reparação do elevador da Glória, foram também corrigidas algumas práticas de controlo dos rodados. Foi elevada a frequência com que esse controlo era efetuado, de seis meses para a cada dois meses, e passou a haver um registo escrito dessas ações.

https://observador.pt/especiais/manutencao-da-carris-passou-por-varias-fases-iniciou-externalizacao-em-2005-mas-a-dos-ascensores-so-aconteceu-em-2012/

Questionada pelo Observador sobre o caso de 2018, a empresa respondeu como tem respondido a outras perguntas feitas ao longo da última semana. “A Carris está a receber inúmeras solicitações de entidades e de órgãos de comunicação social. A todos está a ser dada resposta com prioridade e a maior brevidade possível.”

A grande reparação do elevador da Glória realizada em 2018 foi, tal como o Observador noticiou, entregue à MNTC (conhecida por Main), a empresa externa que viria a ganhar o contrato de manutenção para os quatro ascensores, um ano mais tarde. A MNTC mantém-se como a empresa externa de manutenção destes equipamentos da Carris desde 2019, estando o contrato em vigor quando ocorreu o acidente do passado dia 3 de setembro. Não se sabe contudo se foi a mesma empresa a realizar as últimas grandes reparações ou reparações intercalares nas quais foi substituído o cabo cuja cedência no ponto de fixação estará na origem do acidente.

https://observador.pt/especiais/o-que-dizem-as-provas-recolhidas-sobre-as-causas-do-acidente/