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Armani. Herdeiros têm 18 meses para vender 15% da marca a grande grupo

Dois testamentos foram abertos dia 9 de setembro, pela notária de confiança do designer, em Milão. Terão sido escritos a 15 de março e 5 de abril de 2025, à mão, pelo próprio Giorgio Armani.

Rafaela Gomes
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Os dois testamentos de Giorgio Armani, que morreu no passado dia 4 de setembro, foram esta sexta-feira tornados públicos, avança o Corriere della Sera. A propriedade da empresa ficará com a Fundação, o seu “braço-direito” é o grande beneficiário e o futuro da marca Armani terá dois caminhos possíveis.

Giorgio Armani, que morreu aos 91 anos, era o único acionista do grupo, que inclui as marcas Emporio Armani, Armani Exchange e Armani Privé. A empresa, fundada nos anos 70 com o então companheiro Sergio Galeotti, foi totalmente controlada – segundo a Reuters, tanto ao nível de gestão, como criativo – pelo designer até à data da sua morte e passará agora a ser propriedade da Fundação Giorgio Armani.

Os testamentos foram abertos a 9 de setembro, pela notária de confiança do criador, Elena Terrenghi, em Milão, sendo datados de 15 de março e 5 de abril de 2025.

“Coloco a cargo da Fundação as seguintes responsabilidades: decorridos 12 meses e até 18 meses após a abertura da sucessão, deverá ser vendida uma participação de 15%”, começa por estar escrito, devendo este ser o primeiro passo dos herdeiros após a morte do designer, citado pelo jornal italiano.

Mas foi Giorgio Armani que escolheu as três empresas com prioridade de compra – a luxuosa LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton SE, a “gigante” de beleza L’Oéal, ou a líder no setor da ótica EssilorLuxottica, empresa do grande amigo Leonardo Del Vecchio. Não sendo uma das três, os herdeiros apenas poderão considerar outras empresas do setor da moda de igual prestígio ou com as quais a Giorgio Armani tenha parcerias comerciais. A decisão será tomada pela fundação, acordada com Pantaleo Dell’Orco (ou Leo), o seu “braço-direito”, ou, caso ele não esteja vivo, por um dos sobrinhos com direito de voto.

Questionada pelo jornal La Repubblica sobre uma mudança para o setor da moda, os responsáveis pela EssilorLuxottica afirmaram estar “muito orgulhosos” pela referência. “Avaliaremos cuidadosamente, junto com o conselho, essa perspetiva evolutiva, que merece consideração cuidadosa, dado os laços profundos que já unem os dois grupos”, acrescentaram.

O segundo passo dos herdeiros, por exigência de Armani, será a posterior transferência de uma participação adicional num mínimo de 30% e máximo de 54,9% ao mesmo comprador, “a partir do terceiro e até ao quinto ano” após a abertura do testamento. Desta forma, o comprador da Armani poderá alcançar a maioria absoluta, podendo deter no máximo 70%.

No entanto, Giorgio Armani deixou tudo pensado no testamento escrito em abril: segundo a imprensa italiana, no caso de não haver comprador que cumpra os requisitos, os herdeiros devem optar por uma listagem em bolsa a partir do terceiro ano da sua morte. De qualquer forma, a fundação não poderá reduzir a sua participação para menos de 30%, visando garantir a preservação do estilo e integridade da empresa italiana, sobre os quais também deixou diretrizes.

Embora as vendas e lucros tenham diminuído nos últimos anos, o Grupo Armani nunca deixou de ser das empresas de moda mais lucrativas da história. Como o Observador noticiou no dia da morte do estilista, a empresa teve, em 2023, “2,45 mil milhões de euros em receitas e lucros operacionais de 215 milhões de euros”.

Quem ficará a gerir a fundação e com que diretrizes?

Segundo avança o La Repubblica, os documentos explicitam ainda os lugares a ocupar na Fundação Giorgio Armani. Andrea Cameran (sobrinho) passará a integrar o conselho de administração no lugar do tio, ao lado de Dell’Orco. A notária Elena Terrenghi será também o novo membro do conselho.

As sobrinhas Roberta e Silvana Armani farão parte do Comité de Supervisão, garantindo o desejo de Armani de manter as diretrizes de ética e estilo também indicadas no testamento pelo designer.

Direitos de voto dentro da empresa

A Fundação detinha 0,1% das ações da empresa antes da morte de Armani, ficando agora com propriedade plena de 9,9%, que corresponde a 30% dos direitos de voto.

O restante dos direitos de voto será divido entre o seu Leo Dell’Orco (40%), e os seus sobrinhos Silvana Armani e Andrea Camerana, que receberão 15% cada.

O designer deixou ainda ações sem direito de voto à sua irmã, Rosanna Armani, e à sua sobrinha, Roberta Armani.

Pantaleo Dell’Orco, “o homem de confiança” que é o grande beneficiário de Armani

Se já se suspeitava que o império de Armani ficaria, em grande parte, a cargo da “pessoa em quem mais confiou”, segundo escreveu na sua autobiografia, a abertura dos testamentos veio apenas comprová-lo.

Numa entrevista ao Financial Times, em agosto, Armani assumiu que os planos para a continuidade do seu legado “consistem numa transição gradual das responsabilidades que sempre assumi para aqueles mais próximos de mim, como Leo Dell’Orco, os membros da minha família e toda a equipa de trabalho”.

No que toca à sua participação de 2% (cerca de 2.5 milhões de euros) na empresa do seu amigo, a Essilor Luxottica, Leo receberá 40%. O restante será herdado pelos seus familiares.

Além disso, da herança pessoal fazem parte as suas propriedades, equivalentes a 75% das ações da empresa L’Immobiliare, dedicada à gestão de imóveis de prestígio. Estas foram deixadas à irmã Rosanna Armani e aos sobrinhos Andrea Camerana e Silvana Armani, a quem também deixou 25% em nua-propriedade, ou seja, o direito sobre os bens que não inclui o direito de usufruto — esse foi atribuído a Dell’Orco até à data da sua morte. Entre os lugares onde Armani tem património estão cidades como St. Tropez, Antígua, Broni e Pantelleria.

Dell’Orco terá ainda usufruto vitalício do edifício onde residia Giorgio, em Milão. Citado pelo Corriere della Sera, “em relação à propriedade em Milão, Via Borgonuovo 21 , ordeno que os móveis e ornamentos, mesmo aqueles sem valor (com a única exceção da pintura de Matisse e da fotografia de Man Ray ), não sejam removidos de seu local original”, escreveu Armani.

Além de outros imóveis, que não são propriedade exclusiva da L’Immobiliaire e que ficaram tanto para os sobrinhos, como para Dell’Orco e Michele Morselli (CEO da imobiliária e amigo de Armani), o designer deixa ainda informação sobre uma embarcação.

“Coloco sobre Rosanna, Silva e Andrea a responsabilidade de garantir que Leo possa alugar a embarcação por um período de quatro semanas por ano, mesmo não consecutivas, com o direito de escolher o período, uma preferência a ser expressa até o mês de abril”, escreveu, podendo ainda Michele Morselli e a sua família usar o barco em duas das semanas de usufruto de Leo.