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Pianista Maria João Pires vence Prémio Europeu Helena Vaz da Silva 2025

"Além de ser uma extraordinária intérprete, Maria João é uma educadora visionária, uma pensadora cultural e uma revolucionária silenciosa", diz a presidente do Centro Nacional da Cultura.

Agência Lusa
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A pianista Maria João Pires é a vencedora da edição de 2025 do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, anunciou esta sexta-feira o Centro Nacional de Cultura (CNC), promotor da iniciativa.

“Este reconhecimento europeu presta homenagem à excecional contribuição de uma das maiores pianistas do nosso tempo para a promoção do património cultural e dos valores europeus“, justifica o CNC, em comunicado.

De acordo com a decisão do júri, presidido por Maria Calado, presidente do CNC, “Maria João Pires é uma das pianistas mais poéticas e influentes da Europa. Além de ser uma extraordinária intérprete, é uma educadora visionária, uma pensadora cultural e uma revolucionária silenciosa no domínio do património musical”.

O júri reconhece na carreira da pianista, “profundamente enraizada nos valores da empatia, da inclusão e da excelência artística“, a essência da “missão do Prémio Helena Vaz da Silva: sensibilizar o público para o património cultural europeu através de um envolvimento humanista e de impacto”.

Maria João Pires, numa reação ao prémio, citada pelo comunicado do CNC, disse: “Ter um prémio corresponde a ter uma honra. Ter uma honra e tomar consciência dela, é lembrar ao pormenor todas as pessoas que deram do seu tempo, colaboraram e ajudaram a que essa honra fosse atribuída. Por isso a minha primeira reação será sempre dizer ‘muito obrigado’ a todos por esta oportunidade.”

A pianista, que nasceu em Lisboa em 1944, tornou-se numa das “artistas mais destacadas internacionalmente”, escreve o CNC, recordando o percurso de Maria João Pires desde a sua primeira atuação em público, aos quatro anos, até à consagração nas décadas de 1980-1990.

Após a conquista do primeiro prémio do concurso internacional Beethoven, em 1970, o seu nome tornou-se recorrente nos programas das principais salas de concerto a nível mundial e nos catálogos das maiores editoras de música clássica: a Denon, primeiro, para a qual gravou a premiada integral das Sonatas de Mozart (1974); a Erato, a seguir, nos anos de 1980, onde deixou Bach, Mozart e uma das mais celebradas interpretações das Cenas Infantis, de Schumann; e depois a Deutsche Grammophon, em 1989.

Nesse ano, fundou o Centro Belgais para o Estudo das Artes, em Escalos de Baixo, Castelo Branco, projeto educativo, pedagógico e cultural dedicado à música, onde oferece workshops interdisciplinares, concertos e gravações que, no futuro, segundo o CNC, podem vir a ser “partilhados com a comunidade digital”.

Em 2012, na Bélgica, iniciou dois projetos complementares: os Partitura Workshops e os Partitura Choirs, destinados a coros infantis de crianças oriundas de ambientes desfavorecidos, como o Hesperos Choir.

De acordo com o CNC, “todos estes projetos têm como objetivo criar uma dinâmica altruísta entre artistas de diferentes gerações, propondo uma alternativa a uma realidade demasiado focada na competitividade”.

No passado mês de junho Maria João Pires anunciou um afastamento dos palcos “por algum tempo”, devido a um “problema de saúde cerebrovascular”. Na altura, cancelou concertos e recitais que tinha agendados para Portugal e para diversas salas europeias e do Japão.

Em agosto, em nova mensagem, mostrou entusiasmo “com a ideia de dar de novo aulas online”: “Dar aulas […] é muito mais do que isso, é uma forma de diálogo através da música, ‘um dar e receber’, uma troca de impressões, uma aprendizagem partilhada na arte de ouvir, uma procura de equilíbrio… Procurar em conjunto obriga a um acordo na experiência. Um trabalho sobre nós próprios, que nos dará certamente mais lucidez”.

Ao longo da carreira, Maria João Pires recebeu o prémio do Conselho Internacional da Música, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 1970), o Prémio Pessoa (1989), a Medalha de Mério Cultural do Governo português e o Prémio Personalidade do Ano/Martha de la Cal da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (2019), o Praemium Imperiale (2024), da Associação de Arte do Japão.

A nível discográfico, foi distinguida quatro vezes pela Academia Charles Cross, nomeada regularmente para os Grammy e recebeu um prémio Gramophone, destacando-se as suas interpretações de Sonatas e dos “Impromptus”, de Schubert, dos “Nocturnos”, de Chopin, e de Concertos de Mozart e Beethoven.

O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva foi instituído em 2013 pelo CNC, com a organização Europa Nostra e o Clube Português de Imprensa, com apoio dos ministérios da Cultura, Juventude e Desporto, e dos Negócios Estrangeiros, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Turismo de Portugal.

Além de Maria Calado, o júri foi composto por Francisco Pinto Balsemão, fundador do grupo Impresa, Piet Jaspaert, vice-presidente da Europa Nostra, João David Nunes, pelo Clube Português de Imprensa, Guilherme d’Oliveira Martins, administrador da Fundação Gulbenkian, Irina Subotic, presidente da Europa Nostra Sérvia, e Marianne Ytterdal, do Conselho da Europa Nostra.

A entrega do prémio a Maria João Pires realizar-se-á na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em 1 de novembro, às 17h.

A primeira edição do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva, em 2013, distinguiu o escritor italiano Claudio Magris. No ano passado o vencedor foi o fotógrafo alemão Thomas Struth.