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Quatro filmes para ver esta semana

"Downton Abbey: Grand Finale", um documentário sobre Natália Correia, o francês "Les Amandiers-Jovens para Sempre" e "The Long Walk-O Desafio", são as escolhas desta semana de Eurico de Barros.

Eurico de Barros
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“Downton Abbey: Grand Finale”

Poderíamos temer que este derradeiro filme do trio saído da série de televisão criada por Julian Fellowes sofresse bastante com a falta da matriarca da família Crawley, interpretada pela falecida Maggie Smith (ao qual é dedicado). A sua ausência é muito sentida, mas não é por isso que Downton Abbey: Grand Finale, realizado por Simon Curtis, como o anterior, funciona como um motor cuidadosamente afinado e é mesmo melhor que Downton Abbey: Uma Nova Era. O enredo, passado pouco após o crash financeiro de 1929, volta a ser atarefadíssimo, entre os Crawley como entre o pessoal da casa senhorial, e tem a ver com o passar de testemunhos para uma nova geração, representada pela filha mais velha, Lady Mary (Michelle Dockery) entre a família, e pela jovem cozinheira e pelo seu marido e mordomo, entre aquele – não sem que alguns problemas tenham que ser enfrentados e resolvidos antes. Entre as novas personagens, há o tio americano com pouco jeito para negócios, Harold (Paul Giamatti), e uma celebridade, Noel Coward (bem interpretado por Arty Froushan), que vem ajudar Lady Mary a voltar a ser socialmente aceite, na sequência do muito mediático escândalo do seu divórcio. Uma despedida em bom e digno estilo, desaconselhada a adeptos da luta de classes e outros marxistas jurássicos.

https://www.youtube.com/watch?v=P_30wFRxlnA&t=30s

“A Mulher que Morreu de Pé”

Realizado por Rosa Coutinho Cabral, açoriana como Natália Correia, e de quem aqui se ocupa, A Mulher que Morreu de Pé não é um documentário biográfico com todos os efes e erres do formato, mas um híbrido deste e de ensaio cinematográfico sobre a poetisa, jornalista e deputada. Além de percorrer a sua vida e obra, recordar a sua ação cultural, cívica e política, visitar vários dos lugares mais importantes da sua existência, dos Açores e do Botequim ao apartamento da Rodrigues Sampaio e ao Hotel Britânia do outro lado da rua, e ouvir amigos que foram da casa e a conheceram na intimidade, o filme contempla uma outra dimensão, em que uma série de atores, entre muito e menos conhecidos, fazem um casting para participarem num peça de teatro sobre Natália Correia e a personificar, discorrem sobre ela e vão de viagem aos Açores para conhecer o sítio em que nasceu. Compreendendo o que a realizadora quis fazer em A Mulher que Morreu de Pé, teríamos preferido, no entanto, ouvir mais tempo Fernando Dacosta a falar de Natália Correia, sabido mais sobre o que se passou com ela e Henry Miller, e ver mais imagens de arquivo de Natália a falar em vários contextos, a ser entrevistada ou a declamar poemas, do que tudo o resto que é aqui elaborado à volta da sua figura e de tudo o que viveu.

https://www.youtube.com/watch?v=JwfQzCCG1wI

“Les Amandiers — Jovens para Sempre”

O novo filme da atriz e realizadora Valeria Bruni Tedeschi passa-se nos anos 80 e é uma evocação semi-autobiográfica dos tempos em que frequentou a escola do Teatro Les Amandiers, em Nanterre, então dirigido por Patrice Chéreau (interpretado por Louis Garrel), e teve aulas com este e com Pierre Romans, entre outros. Então na casa dos 20, Tedeschi é personificada por Nadia Tereszkiewicz, com o nome de Stella, e o filme vive numa constante turbulência e num intenso sobressalto de euforia, interrogações e decepções com o curso, de amizades, namoros e paixões, de promiscuidade sexual entre os alunos e com os professores, e também entre estes, e a droga (a personagem de Étienne, colega e namorado de Stella, é um junkie de comportamento imprevisível, que ela tenta, inutilmente, regenerar) e a ameaça da SIDA são omnipresentes. Raramente há uma pausa para descansar ou sair de toda esta agitação escolar, emocional e íntima (uma exceção são os ensaios de Platonov, que os alunos vão apresentar num espectáculo público), e Bruni Tedeschi não evita alguns clichés relacionados com o meio teatral, deixando ao mesmo tempo claro o amor ao teatro e à representação que unia e definia este pequeno grupo futuros atores a que pertenceu, e que incluiu nomes como Agnès Jaoui ou Vincent Pérez.

https://www.youtube.com/watch?v=Dlo5uEAWSYQ

“The Long Walk — O Desafio”

Desde os anos 80 que há planos para filmar The Long Walk, o primeiro livro escrito por Stephen King, nos anos 60, quando ainda andava na universidade, e que só seria publicado em 1979, sob o seu pseudónimo de Richard Bachman. O projeto foi agora concretizado por Francis Lawrence, realizador de Constantine e de alguns filmes de Os Jogos da Fome. A fita passa-se num futuro distópico em que os EUA estiveram envolvidos numa guerra que debilitou gravemente o país, que vive sob um governo totalitário. Todos os anos, uma centena de rapazes concorre à Long Walk, uma prova em que têm de caminhar sem parar por uma estrada, mantendo uma cadência mínima. A intenção é mostrar ao país a sua juventude a dar um exemplo de entrega e de resistência, mas também de sacrifício. É que se os participantes não respeitarem a cadência estabelecida durante 30 segundos ou mais, são avisados. Depois de três avisos, os soldados que os acompanham abatem o prevaricador a tiro. Não há meta e a prova acaba só quando houver um concorrente de pé. O prémio é o que ele desejar – desde que não prejudique a política e as ações do Estado. The Long Walk — O Desafio foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.