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O que mudou em Lisboa durante as férias? Um hambúrguer de pato e 9 novas mesas para experimentar

O verão trouxe nove novos restaurantes a Lisboa, como o Bica do Sapato. Já em setembro chega o Broto de Pena Bastos e em outubro os novos JNcQUOI.

Carolina Sobral
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Regressar das férias não é só regressar à rotina. É encontrar uma Lisboa de novas mesas e sabores para provar enquanto ainda há lugar. Ao longo dos meses de verão, foram vários os restaurantes que abriram pelas ruas da capital, desde a zona mais oriental até São Bento. Por uns já ansiávamos há muito, como o Bica do Sapato, com o “turno zero” a aceitar já as reservas, ou o Broto, com o chef Pedro Pena Bastos longe do fine dining a partir de setembro, enquanto que por outros há ainda que esperar um pouco mais, até ao final do verão.

Se fizermos este regresso ao dia a dia a começar em Marvila encontramos por lá um Café des Épices, irmão do original, em Marraquexe. De portas abertas desde junho, veio trazer para Lisboa a essência daquela cidade marroquina, com tapetes a cobrir as paredes e grandes candeeiros a cair do teto daquele armazém junto ao 8 Marvila. Natural de Fez, a chef Soumia apresenta uma carta típica, onde as tagines são a grande especialidade: há de chakchouka (14 euros), almôndegas (16 euros), frango (18 euros), vaca (20 euros) e polvo (20 euros). Já em Alvalade, há que provar um hambúrguer artesanal 100% de pato feito com mão Michelin. Em soft opening desde julho mas com abertura marcada para dia 4 de setembro, o chef Rodrigo Castelo, com uma estrela no Ó Balcão, em Santarém, chega ao bairro lisboeta com o Quack Shack, um conceito que vem equilibrar o rigor gastronómico e acessibilidade. Aqui é o pato quem manda, num menu curto e dedicado apenas a esta ave, com apenas duas sugestões à escolha: uma mais consensual, que responde pelo nome de Quack burger (9,90 euros), com pão brioche, queijo e manteiga artesanal de leite de vaca com alho e salsa, e que tem a versão duplo, e o Quack signature (12,90 euros), mais elaborado com um pão brioche que lembra a textura de um croissant para receber depois um hambúrguer de pato mais alto, com pickles de laranja e pepino e alho francês laminado. “A única coisa que eles têm em comum é o hambúrguer de 140 gramas de carne, a manteiga de alho com salsa, que é uma manteiga caseira, e o queijo. Os produtos são todos nacionais”, esclarece o chef em conversa com o Observador.

Foi há mais de um ano que Rodrigo Castelo foi desafiado por João Seabra e Nuno Pimenta — os dois sócios do espaço — a criar um negócio tal como o conhecemos agora: uma casa só de hambúrgueres de pato. Os testes foram sendo feitos, passando pela não tão óbvia assim ligação da laranja ao pato, até chegarem ao resultado final. “Isto é 100% sustentável. Tudo o que sobra do pato vai para o croquete ou para caldos. Este pato não tem intensificadores de sabor, não tem sal, portanto nutricionalmente é um produto muito bom”, explica o chef. É esse produto que João Seabra quer que se torne no melhor hambúrguer de Portugal, confessa ao Observador, revelando ainda já terem clientes habituais no bairro de Alvalade desde a abertura em julho: “Este senhor vem todas as terças e quintas-feiras ao 12h30”.

A Santa Apolónia, já sabemos que o Bica do Sapato está de regresso, seis anos depois de ter “fechado para obras”. Desta vez, o restaurante que durante 20 anos foi tendência, e o sítio onde toda a gente queria estar, vai dividir-se em dois. Em soft opening desde agosto, o investimento imobiliário de Francisco Lacerda e Celso Assunção tem capacidade para 300 lugares, oferecendo a opção de escolher entre dois restaurantes (ou ainda o serviço de delivery), com um horário de funcionamento que deve ir do pequeno-almoço aos copos, das 10h até às duas da manhã. Cá em baixo é Milton Anes quem lidera, com um menu que se inspira na gastronomia francesa e em Trás-os-Montes. Já o andar de cima — no mezanino — onde dantes funcionava um espaço de sushi, a aposta agora é numa taberna moderna, com comidas de mão, privilegiando releituras das sandes clássicas portuguesas, como o prego, a bifana, o pão com chouriço ou a francesinha. A cozinha está ao cargo de Hugo Guerra, que já esteve na equipa do Bica do Sapato no passado. Na mesma zona, há um Almadrava para descobrir no Campo de Santa Clara. Com vista para o Panteão Nacional, esta casa — da mesma dupla da Taberna Meia Porta — abriu portas em julho com um conceito fácil de agradar: “Peixe e vinho”. Pelo meio, há ostras e cerveja Musa.

Chegando ao Chiado, é no largo Rafael Bordalo Pinheiro que o chef Pedro Pena Bastos dá vida a um sonho que já em novembro do ano passado confessava ao Observador: gostava de ter “um monoconceito ou algo mais de comida de casa, mais de mesa diária, sem regras, em que possa servir pratos pequenos de partilha, com muita grelha, mas também ao mesmo tempo possa servir uma pizzeta”. Depois do anúncio inesperado da saída do Cura, em fevereiro, onde tinha alcançado uma estrela Michelin, o jurado do Masterchef Portugal prometia que até ao verão ia abrir um restaurante “mais acessível e próximo de todos” e “onde a tradição e a inovação caminham lado a lado, trazendo o melhor de Portugal e das minhas vivências”. O Broto chega agora, na segunda quinzena de setembro, com uma cozinha despretensiosa onde o conceito da partilha toma conta, respeitando a origem dos produtos e os pequenos produtores, através de uma experiência informal. “No fundo, quero explorar minha cozinha portuguesa livre. Torná-la mais acessível, mais dinâmica e sem as amarras do fine dining”, afirmou o chef em conversa com o Observador, explicando que o Broto quer ser um restaurante “para as pessoas se divertirem”, com um menu “inspirado em cozinha portuguesa contemporânea, ligado muito às minhas raízes, às minhas memórias afetivas, de família, das férias passadas no campo, dessas vivências mais do contacto com o Portugal rural”. Exemplo disso são pratos como os coscorões com mexilhões de escabeche e pil pil de salsa. Já da sua carreira no fine dining, leva para este novo espaço no Chiado “a arte de execução, o standart e todos os pilares que fazem parte da minha cozinha, mas que no fundo têm uma roupagem ligeiramente diferente”.

Descendo até à Avenida da Liberdade, os dois restaurantes inseridos no hotel JNcQUOI House, do Amorim Luxury Group, vão por fim abrir portas em outubro depois do incêndio que a 19 de junho do ano passado fez adiar a inauguração. Foi numa publicação no Instagram que Miguel Guedes de Sousa anunciou a tão esperada abertura do JNcQUOI Fish, marcada para “dia 8 de outubro, às 13h30”, depois de quatro anos a ser desenvolvido. Era já sabido também que é o chef Filipe Carvalho quem está à frente deste novo projeto que, com foco no peixe e no marisco, nasceu do “orgulho português, criado com a paixão do mar e impregnado de séculos de tradição”, lê-se na publicação. O antigo chef do Fifty Seconds, com uma estrela Michelin, e atual chef do JNcQUOI Avenida, toma ainda conta do JNcQUOI Table, um restaurante de fine dining, apenas com 11 lugares sentados ao balcão e um menu de degustação com pratos que variam entre os sabores da terra e do mar, que vai abrir portas também em outubro no novo hotel do grupo.

Icónico é o novo café em São Bento. Aberto pelas mãos dos franceses Clara Perrot e Nicolas Pignat, está em soft opening durante a semana de 1 a 6 de setembro — com 20% desconto em todo o menu durante esse período — e convida os clientes a invocar as memórias de infância e os bons momentos. “Quando pensamos nisso, pensamos em sabores doces, nem sempre super açucarados, mas doces. Queríamos algo no mood de nostalgia doce”, explica ao Observador Clara, atual chef pasteleira e barista do Icónico. Com um design divertido e colorido, que se arrasta até ao menu, querem ainda ser um sítio onde as crianças da zona possam ir antes ou depois da escola para comer uma madeleine bem francesa: há de baunilha (1 euro), de flor de laranjeira (1,5 euros), com cobertura de chocolate (2 euros) ou recheada de praliné (2 euros). Quanto às bebidas, há matcha, chocolate quente e o clássico café a competir com os icónicos especiais, como o cereal latte (4,50 euros), que lembra o sabor que os últimos cereais deixavam na tigela de leite em criança.

Terminando esta viagem em Santos, são quatro os novos restaurantes a descobrir por lá. Vindas diretamente de Nova York, as pizzas da Palms já tomam conta da Travessa dos Mastros desde o primeiro de agosto com sugestões como a clássica margherita (também há versão vegan), a pepperoni, a pesto broccoli ou a house pie, com mel picante e stracciatella, para serem pedidas à fatia ou inteiras. Na rua da Esperança, desde 23 de julho que o Possible World Lisbon leva até Santos cocktails acompanhados por ostras, pimentos padron, bife tartaro e crudo de dourada. Já no Cais do Sodré, a rua da Boavista recebe mais um espaço. O Maída é a nova casa libanesa de Lisboa onde o conceito de partilha se vive diretamente no centro da mesa, não fosse o nome evocar exatamente isso: banquete, partilha e celebração à mesa. Com uma cozinha de matriz mediterrânica com raízes libanesas, e com inspirações gregas, turcas, sírias e até mexicanas, o Maída convida a comer com as mãos opções como o hummus com toque de romã (7 euros) ou o cremoso artichoke & apinach (10,20 euros). Pelas especialidades há ainda o kebab, a lasagna ou o shawarma, que terminam depois com o Znoud El Set, um pastel crocante de massa filo tipo, recheado com ashta (nata doce libanesa) e coberto com pistácio.

De volta a Santos, desde julho que as ilustrações do chef Leandro Carreira têm conquistado quem passa pela página de Instagram do Barbela. Coloridas e desajeitadas, vêm dar um vislumbre dos pratos que o chef radicado em Londres há mais de 10 anos apresenta agora no seu novo restaurante, em soft opening de quarta-feira a sábado. Dedicado ao peixe e ao marisco, com foco na maturação e na micro-sazonalidade, vem trazer “uma oferta que as pessoas dizem que Lisboa não tinha, ou que Portugal não tinha”, explica ao Observador. A abrir por fases, o Barbela apresenta agora um menu especial, focado apenas no crudo bar — com opções como os noodles de batata com anchova — antes de avançar com o menu completo, que vai ter “marisco, peixe na grelha, pratos no forno e pratos de arroz” e que chega no final do mês. “Ainda vamos abrir o Bela, que é o bar dentro do restaurante, e que vai ter uma oferta diferente, tanto de cocktails como de comida. A comida aqui dentro do Bela vai ser só coisas de pegar com a mão, nao vai haver talheres, um bocadinho mais sofisticado, mais small bites que complementem os cocktails”. Esssa carta tem a assinatura de Lula Mascella, vindo do Picco, em São Paulo, e a decoração de interiores do Barbela ficou ao cargo da designer Constança Entrudo. Em Londres, Leandro Carreira vai ainda assumir o espaço do Lisboeta do chef Nuno Mendes, que vai fechar para dar lugar ao Luso a partir de dia 15 de setembro. “Estou a fazer a consultoria. Desenvolvi todo o conceito. Temos algumas coisas portuguesas mas é um restaurante que celebra a Península Ibérica e as tradições de grelhar, do peixe e do marisco. É um restaurante que tem de tudo”, avança.