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Estudo. Mineração em águas profundas pode afetar a vida marinha

Um estudo, que examinou dados recolhidos no oceano Pacífico, revela que a mineração em águas profundas pode afetar a vida marinha, desde os vermes, crustáceos e até tubarões.

Agência Lusa
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A mineração em águas profundas pode ter impacto na vida marinha, desde os organismos mais pequenos até aos grandes predadores, como peixes-espada e tubarões, revelou um estudo divulgado na quinta-feira que foi financiado pela indústria.

A empresa canadiana The Metals Company pagou aproximadamente um milhão de dólares para que a organização australiana de investigação científica, CSIRO, examinasse dados recolhidos no oceano Pacífico. Grandes extensões do fundo do oceano Pacífico estão cobertas por formações minerais polimetálicas, estruturas semelhantes a seixos com níveis variados de manganês, cobalto, cobre e níquel.

A The Metals Company surpreendeu todos ao solicitar a Washington, através da sua subsidiária norte-americana, a primeira licença de exploração mineira comercial em águas internacionais, particularmente na Zona Clarion-Clipperton.

Situada entre o México e o Havai, a “Zona de Fratura de Clipperton” é uma vasta planície abissal de aproximadamente quatro milhões de quilómetros quadrados.

Ignorando a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na sigla em inglês), da qual os Estados Unidos não são membros, a empresa canadiana planeia aproveitar uma lei norte-americana de 1980, recentemente reativada pelo Presidente Donald Trump, para lançar o seu projeto dentro de dois anos.

As empresas mineiras ainda não encontraram a melhor forma de recuperar estas formações minerais localizadas a cinco quilómetros ou mais de profundidade. Os seus esforços estão focados em máquinas de recolha robótica que aspiram as formações minerais à medida que se arrastam pelo fundo do oceano.

Espécies como o pepino-do-mar, os vermes marinhos, as estrelas-do-mar e os crustáceos podem sofrer “declínios significativos” na sua população como resultado destas práticas, indica o estudo.

Há relatos de que algumas espécies recuperam parcialmente num ano, mas os filtradores e os pequenos organismos que se alimentam de sedimentos apresentaram “recuperação mínima”. “No fundo do mar, a nossa investigação mostra que existem impactos locais substanciais de várias operações de mineração”, frisou o cientista Piers Dunstan em conferência de imprensa.

Os peixes predadores podem ver os metais tóxicos começarem a acumular-se nos seus corpos após uma exposição prolongada a sedimentos libertados pela escavação. “Os espadartes e os grandes tubarões acumularam as maiores concentrações simuladas de metais“, observaram os cientistas no seu relatório.

“Este projeto ajuda a garantir que, caso a mineração em águas profundas prossiga, existe uma abordagem clara para a compreensão dos potenciais riscos e impactos na vida marinha e nos ecossistemas”, salientou Dunstan.

Tina Soliman-Hunter, professora na Universidade Macquarie, na Austrália, explicou que este foi um dos estudos “mais abrangentes” até à data sobre a mineração em águas profundas.

Incentivada pela WWF, a Coligação Empresarial para Impedir a Mineração em Águas Profundas foi lançada em 2021, e 64 empresas aderiram. Instituições financeiras como o Deutsche Bank, o Credit Suisse (UBS), o Crédit Agricole e o Banco Europeu de Investimento também indicaram que não irão financiar esta atividade.