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Benjamin Weil: Gulbenkian não renovou contrato porque "a administração tem outros projetos", diz o diretor do CAM

É o responsável pelo Centro de Arte Moderna, cujo contrato termina em janeiro de 2026, que o diz ao Observador. Fundação Gulbenkian vai agora escolher um novo diretor.

Alexandra Carita
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Benjamin Weil chegou ao Centro de Arte Moderna (CAM) em 2021, já a casa mais moderna da Gulbenkian estava encerrada para obras. Inaugurado, renovado e relançado com pompa em setembro do ano passado, o CAM despede-se já em janeiro do curador francês, foi esta quinta-feira anunciado. Por decisão do conselho de administração da Fundação, o contrato do diretor, que termina a 31 de janeiro, não será renovado, diz o próprio Weil ao Observador, falando de “outros projetos” por parte da administração.

A saída do diretor do Centro de Arte Moderna foi avançada esta quinta-feira pelo Observador e confirmada publicamente, mas os contornos da não recondução de Benjamin Weil não foram esclarecidos. Sem avançar nenhuma razão para este afastamento do cargo, a Gulbenkian indicou apenas que “a seu tempo, anunciará o novo diretor do CAM, depois de um processo de recrutamento”, excluindo a ideia da realização de um concurso internacional para a escolha do novo diretor artístico.

“Cumpri a missão que me foi confiada para relançar o CAM e o meu contrato era de cinco anos”, começou por dizer ao Observador Benjamin Weil. “Caberia ao conselho de administração renovar o contrato, mas parece que tem outros projetos”, referiu o curador francês, frisando ainda que a Fundação Gulbenkian “não tinha efetivamente nenhuma obrigação de renovar o contrato, que termina a 31 de janeiro de 2026”.

“Creio que cumpri o meu trabalho de forma honrosa. Eu e a equipa do CAM trabalhámos imenso nestes últimos anos e estou muito orgulhoso do que conseguimos fazer.”

No meio da arte portuguesa aponta-se a grande controvérsia suscitada pela linha programática de Weil para o novo Centro de Arte Moderna da Gulbenkian como a causa do seu afastamento no final do primeiro contrato. A comunidade ansiava por um museu que expusesse a coleção em permanência e exaltasse a arte contemporânea nacional e Weil optou por mostrar as grandes obras do acervo apenas nas reservas, exibindo temporariamente as aquisições mais recentes e seguindo depois uma programação baseada na rotatividade de narrativas artísticas que contornassem discursos hegemónicos.

Ao Observador, Benjamin Weil não quis dizer se ficou surpreendido com esta tomada de posição da “autoridade” Gulbenkian, no entanto, revela: “Ainda não decidi para onde vou”.  Via telefone, e antes de embarcar num avião para fora de Lisboa, o diretor do CAM que está de saída realçou que, “de qualquer maneira, espero guardar um contacto forte com este país delicioso de viver onde habita um grande número de artistas com muito talento”.

Em jeito de síntese, não deixou de lamentar vicissitudes: “Infelizmente a pandemia não me permitiu entrar tão rapidamente quanto queria no microcosmos do mundo da arte portuguesa, mas fiz belos encontros”.

Em entrevista ao Observador, em setembro do ano passado, a propósito da inauguração do renovado Centro de Arte Moderna, Benjamin Weil dizia: “Sabemos ambos a responsabilidade que temos. A história não deve ser ignorada. Uma colega nossa aqui na casa disse um dia que o CAM era uma nova instituição com 40 anos de história. E é verdade. Queremos ter uma instituição nova, mas sabemos que há uma história, e valorizamo-la muito também. Mas não é uma história que nos pesa, é antes uma história que nos inspira.”

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