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(A) :: Pelo menos 500 testemunhas vão a tribunal na Operação Marquês. Entre elas está António Costa e vários ex-ministros

Pelo menos 500 testemunhas vão a tribunal na Operação Marquês. Entre elas está António Costa e vários ex-ministros

José Sócrates chamou António Costa para testemunhar em tribunal para "repor a verdade". Presidente do Conselho Europeu é uma das várias figuras públicas entre as centenas de testemunhas.

Miguel Pinheiro Correia
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Passava das 16h30 da tarde desta quinta-feira quando chegou a informação do número de testemunhas da Operação Marquês: são, pelo menos, 527, adiantou ao Observador fonte do Conselho Superior de Magistratura. Pouco depois, José Sócrates justificou a presença nessa lista de uma das mais mediáticas testemunhas, António Costa, a quem acusou de “covardia”: “Foi ele que me apresentou Manuel Pinho, não foi Ricardo Salgado”.

https://observador.pt/liveblogs/operacao-marques-doze-anos-apos-a-abertura-do-inquerito-comeca-o-julgamento-de-jose-socrates/

O testemunho do presidente do Conselho Europeu foi pedido pelo também ex-primeiro-ministro e arguido na Operação Marquês, por entender que há uma necessidade de repor a verdade sobre a forma como conheceu o seu antigo ministro da Economia. “Convoco António Costa para que esta verdade seja clara, foi ele que me apresentou Manuel Pinho. É profundamente lamentável que António Costa estivesse calado durante todos estes anos sobre essa verdade. Podia ter dito imediatamente, tudo isto que o Ministério Público disse não é verdadeiro”, disse Sócrates rodeado de jornalistas ao final da primeira sessão de julgamento.

O ex-secretário-geral do Partido Socialista leva pelo menos 42 testemunhas a tribunal, como tinha adiantado o Observador, o que representa uma porção das 298 testemunhas de todos os 22 arguidos (18 individuais e quatro empresas). Além de António Costa, haverá mais figuras mediáticas a falar perante a juíza sobre o caso, numa lista que contempla ainda outros ex-ministros e ex-secretários de Estado.

Para alcançar o número total de testemunhas, superior a 500, é preciso ainda somar as 229 arroladas pelo Ministério Público, onde figuram alguns nomes repetidos: isto porque o número identifica a quantidade de testemunhas sinalizadas, mas os advogados dos arguidos podem pedir para ouvir, como testemunhas, pessoas já identificadas pelo MP, ou outros arguidos, para prestar depoimentos.

https://observador.pt/especiais/operacao-marques-o-que-dizem-os-principais-arguidos-nas-suas-contestacoes-sao-todos-inocentes/

José Sócrates chamou António Costa e Vítor Escária

Sendo a peça central da Operação Marquês, José Sócrates conta também com figuras bastante mediáticas entre as 42 testemunhas. Se António Costa foi um nome confirmado pelo arguido, há ainda uma longa lista de figuras conhecidas.

Uma dessas testemunhas é uma pessoa bem próxima de António Costa e muito relevante no espaço político-judicial dos últimos tempos. Trata-se de Vítor Escária, antigo chefe do gabinete do atual presidente do Conselho Europeu e arguido na Operação Influencer. Sócrates chama ainda a tribunal um parceiro dos tempos de governação, Manuel Pinho, que foi seu ministro da Economia e Inovação e que, segundo o ex-primeiro-ministro, só conheceu por intermédio de António Costa.

A lista, revelada pela CNN, conta ainda com outros antigos governantes: Fernando Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças; Maria de Lurdes Rodrigues, ex-ministra da Educação; Mário Lino, ex-ministro das Obras Públicas; António Mendonça, também das Obras Públicas; Jorge Lacão, ex-ministro dos Assuntos Parlamentares. Figuram ainda na contagem de testemunhas alguns ex-secretários de Estado e gestores ligados à Portugal Telecom.

Sem figuras mediáticas, Carlos Santos Silva arrola inspetor da PJ

Em silêncio à entrada e à saída do tribunal para a sessão desta quinta-feira, Carlos Santos Silva manteve-se discreto perante as câmaras e na sala de audiência manteve o registo. Quando cumpriu o formalismo de se identificar disse que queria “prestar declarações, mas não agora”.

Sob o empresário ligado ao grupo Lena, que passou de desconhecido dos portugueses a grande amigo de José Sócrates, surge a tese de que seria o “testa de ferro” do ex-primeiro-ministro. Para defender a inocência do seu cliente, a defesa de Carlos Santos Silva contará com uma lista reduzida de oito testemunhas, onde (quase) não figuram nomes mediáticos.

A exceção é Luís Flora, da Unidade de Informação Financeira da Polícia Judiciária, inspetor que fez as duas averiguações preventivas que estão na origem da Operação Marquês.

Zeinal Bava ultrapassa Sócrates no número de testemunhas

A versão defendida pela equipa de advogados de Zeinal Bava manteve-se a mesma na sala de julgamento esta sexta-feira. O advogado José António Barreiros enfatizou que as decisões do ex-Presidente da PT visaram defender a empresa. “Não há alinhamento entre os interesses de Zeinal Bava e interesses do Grupo Espírito Santo”, disse.

O arguido acusado de três crimes consegue ultrapassar José Sócrates no número de testemunhas: estão arroladas 48, entre eles está Rodrigo Araújo Costa, atual presidente da REN e ex-presidente da PT Multimédia; Jorge Tomé, ex-administrador da PT e ex-presidente do BANIF, Joaquim Goes, ex-administrador do BES; e Duarte Paulo Azevedo, ex-presidente da Sonae.

Armando Vara com nomes repetidos e ex-ministros

Julgado por dois crimes, Armando Vara manteve-se discreto nesta audição e não prestou declarações à entrada e à saída do tribunal. Dentro da sala, a postura assumida por Tiago Rodrigues Bastos, advogado do ex-ministro e o antigo ministro de Guterres, foi semelhante e pouco se pronunciou.

A defesa arrolou ao julgamento 11 testemunhas, nas quais surgem dois nomes repetidos — Fernando Teixeira dos Santos e Mário Lino — e outro ex-ministro das Finanças — Luís Campos e Cunha. A lista de antigos governantes não fica por aqui, contando também com a antiga ministra da Justiça Celeste Cardona. Além da inquirição de todas as testemunhas indicadas pelo MP, também o antigo presidente da CGD Carlos Santos Ferreira irá testemunhar.

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Joaquim Barroca chama dois ex-secretários de Estado

Na sessão desta sexta-feira no tribunal, Dirce Rente, abordou o tema das testemunhas, aproveitando as exposições introdutórias para repudiar a inclusão de inspetores da Autoridade Tributária no lote de testemunhas arroladas pelo Ministério Público para o julgamento.

“Precisamente pelo respeito das normas jurídicas que se entende não poderem ser ouvidos como testemunhas os inspetores da Autoridade Tributária. Não será por ser prática nestes casos que se torna necessariamente legal ouvir pessoas que desempenharam funções de órgão de polícia criminal”, disse.

Entre as testemunhas arroladas pela defesa de Barroca está (mais uma vez) Mário Lino e dois ex-secretários de Estado: Ana Paula Vitorino, que teve a pasta dos Transportes, e Paulo Ribeiro de Campos, da pasta das Obras Públicas.

Ministério Público chama 229 testemunhas

Apesar de contar com 229 testemunhas, o número de arrolados pelo MP não ultrapassa os 298 dos vários arguidos, numa lista onde surgem alguns repetidos — Luís Cunha, Fernando Teixeira dos Santos e Carlos Santos Ferreira —, um ex-funcionário da Union des Banques Suisses, Michael Raymond Canals, e um inspetor tributário, Paulo Silva.