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IL: Metas falhadas exigem renovação, não reciclagem

O pior que podia acontecer à IL seria não interromper o ciclo e a estratégia política atual. Contudo, nada mudará sem renovação, reposicionamento, e uma nova estratégia política.

Daniel Moura
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Rui Rocha falhou as metas eleitorais traçadas para a Iniciativa Liberal (IL) nas legislativas de 2024 e 2025. A Comissão Executiva cessante não conseguiu aproximar o partido dos ambiciosos 15% prometidos em Janeiro de 2023. Apesar de um crescimento marginal de 0,42% e cerca de 390 mil votos, a IL não conquistou a relevância pretendida: ser imprescindível para garantir a maioria absoluta com a AD ou para somar mais deputados do que toda a esquerda.

O partido estagnou, perdeu ideias e transformou a campanha num desespero comunicacional. Assumir-se como solução governativa, chegando a avançar nomes para ministérios, afastou votos em vez de os conquistar. Num momento em que o eleitorado procurava alternativas e não alianças pré-eleitorais, a IL desperdiçou a oportunidade de capitalizar os erros e polémicas à esquerda e à direita.
A proposta de revisão constitucional foi o golpe final, revelando má estratégia, falta de timing e de diplomacia, expondo a inexperiência face a atores políticos mais calejados.

Contrariamente a quem viu a demissão de Rui Rocha como “fora de tempo”, considero-a acertada, sinal de responsabilidade e dignidade. Obrigado, Rui, pela dedicação, combatividade e elevação.

Hora de refletir — e agir

Nunca o parlamento português teve tantos partidos, e isso torna a posição da IL mais frágil. Se a IL continuar como está, os outros partidos agradecem. É urgente reflexão e debate interno, principalmente em torno de dois temas: identidade e renovação.

A IL afastou-se da matriz que a distinguia como partido novo, consistente e cheio de ideias. Será este o nosso teto eleitoral ou apenas metade do potencial? Temos ou não capacidade de conquistar eleitores de centro-esquerda, incluindo os que deram a maioria absoluta a António Costa? Como sacudir a perceção de que a IL é apenas um PSD 2.0 ou uma “direita urbana” sem ligação ao país real?

Precisamos de afirmar as nossas respostas para problemas estruturais do país: excesso de regulação, má execução de fundos comunitários, serviços públicos que falham aos cidadãos e às empresas, estado pesado e retrogada, SNS aquém do potencial e uma escola pública desmotivada. É imperativo reter talento jovem e equilibrar políticas de trabalho com uma gestão e controlo responsável da imigração.

Esses desafios devem ser prioritários para a próxima Comissão Executiva, que precisa convocar toda a base — e a sociedade civil — para um debate aberto. A IL só crescerá se derrubar centralismos e abrir espaço a novos protagonistas, renovando-se política e estrategicamente.

No início era o verbo (disputar)

No próximo dia 19 de julho, a Convenção Eleitiva elegerá Mariana Leitão como presidente, num processo que se assemelha mais a uma sucessão dinástica que a um natural exercício de campanha, discussão, escrutínio e sufrágio.

Um grupo de liberais ganhou força e trabalhou intensamente para construir uma candidatura alternativa. No entanto, a marcação da data da convenção e a limitação do processo apenas à eleição da Comissão Executiva, que limita a possibilidade de mobilizar o capital político existente noutros órgãos do partido, acabaram por inviabilizar esse projeto. Com isso, reduziu-se o espaço para apresentar e discutir uma moção estratégica que visava alertar e endereçar a fraca mobilização do partido, e questionar e mitigar a ineficácia da, até então, estratégia política.

Desejo a Mariana Leitão e à sua equipa pleno sucesso neste novo ciclo. É fundamental que promovam o diálogo e a articulação entre os vários órgãos do partido, assim como uma política interna que fortaleça a coesão e a vitalidade da Iniciativa Liberal.
A renovação é, mais do que nunca, imperativa.

Continuarei a contribuir ativamente para o sucesso da IL, em especial na Madeira, como candidato autárquico, e a escrutinar, de forma construtiva e exigente, o desempenho do partido a nível nacional.

Permanecerei disponível para ajudar a construir um projeto verdadeiramente liberal, progressista, humanista e europeu, capaz de afirmar-se como alternativa ao populismo e influenciar positivamente a governação em Portugal.