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(A) :: Os sonhos não são de graça. Para os cumprir é preciso muito mais do que sonhar (a crónica do Espanha-Portugal)

Os sonhos não são de graça. Para os cumprir é preciso muito mais do que sonhar (a crónica do Espanha-Portugal)

Num arranque de Campeonato da Europa completamente em falso, Portugal sofreu quatro golos na primeira parte e foi goleado por Espanha num jogo onde as fragilidades nacionais foram expostas (5-0).

Mariana Fernandes
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“Pelo Diogo”. Era assim que a Federação Portuguesa de Futebol lançava o jogo em que Portugal se estreava no Campeonato da Europa, contra Espanha, em Berna. Num dos dias mais tristes da história do futebol português, o dia em que morreram Diogo Jota e André Silva, a Seleção feminina tinha a responsabilidade de tentar encontrar algo por que esboçar um sorriso.

Mas a tarefa era complexa. Na jornada inaugural do Campeonato da Europa, Portugal enfrentava desde logo a campeã do mundo Espanha — ou seja, uma das principais candidatas à conquista da competição. Vinda de quatro goleadas consecutivas na Liga das Nações, duas delas contra as espanholas, a equipa de Francisco Neto surgia na Suíça com a vontade de ultrapassar a fase de grupos de uma fase final pela primeira vez. Mas com a certeza de que o momento não era o melhor.

Ficha de jogo

Espanha-Portugal, 5-0

Campeonato da Europa de 2025

Stade de Suisse, em Berna (Suíça)

Árbitro: Iuliana Demetrescu (Roménia)

Espanha: Adriana Nanclares, Olga Carmona, Laia Aleixandri, María Méndez, Ona Batlle (Jana Fernàndez, 66′), Alexia Putellas, Patri Guijarro, Vicky López (Aitana Bonmatí, 81′), Clàudia Pina (Athenea del Castillo, 45′), Esther González (Salma Paralluelo, 66′), Mariona Caldentey (Cristina Martín-Prieto, 77′)

Suplentes não utilizadas: Esther Sullastres, Cata Coll, Leila Ouahabi, Lucía García, Alba Redondo, Maite Zubieta

Treinadora: Montse Tomé

Portugal: Inês Pereira, Beatriz Fonseca (Ana Borges, 45′), Diana Gomes, Carole Costa, Fátima Pinto, Catarina Amado, Andreia Jacinto (Ana Seiça, 45′), Andreia Norton (Dolores Silva, 73′), Tatiana Pinto, Diana Silva (Andreia Faria, 83′), Jéssica Silva (Ana Capeta, 68′)

Suplentes não utilizadas: Patrícia Morais, Sierra Cota-Yarde, Lúcia Alves, Joana Marchão, Kika Nazareth, Carolina Correia, Telma Encarnação

Treinador: Francisco Neto

Golos: Esther González (2′ e 43′), Vicky López (7′), Alexia Putellas (41′), Cristina Martín-Prieto (90+3′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Laia Aleixandri (52′)

“Temos de ser uma equipa competitiva. Sabemos quem está à nossa frente, o nosso contexto e como temos conseguido chegar às fases finais. Numa fase tão curta é muito importante pontuar. Não é decisivo, mas seria sempre muito bom pontuar. Espanha é uma equipa dominadora e expõe-se pela forma como ataca, com muitas jogadoras no meio-campo adversário. Coloca muita gente e projeta muito as duas laterais. A ideia seria empurrar Espanha um bocadinho para trás, mas reconhecer o patamar em que estamos. Temos de aproveitar todas as oportunidades. Assino fazer um bom jogo, ser competitivo e, se for justo um empate, sim. Mas não vamos jogar para o empate”, disse o selecionador nacional na antevisão da partida.

Assim, e já depois de Itália vencer a Bélgica no outro jogo do Grupo B, Francisco Neto mantinha a linha de três centrais e apostava em Jéssica Silva e Diana Silva no ataque, apoiadas por Andreia Norton, deixando Kika Nazareth e Ana Borges no banco. Do outro lado, com Irene Paredes castigada e Aitana Bonmatí a ser ainda suplente depois de ter estado internada devido a uma meningite, Montse Tomé tinha Mariona, Esther González e Clàudia Pina no setor mais adiantado, com a inevitável Alexia Putellas no meio-campo.

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O jogo não poderia ter começado da pior maneira para Portugal. Logo nos instantes iniciais, na sequência de um passe longo de Olga Carmona na esquerda, Esther González ganhou o duelo a Fátima Pinto e finalizou de calcanhar, de costas para a baliza, para abrir o marcador (2′). Pouco depois, o segundo golo: Ona Battle abriu na direita em Mariona, a jogadora do Arsenal cruzou rasteiro e Vicky López só precisou de encostar (7′).

Mesmo a perder por dois golos de diferença antes de estarem cumpridos dez minutos, a reação de Portugal foi nula. Espanha dominava por completo, construía as jogadas a partir da linha do meio-campo e não permitia qualquer aventura ao ataque português — até porque Jéssica Silva, a suposta referência ofensiva, andava em missões defensivas junto à grande área. Inês Pereira tornou-se crucial nesta fase, evitando golos de Esther González (16′) e Clàudia Pina (35′), mas não fez milagres.

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Já perto do fim da primeira parte, numa altura em que era notório que Portugal só queria regressar aos balneários sem sofrer mais nenhum golo, apareceu o terceiro: Mariona descobriu Alexia Putellas na área com um grande passe e a média do Barcelona, depois de tirar Diana Gomes da frente com uma enorme simulação, atirou certeiro (41′). Logo a seguir, num lance algo fortuito em que Pina cruzou contra o poste, Esther González ainda teve tempo para bisar e carimbar a goleada (43′). 

Ao intervalo, Portugal estava a ser goleado por Espanha em Berna e Francisco Neto, com toda a certeza, já tinha perdido toda a esperança de ainda pontuar na primeira jornada do Campeonato da Europa. Mas o que se ia passando era mais grave do que isso: a Seleção estava perdida em campo, sem capacidade para concluir três passes seguidos ou ser competitiva, e parecia uma sombra do que outrora já foi.

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Ambos os treinadores mexeram ao intervalo, com Montse Tomé a trocar Clàudia Pina por Athenea del Castillo e Francisco Neto a colocar Ana Borges e Ana Seiça nos lugares de Andreia Jacinto e Beatriz Fonseca. A lógica mantinha-se, ainda que Espanha estivesse claramente a tirar o pé do acelerador e a tentar gerir a vantagem com bola, e Portugal continuava sem capacidade para construir de forma organizada.

Diana Silva assinou um remate de fora de área que Adriana Nanclares recolheu com facilidade e que foi um oásis no deserto (65′) e Montse Tomé continuou a gerir esforços, lançando Salma Paralluelo e Jana Fernàndez, enquanto que Francisco Neto apostou em Ana Capeta e Dolores. A avançada do Sporting teve a única verdadeira oportunidade que Portugal criou no jogo, com um remate que passou por cima depois de um passe de Catarina Amado (75′), e os minutos foram passando com poucos acontecimentos relevantes.

Aitana ainda entrou, Francisco Neto acabou o jogo a fechar ainda mais a equipa com a entrada de Andreia Faria e ainda sofreu o quinto golo, nos descontos, com um cabeceamento de Cristina Martín-Prieto (90+3′). Portugal foi goleado por Espanha na jornada inaugural do Campeonato da Europa, começando a competição completamente em falso. Mais do que isso, a Seleção Nacional deixou bem claro que a fase que atravessou na ponta final da Liga das Nações não foi ultrapassada e está muito presente — e é preciso muito mais do que sonhar para atingir o sonho de superar a fase de grupos.