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Cristina Carvalhal desvincula-se do projeto televisivo "Contado por Mulheres", depois de acusações de falta de representatividade

A atriz e encenadora desvinculou-se do projeto de telefilmes da produtora Ukbar Filmes e da RTP pela falta de participação de mulheres negras, racializadas, trans ou com deficiência.

Agência Lusa
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A atriz e encenadora Cristina Carvalhal desvinculou-se do projeto de telefilmes Contado por Mulheres, da produtora Ukbar Filmes e da RTP, pela falta de participação de mulheres negras, racializadas, trans ou com deficiência, revelou esta quinta-feira em comunicado.

Cristina Carvalhal era uma das vinte mulheres portuguesas a fazer parte, enquanto realizadora, da nova temporada daquele projeto televisivo, mas decidiu abandoná-lo na sequência de uma carta aberta, divulgada na semana passada, com críticas à falta de representatividade, que subscreveu.

Em comunicado enviado à Lusa, Cristina Carvalhal diz que o projeto Contado por Mulheres visa combater “a gigante desigualdade de género no setor audiovisual”, porém considera “inaceitável que não haja mulheres negras, racializadas, trans ou com deficiência entre as realizadoras escolhidas”.

“Penso que a reparação exige que os responsáveis ouçam as pessoas discriminadas e ajam em conformidade, implementando mudanças concretas no projeto e contribuindo para uma sociedade mais justa e plural”, escreveu a realizadora.

No dia 30 de junho foi divulgada uma carta aberta, assinada por mais de 400 pessoas, a criticarem a produtora e a RTP pela ausência de mulheres negras, racializadas, com deficiência e trans do projeto Contado por Mulheres.

Na carta aberta, figuras como as atrizes Cléo Diára, Isabél Zuaa e Sara Carinhas, o realizador João Salaviza, o encenador Pedro Penim, a investigadora Maria João Brilhante e o Teatro Griot consideraram que a decisão “não é um gesto aleatório”.

“É uma escolha estratégica, política, que perpetua uma visão estreita sobre quem pode narrar, representar, imaginar comunidades, sociedades, países, mundos”, lê-se no documento.

O projeto audiovisual Contado por Mulheres, cuja produção só deverá arrancar no próximo inverno, vai ter uma nova temporada de 20 telefilmes realizados por mulheres portuguesas e inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas.

A nova temporada de filmes foi apresentada a 18 de junho no encontro Conecta Fiction & Entertainment, em Espanha, e na altura a produtora Ukbar indicou à Lusa que o objetivo é apostar “em histórias que promovam a integração das realizadoras mulheres no cada vez mais desafiante mercado de trabalho, promovendo a igualdade de oportunidades”.

Os 20 telefilmes vão abordar “um tema atual e pertinente que preocupa a sociedade portuguesa e a humanidade como um todo, inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030”, nomeadamente a crise na habitação, o desemprego jovem, a saúde mental, a igualdade de género ou as migrações e os refugiados.

A nova temporada contará, na realização, com Lúcia Moniz, Joana Botelho, Mónica Santos, Margarida Vila-Nova, Sandra Faleiro, Francisca Alarcão e Maria João Bastos, entre outras mulheres.

Algumas das que fizeram os telefilmes da temporada anterior regressam agora ao projeto, entre as quais Ana Cunha, Rita Barbosa e Fabiana Tavares.

Os primeiros filmes do projeto Contado por Mulheres baseavam-se em obras literárias e começaram a ser exibidos na RTP em 2022.

As pessoas que assinam a carta aberta questionam a RTP sobre se foram acionados “mecanismos de inclusão, consulta e transparência” no processo de seleção das realizadoras e perguntam à Ukbar Filmes se está disponível “para assumir esta falha e tomar medidas com vista a corrigir os moldes de produção”.

“Como justificam a total exclusão em ambas as temporadas de mulheres artistas, historicamente invisibilizadas, cujos trabalhos representam um compromisso real com as questões de género e das desigualdades — muitas das quais com percursos profissionais consolidados, e que vêm contribuindo substantivamente para um setor artístico e cultural mais fecundo, plural e transformador?”, perguntam.

A Associação Cultural Nêga Filmes, a professora Inocência Mata, a argumentista Fernanda Polacow, a escritora Gisela Casimiro, o ator Hoji Fortuna, o realizador João Nuno Pinto, a realizadora Renée Nader Messora, o ator Marco Mendonça, a gestora cultural Maria Vlachou, a cantora Selma Uamusse, a atriz Tita Maravilha, o ator Welket Bungué e a encenadora Zia Soares estão entre os signatários da carta aberta.

Contactada pela Lusa, a estação pública RTP reencaminhou qualquer pedido de informação para a produtora Ukbar Filmes, da qual a agência noticiosa não obteve esclarecimento.