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Braço de Prata: 250 euros por mês

O que ele montou em Braço de Prata não é "cultura", é política e puro oportunismo. Nabais ocupou um edifício público. Carlos Moedas legitimou essa ocupação e forçou-a pela garganta dos lisboetas.

Margarida Bentes Penedo
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Retomo, passados dois anos, a história crapulosa da antiga fábrica de material militar de Braço de Prata, já que a Câmara de Lisboa tomou sobre ela a decisão esperada e conseguiu validá-la por maioria dos votos na Assembleia Municipal. Tanto o terreno como o edifício são de propriedade municipal. Do terreno, será destacada a área onde os alegados “artistas” estacionavam (e estacionam) o seu campismo de tendas, auto-caravanas, e pardieiros habituais. É a parte respeitável da decisão: nessa área destacada será construído um jardim público. O edifício será submetido a obras de requalificação, pagas pelo actual ocupante, que depois ficará de conta do sítio – edifício e terreno adjacente – a troco de uma renda de 250 euros. Não me enganei, não são 25 mil, nem dois mil e quinhentos euros. Toda a antiga fábrica de Braço de Prata ficará na posse do filósofo Nabais, durante 10 anos, em troca de 250 euros por mês.

Considera a Câmara que a trupe ali abancada há mais de 15 anos, sem pagar renda nem fazer obras de manutenção, num edifício municipal a ruir de estafado e em condições alarmantes em matéria de segurança, se ocupa de produzir “cultura”, e em nome dessa ilustre ocupação aplicou-lhe exigências celestiais.

Qual “cultura” qual nada. O filósofo que manda naquilo tem lá um restaurante e diversos “ambientes” de bar (três ou quatro ou dezoito, perdi-lhes a conta), de tal ordem lucrativos que as empresas cervejeiras lhe montaram, dispersas pelos ditos “ambientes”, 12 pontos para tirar imperiais. Diverte-se a dar festas vulgares e frequentes, que estoiram de ruído nas casas da vizinhança, e servem para pagar as multas pelo ruído das festas vulgares e frequentes que a Polícia castiga de vez em quando. Pelo meio, o filósofo promove cursos (ou workshops, ou lá que raio chamam àqueles fungagás) para iniciar os “artistas” nas artes da “Desobediência civil”, conforme publicitado em cartazes pelas paredes e candeeiros da freguesia. Nos intervalos, entretém-se a dar entrevistas aos jornais e televisões declarando-se “orgulhosamente ilegal”.

Nabais vive nas instalações de Braço de Prata. É membro activo dos “Cidadãos por Lisboa”, o grupo de esquerda mais fanático e radical que pisa o plenário da Assembleia; concorreu nas listas, coligado com o PS, e ainda hoje é deputado suplente. Amigo “da Helena” (Roseta), que lhe recomendou há anos (contou ele): “Não saias daqui, deixa-te estar. Isto resolve-se”. E ele deixou-se estar, até para receber, enquanto mandavam na Câmara, os vereadores esquerdistas que lá iam frequentemente “beber um copo”.

E a Câmara de Lisboa reconheceu agora o estatuto de “interesse cultural” àquela criatura e ao bando que usa a antiga fábrica de Braço de Prata para ali fazer a doutrinação comunista, a diversão dos rufias, e a vida num inferno às famílias que moram na vizinhança. Carlos Moedas, neste caso, não se recomenda pela coragem governativa; e a decisão da Câmara não vem propriamente atirar-nos para o chão com a perplexidade. Mas sempre se espera um grãozinho de consciência política.

Este governo de Lisboa ganhou as eleições com os votos da direita, contra uma candidatura da esquerda coligada. Deve aos eleitores explicações. Deve-lhes o lugar executivo. Deve-lhes, já nem digo o cumprimento escrupuloso do programa ou das promessas eleitorais, mas um módico de reconhecimento das vontades e preocupações típicas, públicas e notórias, dos eleitores de direita. Deve-lhes, pelo menos, saber distingui-las das fantasias esquerdistas. E, de vez em quando, dar a esses eleitores um sinal de respeito nas matérias fundamentais: entre essas matérias, está o respeito pela propriedade, pelos dinheiros públicos, pela habitação, pela segurança, pela cultura, e pela integridade intelectual. O que Nabais montou em Braço de Prata não é “cultura”. É sobretudo política e uma dose escandalosa de puro oportunismo. Nabais ocupou um edifício público. Carlos Moedas legitimou essa ocupação e forçou-a pela garganta dos lisboetas.