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(A) :: Acusações, espancamentos e a morte de dois irmãos. Pode o Azerbaijão tornar-se o novo inimigo da Rússia?

Acusações, espancamentos e a morte de dois irmãos. Pode o Azerbaijão tornar-se o novo inimigo da Rússia?

Detenções, rusgas e violência aumentaram as tensões entre a Rússia e o Azerbaijão — que começaram com uma queda de avião — entre os países. Zelensky quer ganhar aliado e dá apoio ao homólogo azeri.

José Carlos Duarte
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Um país muçulmano secular, com maioria xiita, que pertenceu à União Soviética, que é o maior aliado da Turquia e que até é próximo de Israel. Localizado no sul do Cáucaso, o Azerbaijão, com dez milhões de habitantes, adota posições geopolíticas que à primeira vista parecem contraditórias. Com a Rússia, as relações eram cordiais, mas sempre tensas. No conflito que irrompeu pela disputa do enclave de Nagorno-Karabakh, Moscovo era visto como mais próximo e até um protetor da Arménia, considerado durante décadas o maior rival do Azerbaijão. No entanto, a cordialidade misturada com desconfiança que pautou as relações russo-azeris deu agora lugar a uma hostilidade declarada.

Os dois países já estavam afastados desde dezembro de 2024, quando caiu um avião da Azerbaijan Airlines. Na altura, a Rússia foi acusada de abater a aeronave. Mas foi na passada sexta-feira que a tensão verdadeiramente escalou: as autoridades russas detiveram em Ecaterimburgo dezenas de cidadãos com ascendência azeri, acusados de pertencerem a um grupo criminoso e de serem responsáveis por vários homicídios. Duas pessoas morreram na sequência desta operação policial.

Em resposta, o Azerbaijão criticou duramente as “mortes e a violência usada” contra os cidadãos com ascendência azeri. As autoridades do país do Cáucaso reagiram e cancelaram todos os eventos culturais organizados por Moscovo no seu território. E, esta segunda-feira, o governo azeri retaliou com mais força, levando a cabo uma operação policial na principal redação da agência de notícias Sputnik do Azerbaijão, na capital Baku. Um diretor e um editor do meio de comunicação social russo foram mesmo detidos.

As relações estão a esfriar rapidamente. Na imprensa azeri, leem-se várias críticas ao regime russo — e até a Vladimir Putin, acusando-o de se comportar como um “czar” com ambições de restaurar a União Soviética. Na Rússia, os bloggers militares e os propagandistas do canal estatal estão a deixar várias ameaças ao Azerbaijão — os mais radicais já falam numa “operação militar especial”, desta vez no Cáucaso, em que Baku seria “tomada em três dias”, reavivando um dos objetivos iniciais da invasão da Ucrânia, que acabou por não se concretizar.

[A polícia é chamada a uma casa após uma queixa por ruído. Quando chegam, os agentes encontram uma festa de aniversário de arromba. Mas o aniversariante, José Valbom, desapareceu. “O Zé faz 25” é o primeiro podcast de ficção do Observador, co-produzido pela Coyote Vadio e com as vozes de Tiago Teotónio Pereira, Sara Matos, Madalena Almeida, Cristovão Campos, Vicente Wallenstein, Beatriz Godinho, José Raposo e Carla Maciel. Pode ouvir o 7.º episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E o primeiro episódio aqui, o segundo aqui, o terceiro aqui, o quarto aqui, o quinto aqui e o sexto aqui]

No meio desta tensão diplomática, a Ucrânia já declarou o seu apoio ao Azerbaijão. Esta terça-feira, o Presidente Volodymyr Zelensky falou com o seu homólogo azeri, Ilham Aliyev. O chefe de Estado ucraniano poderá estar à procura de um novo aliado, tendo denunciado na chamada telefónica o “ódio, chauvinismo e cinismo dos russos”. O líder azeri agradeceu e reafirmou o apoio à “integridade territorial” da Ucrânia.

As tensões entre a Rússia, Arménia e Azerbaijão: o status quo entre os três países

Quanto a Arménia e o Azerbaijão declararam independência, após a queda da União Soviética, ficou um assunto por resolver: o que fazer com o enclave de Nagorno-Karabakh? A região estava localizada em território azeri, mas a população identificava-se etnicamente como arménia. Durante anos, os dois países estiveram em guerra para tentar resolver o diferendo territorial. Às vezes, a tensão escalava militarmente, num conflito que, ainda assim, se mantinha congelado. A Rússia parecia beneficiar o lado arménio, o que sempre incomodou Baku, que procurava, por sua vez, apoio na Turquia. Mas Moscovo também fazia tudo para não irritar o Azerbaijão, querendo a Rússia ser vista como uma potência neutra no Cáucaso.

Durante anos, este foi o status quo da região. No entanto, a invasão da Ucrânia levou a que as atenções da política externa da Rússia fossem direcionadas principalmente para oeste, reduzindo a sua capacidade de intervenção no Cáucaso. A Arménia sentiu que não podia contar com o apoio russo e procurou novos aliados, além de condenar a guerra na Ucrânia. Isso deu espaço para que o Azerbaijão iniciasse uma operação militar na região de Nagorno-Karabakh, em setembro de 2023, que foi bem-sucedida e resultou na rendição rápida das forças arménias.

[A polícia é chamada a uma casa após uma queixa por ruído. Quando chegam, os agentes encontram uma festa de aniversário de arromba. Mas o aniversariante, José Valbom, desapareceu. “O Zé faz 25” é o primeiro podcast de ficção do Observador, co-produzido pela Coyote Vadio e com as vozes de Tiago Teotónio Pereira, Sara Matos, Madalena Almeida, Cristovão Campos, Vicente Wallenstein, Beatriz Godinho, José Raposo e Carla Maciel. Pode ouvir o 7.º episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E o primeiro episódio aqui, o segundo aqui, o terceiro aqui, o quarto aqui, o quinto aqui e o sexto aqui]

Nagorno-Karabakh está agora sob controlo do Azerbaijão. A população que etnicamente se identificava como arménia fugiu para a Arménia, país que ganhou ressentimentos por causa da falta de apoio da Rússia — e levou a que se afastasse de Moscovo. Ao mesmo tempo, Yerevan entrou em negociações de paz com Baku; em março de 2025, os dois países concordaram na assinatura de um acordo de paz, cuja data de assinatura e os detalhes finais ainda não são conhecidos.

No Cáucaso, há uma nova ordem. A tensão diminuiu substancialmente entre o Azerbaijão e a Arménia, se bem que ainda exista desconfiança. E os dois países veem agora Moscovo cada vez menos como um aliado. Ao jornal ucraniano LIGA.net, o analista azeri Akper Hasanov comentou que, “através das suas políticas”, Vladimir Putin “conseguiu o impossível”: “Ser igualmente odiado no Azerbaijão e na Arménia”. Em sentido inverso, o governo da Geórgia — outro país da região — está cada vez mais próximo do Kremlin.

Putin conseguiu "ser igualmente odiado no Azerbaijão e na Arménia"
Analista azeri Akper Hasanov

A queda do avião, o pedido de desculpas e a troca de acusações

No dia de Natal, um avião comercial da Embraer da companhia aérea Azerbaijan Airlines caiu no Cazaquistão, que fazia a rota entre Aktau, uma cidade no sudoeste do território cazaque, e Grozny, na região russa da Chechénia. Morreram 38 pessoas e 29 ficaram feridas. A aeronave sofreu um desvio da rota que fez com que se despenhasse. Inicialmente, acreditava-se que estaria relacionado com as más condições atmosféricas; mais tarde, o Presidente azeri denunciou que tinha sido um sistema de defesa antiaéreo russo — ativado durante um ataque ucraniano ao sul da Rússia — que abateu o avião.

Num discurso à nação, Ilham Aliyev garantiu que o “avião tinha sido abatido pela Rússia”: “Não estamos a dizer que foi de propósito, mas foi o que aconteceu”. Num recado ao seu homólogo russo, o Presidente azeri exigiu um pedido de desculpas a Moscovo. “Deve admitir a culpa. Deve punir os culpados, levá-los à Justiça e pagar as devidas compensações ao Estado azeri, aos passageiros feridos e aos membros da tripulação”, disse o chefe de Estado azeri.

O Presidente russo retratou-se perante o líder do Azerbaijão. Numa conversa telefónica com Ilham Aliyev, Putin “pediu desculpa pelo trágico incidente que ocorreu no espaço aéreo russo”. No entanto, não assumiu que tinha sido um míssil russo a abater a aeronave. Volodymyr Zelensky, também deixou acusações a Moscovo, considerando que os russos deviam “providenciar explicações claras” sobre o que tinha acontecido.

O facto de Vladimir Putin nunca ter assumido a responsabilidade incomodou a liderança azeri, que passou a tratar Moscovo com frieza. O Azerbaijão começou a levantar suspeitas de que os centros culturais russos serviam como uma cortina de fumo para esconder operações de espionagem russa em solo azeri. E pediu o encerramento da Sputnik em Baku, precisamente pelos mesmos motivos.

Em termos práticos, no Dia da Vitória, Ilham Aliyev recusou marcar presença na parada militar organizada pelo homólogo russo. E o governo azeri aproximou-se da Ucrânia. No final de maio, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andrii Sybiha, fez uma visita oficial ao Azerbaijão, num encontro em que ficou prometido um aprofundamento das relações bilaterais — o que era uma mensagem clara para Moscovo.

Este clima de tensão escalou com a detenção dos cidadãos do Azerbaijão em Ecaterimburgo. O episódio também voltou a trazer de volta os fantasmas da queda do avião. Num país em que a imprensa é praticamente controlada pelo Estado, foram divulgadas novas provas — um áudio e uma carta — num órgão de comunicação social azeri que alegadamente mostram que a Rússia sempre soube que era a responsável pela queda do Embraer da Azerbaijan Airlines.

A detenção, os espancamentos e as ameaças

O que aconteceu em Ecaterimburgo foi um duro golpe nas relações entre o Azerbaijão e a Rússia. Dezenas de pessoas com ascendência azeri foram detidas e dois irmãos — Ziyaddin e Guseyn Safarov — foram mortos. A operação foi levada a cabo pela Guarda Nacional, pelo Ministério da Administração Interna e também por um ramo das secretas russas: o Serviço Federal de Segurança (FSB). Moscovo realça que agiu para desmembrar uma organização criminosa que tinha cometido homicídios em solo russo — e que a operação não tinha nada a ver com o Azerbaijão.

Contudo, o governo azeri revoltou-se com o sucedido. A procuradoria-geral do país do Cáucaso acusou a Rússia de “tortura”. Os cidadãos com ligações ao Azerbaijão foram “sujeitos a tortura e ficaram com ferimentos graves” após as detenções. Sobre a morte dos dois homens, a Justiça do Azerbaijão acusou as autoridades russas de usar métodos com “extrema crueldade”. Mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo garantiu que se tratavam de suspeitos de cometer crimes graves e tentou dissociar a ligação ao Azerbaijão.

O irmão de Ziyaddin e Guseyn Safarov, Sayfaddin Huseynli, contou à televisão estatal ITV, citado pela Associated Press, que os familiares foram torturados até à morte “sem qualquer julgamento, ou investigação, apesar da sua inocência”. Uma “selvajaria”, lamentou, acrescentando que outros detidos nesta operação policial foram espancados e sujeitos a choques elétricos.

O Azerbaijão acredita que, na base da operação, estiveram efetivamente motivos políticos e étnicos. Por causa disso, vingou-se. As autoridades do país do Cáucaso organizaram uma rusga na sede e redação da agência de notícias Sputnik em Baku. Foram detidas sete pessoas, incluindo o diretor da publicação, Yevgeny Belousov, e o editor-executivo, Igor Kartavykh, acusados de pertencerem às secretas russas e de estarem a levar a cabo atividades subversivas em solo azeri. Foram detidas mais cinco pessoas.

https://twitter.com/theinformant_x/status/1939729597999808910

Não se ficou por aqui. Esta segunda-feira, o Azerbaijão deteve dois gangues compostos por cidadãos russos em Baku, suspeitos de tráfico de drogas do Irão em território azeri, bem como pela prática de cibercrimes. Mais: as autoridades do país divulgaram fotografias dos detidos com visíveis hematomas — pelo que terão sido agredidos.

https://twitter.com/visegrad24/status/1940142242947375293

Diplomaticamente, o Azerbaijão também cancelou uma visita a Baku do vice-primeiro-ministro russo, Alexey Overchuk. “O governo do Azerbaijão não considera oportuno que, nas atuais circunstâncias, Overchuk ou qualquer outro representante da Rússia visite o país”, informou o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Já o Ministério da Cultura cancelou “todos os eventos culturais que teriam lugar no Azerbaijão e que eram organizados por entidades estatais ou instituições privadas com a Rússia, incluindo concertos, festivais, performances ou exibições”.

A Rússia ainda não respondeu à escalada. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, salientou, esta quarta-feira, que “viu as imagens” dos cidadãos russos detidos e “prestou atenção a todos os detalhes”. O responsável da presidência russa assinalou que Moscovo “nunca ameaçou e não ameaça o Azerbaijão”, garantindo que as detenções em Ecaterimburgo serviram para “resolver um crime, incluindo contra cidadãos do Azerbaijão na Federação Russa”.

O papel da Ucrânia — uma futura aliada do Azerbaijão que pode irritar a Rússia

O Presidente da Ucrânia posiciona-se claramente ao lado do Azerbaijão, que também tenta ensaiar uma aproximação a Kiev para irritar Moscovo. Ao telefone com Ilham Aliyev, Volodymyr Zelensky expressou o “apoio claro” numa situação em que a Rússia está a usar métodos “brutais contra os cidadãos azeris e a ameaçar a República do Azerbaijão”. “Enviei as nossas condolências pela morte dos irmãos Safarov em território russo. Estou confiante que todos os factos serão clarificados. O Presidente Aliyev e eu partilhamos a mesma visão — a vida e a dignidade de todas as pessoas devem ser protegidas.”

http://twitter.com/ZelenskyyUa/status/1940057915915669706

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, a reação do Azerbaijão foi pouco expressiva. O país defendeu a importância da salvaguarda da integridade territorial e soberania ucraniana, mas não atacou diretamente a Rússia e nem sequer aplicou sanções. Foi uma posição de neutralidade, ainda que a população azeri tenha saído às ruas em solidariedade com o povo ucraniano. Porém, desde a queda do avião, Baku tem-se aproximado de Kiev, aumentando a ajuda humanitária que envia para território ucraniano.

A estratégia azeri consiste em desestabilizar e irritar a Rússia. O Azerbaijão sabe que, ao fazê-lo, o Kremlin não vai reagir bem e vai ficar incomodado com a hipótese de a Ucrânia ganhar mais um aliado no Cáucaso. Por exemplo, esta quarta-feira, Dmitry Peskov acusou o “regime de Kiev” de tentar “provocar mais tensão” entre os dois países.

A Ucrânia tenta angariar mais um aliado. Com a Geórgia com um governo com ligações ao Kremlin e uma Arménia com pouca capacidade para prestar apoio (ainda que mais próxima do Ocidente), o Azerbaijão pode ser um importante parceiro. Em declarações citadas pela Ukrinform, Serhii Danylov, membro do think tank Association of Middle East Studies, acredita que pode haver um “maior engajamento” entre os dois países, mas não antevê que os azeris entreguem armas a Kiev.

Pode a tensão escalar entre a Rússia e o Azerbaijão?

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia emitiu esta quarta-feira uma nota em que aconselha os seus cidadãos a evitar viagens para o Azerbaijão, sob o risco de poderem ser alvo de violência. Paralelamente, o governo azeri convocou o embaixador russo para prestar esclarecimentos e para deixar bem claro que não vai tolerar que os cidadãos nacionais sejam perseguidos em solo russo.

Nas duas televisões estatais, o tom da propaganda é cada vez mais duro. Na TV azeri, um popular apresentador deixou várias críticas ao “senhor Putin”: “Está preocupado que o Azerbaijão se tenha tornado num Estado forte, que obteve as suas terras de volta, que restaurou soberania, que defende os seus interesses e que o Presidente Ilham Aliyev seja reconhecido globalmente? Está tão habituado a dominar povos pela força… Seja durante os czares ou os tempos soviéticos, os russos eram considerados a principal raça; as outras eram de segunda classe. Apesar desses impérios se terem desvanecido, esse pensamento permanece”.

https://twitter.com/clashreport/status/1939604128046432454

Em resposta, no canal estatal russo, as críticas repetem-se. Um dos principais propagandistas do Kremlin, Vladimir Solovyov, também deixou claro o seu desagrado com o Azerbaijão, agitando a ideia que está a circular nos canais de Telegram russos — de que poderá ser necessária uma “operação militar especial” no Cáucaso. “Querem lutar? Tenho a certeza de que ninguém no seu perfeito juízo e com boa memória a viver no Azerbaijão vai aderir a essa estupidez”, atirou.

http://twitter.com/nexta_tv/status/1940322205444849764

Por tudo isto, vai aumentar ainda mais a tensão entre o Azerbaijão e a Rússia, ou ficará por uma guerra de palavras? Por agora, ainda não é possível perceber. Mas Rusif Huseynov, diretor do think tank azeri Topchubashov Center, explica, em declarações ao Middle East Eye, o que está na origem deste desentendimento: “Ainda que Baku recuse juntar-se a coligações anti-Rússia ou a apoiar sanções ocidentais, não hesita em ser firme nas relações bilaterais [com Moscovo], onde a retórica e as ações podem ser duras”.

“Da perspetiva de Moscovo, a política externa independente e equilibrada do Azerbaijão tem sido motivo de frustração”, prossegue Rusif Huseynov, que refere que o governo azeri tem vários parceiros. “Tem alianças com a Turquia e o Paquistão, parcerias estratégicas com Israel e mais recentemente com a China — e isso reduziu a sua dependência a Moscovo.”

Essa redução da dependência a Moscovo pelo Azerbaijão não é bem vista pela Rússia, principalmente por causa do seu adversário regional: a Turquia. “Os dirigentes russos estão provavelmente preocupados devido à expansão política e militar da Turquia no sul do Cáucaso, especialmente pelos estreitos laços com o Azerbaijão”, aponta Rusif Huseynov.

"Os dirigentes russos estão provavelmente preocupados pela expansão política e militar da Turquia no sul do Cáucaso, especialmente pelos estreitos laços com o Azerbaijão."
Rusif Huseynov, diretor do think tank azeri Topchubashov Center

Como tal, a detenção de várias pessoas e a morte de dois cidadãos com ascendência azeri em Ecaterimburgo pode ter sido uma forma de a Rússia pressionar o Azerbaijão. Uma demonstração de força que foi retaliada com brutalidade por parte de Baku, que está menos dependente dos russos e está a explorar esta oportunidade para obrigar Moscovo a ceder em alguns dos seus interesses regionais. Poderá ser, por isso, uma escalada propositada da retórica, como notaram alguns diplomatas ocidentais ouvidos pelo Middle East Eye.

Com a Rússia completamente centrada na guerra da Ucrânia, o Azerbaijão entende que Moscovo não vai querer perder um importante aliado no Cáucaso. O governo azeri sabe que pode usar uma retórica radical, esticar a corda — e que Moscovo não deverá responder a estas provocações. Numa nova arquitetura securitária no Cáucaso, em que Baku tem o controlo total sobre Nagorno-Karabakh e a Arménia deixou de ser uma rival ao mesmo nível, o Azerbaijão dá sinais de pretender afirmar-se regionalmente, apoiando-se na Turquia.

“A Rússia está presa na Ucrânia e procura novos ‘inimigos’. O Azerbaijão mantém-se firme: defenderemos a justiça, a soberania e a paz no sul do Cáucaso”, declarou o deputado azeri Tural Ganjali, no X. Baku não dá sinais de que vai ceder neste braço de ferro, mas será que a Rússia vai arriscar-se a perder o controlo no Cáucaso, que sempre considerou o seu “quintal” e onde quer manter a sua influência? Só o futuro o dirá.