(c) 2023 am|dev

(A) :: David Catalán apresenta duas coleções no segundo dia de Portugal Fashion e defende a edição anual: "É um pouco menos de trabalho"

David Catalán apresenta duas coleções no segundo dia de Portugal Fashion e defende a edição anual: "É um pouco menos de trabalho"

No segundo dia o designer aproveitou para desfilar a coleção outono/inverno e apresentar em showroom os looks primavera/verão. À noite dois designers da Bloom foram da calmaria à tempestade.

Sâmia Fiates
text
Igor Martins
photography

Depois de um arranque mais voltado para a experiência no Douro, o segundo dia de Portugal Fashion destinou-se inteiramente à moda — e focou-se nos mais jovens — sendo que David Catalán foi o grande nome do dia. O designer, que tem apresentado coleções internacionalmente, levou o seu desfile para a Casa da Arquitetura, em Matosinhos. Assim como Marques’Almeida, a opção de David Catalán foi de apresentar uma coleção outono/inverno 2025, porém, esta não é inédita e nem propriamente nova, já que o designer espanhol radicado no Porto esteve na Semana da Moda masculina de Milão há cerca de duas semanas a apresentar as novidades primavera/verão 2026 (intitulada “Problems”), as mesmas que exibiu no showroom do Portugal Fashion na Paris Fashion Week há alguns dias. Entretanto, defendeu que a edição anual pode ser positiva e permitir a apresentação de duas coleções de uma só vez.

“Como agora o Portugal Fashion só vai ter uma data em Portugal, vamos tentar sempre mostrar as duas coleções“, explica o designer. “Vamos mostrar uma delas em desfile e outra sempre no showroom”, disse Catalán, que justifica que decidiu desfilar a coleção outono/inverno por ter mais peças entregues. “E também esta coleção não fizemos desfile. Com a de verão, desfilamos em Milão”. O criador de moda diz ainda que apoia a decisão da organização de passar a uma edição anual: “De uma vez faz-se as duas coisas, é um pouco menos de trabalho”.

Com “Caretos”, inspirada no universo dos Caretos de Trás-os-Montes, Catalán brinca com as formas e materiais, apresentando muitos farrapos e pompoms. Apesar dos contrastes de texturas, na paleta de cores o que se viu foram muitos coordenados: em malha, ganga e algodão; em azul, rosa claro ou vermelho. “Esta coleção tem blocos de cor. Geralmente gosto de misturar, mas esta foi trabalhada assim”, justifica o designer. “Depois temos peças clássicas de alfaiataria misturado com o estilo streetwear, que é mais uma das bases da marca”.

Os bloomers do dia

A presença internacional de David Catalán, que começou no Bloom, dá fôlego para os que ainda fazem parte da plataforma do Portugal Fashion destinada a jovens designers. Depois da exibição da Escola Superior de Arte e Design durante a tarde, a noite do segundo dia foi reservada para duas descobertas do concurso: Veehana e Aireiv para a Lo Siento. A antiga fábrica de conservas Vasco da Gama, em Matosinhos, serviu de passarelle para se conhecer as novidades que foram mostradas pela primeira vez ao público.

O ambiente industrial serviu para se criar um caminho não linear e, ao som de uma música calma, o público assistiu a uma coleção inspirada por memórias de infância. Peças em tons sóbrios, malhas com aspeto artesanal, em que os buracos e desfiados completam as transparências e recortes assimétricos. Na plateia, João Viana tinha membros da família a assistir orgulhosos. Nos bastidores, o apoio e o envolvimento da experiente dupla Marques’Almeida, que durante o desfile conversavam entre si e assistiam atentos a tudo, em pé ao fundo da sala. No cumprimento final, o jovem designer e criador da Veehana correu para os braços da avó, de 96 anos, que o abraçou, com os olhos cheios de lágrimas. Um momento de emoção e de calmaria antes da tempestade.

A seguir, Aireiv para a Lo Siento foi tudo menos tranquilidade. Realizado no andar de cima da antiga fábrica de conservas, as luzes vermelhas e os bancos posicionados mais próximos criaram um ambiente com um quê de caos. No meio da música e das conversas, casais aproveitam os minutos antes do desfile para se beijarem. É hora de mais um pupilo Marques’Almeida mostrar as suas criações, e aqui ficam evidentes as influências, especialmente nas misturas de peças urbanas com elementos femininos. Vestidos às bolinhas, conjuntos de calças e hoodies, calças de ganga com cintura caída, plumas e franjas. Mas também um casting e styling para romper padrões: modelos com o corpo todo pintado de vermelho, um homem musculado e tatuado a usar vestido, capacetes e óculos gigantescos. A coleção TURBO busca inspiração na cultura das corridas e resulta numa fusão entre Lady Gaga e Hellboy. A entrada final de todos os looks foi ao som de uma batida forte e com as luzes a piscar, o que provocou uma explosão de sensações: tontura para uns, e uma ótima story de Instagram para outros.

O Observador está instalado no Porto à convite do Portugal Fashion.