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(A) :: A gaffe de Sánchez, a de Montenegro, e o presidente que tentou beijar a Rainha de Espanha

A gaffe de Sánchez, a de Montenegro, e o presidente que tentou beijar a Rainha de Espanha

Em Sevilha, a saudação e foto com os monarcas espanhóis, antes do jantar oferecido a chefes de Estado e de Governo, foi um desfile de embaraços, que incluiu a ideia de beijar Letizia na cara.

Maria Ramos Silva
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Antecipavam-se temperaturas elevadas, de tal forma que o jantar foi relegado para as nove da noite, mas dificilmente se imaginariam tantos deslizes protocolares em tão pouco tempo. Em Sevilha, no cenário majestoso do Real Alcazar, os Reis Felipe VI e Letizia ofereceram um jantar no âmbito da IV Conferência Internacional sobre o Financiamento e Desenvolvimento das Nações Unidas a 35 chefes de Estado e 12 chefes de Governo, a que se juntaram vários representantes de organismos internacionais.

Entre os lapsos mais comentados, o de um reincidente nesta matéria. O momento da saudação aos monarcas, um cortejo que observa algumas regras de protocolo, fica marcado pelo duplo cumprimento de Pedro Sánchez. O presidente do Governo espanhol, e a sua mulher, Begoña Gómez, foram os primeiros a cumprir o ritual de cumprimentos. Um gesto despachado com prontidão tal que nem pararam para a fotografia oficial ao lado do casal real. No final do beija-mão dos restantes convidados, foram discretamente informados de que deveriam regressar para simular novo cumprimento e concretizar a fotografia. “Foi culpa minha, Presidente”, admitiria Lizaur Cuesta. Citado pela imprensa espanhola, o chefe do protocolo da Casa Real não terá informado Sánchez e a mulher de que deveriam efetuar o compasso de espera.

Mas a história não ficou por aqui. Nessa segunda ronda de saudações, forjada de propósito para a foto, Sánchez hesitou no seu posicionamento ao lado de Felipe e Letizia. Por fim, ocuparam os devidos lugares para os flashes e acabaram por ficar uns minutos à conversa com Felipe e Letizia. Mas o mal estava feito.

https://twitter.com/driecel/status/1939407983147987024

Quando analisamos fotos oficiais como estas, convém lembrar o que explica o antigo embaixador José de Bouza Serrano: “Os lugares são como as bandeiras, conta o que está virado para nós”. E é por este motivo que esperamos ver a seguinte formatura, por esta ordem: Begoña, Felipe, Letizia e Pedro. “A coroa é indivisível. Sendo o Rei chefe de Estado, o casal real deve ficar ao meio. Depois de cumprimentar o Rei e a Rainha, o presidente do Governo deve dar a sua direita ao monarca em sinal de respeito. E a sua cônjuge fica assim do lado esquerdo da foto, dando a sua direita à rainha em sinal de cortesia. Quando tal não é observado, continua Bouza Serrano, “parece que o casal Sánchez é que está a receber, e não é o caso”.

Do outro lado da fronteira, os veredictos são mais contundentes: “A confusão do presidente do Governo ao não saber colocar-se para a foto oficial, duvidar, deslocando-se de forma insegura e necessitando da intervenção do pessoal da Casa Real, não é simplesmente um episódio visual: “É um gesto carregado de simbolismo que, num ato institucional de alto nível, compromete a harmonia da cena, rompe a narrativa do respeito institucional e projeta uma imagem de desordem ou desinteresse pelas formas”, sustenta a especialista em etiqueta Maria José Verdu, que reagiu à gaffe.

Para quem chega sozinho, explica antiga o antigo embaixador português, há duas opções. Ou fica no meio, sendo envolvido pelo casal real, “o que costuma ser mais simpático”, ou posiciona-se ao lado do Rei — depende também da vontade do próprio monarca. “Por exemplo, Felipe VI dá a sua direita a António Guterres, num sinal de consideração.

Há mais lapsos a registar ao longo deste cerimonial, de novo sobre as posições que cada responsável e o seu plus one deve ocupar numa ocasião como esta. O primeiro ministro português, Luís Montenegro, e a mulher, Carla, não escaparam à dança de incerteza.

Nos seus canais oficiais, o vídeo final partilhado pela Casa Real Espanhola, que seguiu em direto os momentos antes do jantar, elimina os imprevistos — para quem assiste agora, a versão surge imaculada. Mas é difícil apagar o que já chegou à internet, onde abundam imagens e vídeos não editados desta receção, incluindo os que mostram como ficaram perdidos sobre os lugares certos a ocupar. Também aqui se aplicaria a regra de protocolo enunciado por José de Bouza Serrano. Mas foi preciso algum tempo até acertarem.

https://twitter.com/goncalo_dc/status/1939445352941199572

A tensão com o protocolo atingiu novos máximos quando entrou em cena o presidente da Colômbia, obrigando a Rainha a marcar decisivamente a fronteira entre proximidade e firmeza diplomática, sem abrir a porta a concessões desta natureza. Depois de apertar a mão a Felipe VI, Gustavo Petro precipitou-se para a Rainha para lhe dar um beijo no rosto. Elegante mas segura, Letizia deu um estratégico passo atrás e estendeu a mão, redirecionando o cumprimento. Reza o protocolo que beijar a rainha só deverá acontecer se a própria tomar essa iniciativa, devendo o interlocutor responder com cortesia a esse gesto. “Até com o beijar a mão se deve ter muito cuidado. Não se beijava a mão da Rainha de Inglaterra! Se a pessoa deixa a sua mão em baixo, é sinal de que pretende apenas um aperto de mão. Só é para beijar se colocar a mão a meia altura”, frisa o diplomata.

Ao jantar, Felipe e Letizia partilharam mesa com a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, o secretário-general nas Nações Unidas, António Guterres (que ficou ao lado da rainha); Pedro Sánchez e a sua mulher Begoña Gómez; o emir de Catar, xeque Tamim Bin Hamad Al-Thani, o primeiro-ministro do Nepal, Khadga Prasad Oli; e o presidente do Uruguay, Yamandú Ramón Antonio Orsi. Desconhece-se (pelo menos até ver) se as regras de etiqueta à mesa também ficaram à porta.

No rescaldo do evento para uma centena de convidados, realizado este domingo na capital Andaluz, é fácil perceber que não se falava apenas do look da Rainha. A anfitriã recuperou um vestido mini Carolina Herrera azul escuro estreado em 2019, que conjugou com uns sapatos dourados Magrit de salto confortável. Sem mangas compridas, o look isentava a companheira do Presidente do Governo espanhol de optar por versões mais cobertas, mas esta acabou por usar um longo vestido de mangas compridas que não terá facilitado a noite, dado o calor, “e pouco indicado já que não estamos no inverno”, notou ainda Bouza Serrano.

[A polícia é chamada a uma casa após uma queixa por ruído. Quando chegam, os agentes encontram uma festa de aniversário de arromba. Mas o aniversariante, José Valbom, desapareceu. “O Zé faz 25” é o primeiro podcast de ficção do Observador, co-produzido pela Coyote Vadio e com as vozes de Tiago Teotónio Pereira, Sara Matos, Madalena Almeida, Cristovão Campos, Vicente Wallenstein, Beatriz Godinho, José Raposo e Carla Maciel. Pode ouvir o 7.º episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E o primeiro episódio aqui, o segundo aqui, o terceiro aqui, o quarto aqui, o quinto aqui e o sexto aqui]