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Peça "Catarina e a Beleza de Matar Fascistas", de Tiago Rodrigues, volta a Lisboa em janeiro

Espetáculo estreado em 2020 ficciona um Portugal em 2028 governado pela extrema-direita. Depois de uma longa digressão internacional, mostra-se de 12 a 17 de janeiro na Culturgest.

Joana Moreira
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Catarina e a beleza de matar fascistas, o espetáculo criado por Tiago Rodrigues que se esgotou sempre que esteve em cena desde a estreia, vai voltar a Lisboa, confirmou o Observador com a Culturgest, a sala que vai receber a peça de 12 a 17 de janeiro de 2026. Os bilhetes — entretanto já esgotados — custam 25€ e são colocados à venda esta quarta-feira na bilheteira desta sala de espetáculos. No dia 17 de janeiro, o espetáculo é apresentado com legendas descritivas e audiodescrição. A peça mostra-se também no Theatro Circo, em Braga, nos dias 6 e 7 de janeiro, mas os bilhetes ainda não estão à venda.

A peça, um dos maiores fenómenos de bilheteira do teatro contemporâneo, apresenta uma família com uma tradição invulgar: matar fascistas. A ação decorre numa casa de campo no sul de Portugal, onde os familiares se reúnem para que a mais nova, Catarina, participe pela primeira vez no ritual, executando um fascista que fora raptado para esse fim. O dia, pensado para ser uma celebração marcada pela união familiar, pela estética e pela morte, descamba num confronto entre gerações. Catarina recusa-se a matar e desafia abertamente a prática herdada, rompendo com o legado da família.

O espetáculo constrói uma ficção política situada em 2028, num Portugal dominado por um governo de extrema-direita. Ao longo da narrativa, torna-se claro que o país vive sob um novo regime autoritário. Aquando da estreia, o encenador e então diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, dizia tratar-se de uma “abordagem muito clara à ameaça da ascensão de populismos de extrema-direita, de tendência fascista, para não lhe chamar efetivamente fascistas”.

Estreada em 19 de setembro de 2020 no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, a peça acabaria por correr mundo, tornando-se mesmo a única peça portuguesa a chegar ao importante teatro da Schaubühne, em Berlim.

Em 2022 foi eleita uma das melhores peças de teatro na Europa, pelo jornal norte-americano The New York Times. Em 2024, foi considerada uma das peças do ano para a revista New Yorker. Em 2023, venceu na categoria de Melhor Espetáculo Estrangeiro nos Prémios UBU, em Itália, e também venceu na categoria de Melhor Espetáculo Estrangeiro, pela Critics Association, em França. O texto do espetáculo foi publicado em francês em 2020, numa edição de Les Solitaires Intempestifs, Catarina et la beauté de tuer des fascistes. O livro em português chegou em 2024 pela Tinta-da-China.

Mas a peça também foi alvo de protestos. Em Itália, o espetáculo foi contestado por representantes de dois partidos políticos: a formação de extrema-direita Fratteli d’Italia (Irmãos de Itália) e a formação populista de centro-direita Forza Italia. Na base das críticas estava uma interpretação literal do título da peça, que, acreditam estes dois partidos italianos, faz uma apologia da violência contra fascistas e defende a legitimidade da mesma.

De resto, a polémica com o espetáculo começou mesmo antes de este se estrear. Inicialmente, o texto que antecipava a peça, entretanto substituído, referia-se ao juiz Neto de Moura. Na sinopse oficial do espetáculo lia-se que este pretendia “usar o teatro para ensaiar a vida” e que esta seria “a história de um rapto”. Um rapto de quem? De “um juiz português com um polémico historial de decisões a favor de homens que agridem mulheres”, que na peça “é raptado por um grupo de atrizes e atores. O rapto é ficcional, mas o juiz existe mesmo”. E era nomeado, com todas as letras: “Chama-se Neto de Moura”. O texto acabaria por ser alterado. Ao Observador, Tiago Rodrigues justificava a alteração porque “podia levar a leituras erróneas”.

Notícia atualizada às 12h09 com a indicação de que os bilhetes para todas as récitas estão esgotados, com exceção dos de mobilidade condicionada e às 16h09 com as datas em Braga.