O wokismo começou com causas justas – justiça racial, igualdade de género, respeito pela diversidade. E, talvez por isso, conquistou tanta simpatia inicial. Afinal, quem se oporia a ideais como justiça e inclusão? Mas algo correu mal no caminho. Muito mal. O que poderia ter sido uma renovação ética do espaço público tornou-se, aos poucos, um movimento dogmático, punitivo e alienante.
O wokismo está a falhar. Mais do que isso: está a afundar-se. E não é por culpa da extrema-direita, da ignorância popular ou da resistência à mudança. Está a falhar por razões mais profundas, que importa compreender com alguma lucidez, e não apenas com simples slogans ou censuras morais. Eis, no meu entendimento, as sete principais razões para este colapso anunciado:
1.° Confunde justiça com moralismo punitivo
O impulso inicial do wokismo era promover justiça social. Mas, em vez de gerar diálogo, passou a recorrer ao cancelamento, à acusação pública e ao silenciamento. Em vez de convencer, intimida. Em vez de educar, condena. Esta moralização agressiva ativa resistências, mesmo entre os que partilham os seus princípios de base. Não é com censura que se mudam consciências;
2.° Subestima a biologia e sobrevaloriza a cultura
O wokismo opera sobre uma premissa filosófica errada: que tudo é construção social. Essa ideia, embora atraente do ponto de vista ideológico, é cientificamente insustentável. A investigação em psicologia evolutiva, neurociência e biologia comportamental mostra que existem predisposições naturais que influenciam o comportamento humano. Negá-las conduz simplesmente a modelos irrealistas e ineficazes de mudança.
3.° Cria hierarquias morais entre vítimas
Em vez de promover solidariedade, o wokismo institui uma espécie de competição identitária pelo estatuto de vítima legítima. Divide o mundo entre os que têm “direito à dor” e os que devem apenas ouvir e calar. Esta lógica alimenta ressentimentos e tribalismo moral, minando a possibilidade de alianças reais para enfrentar injustiças concretas.
4.° Ignora como funciona o poder
O wokismo acredita que mudar a linguagem é o mesmo que mudar a realidade. Mas o poder (económico, político, institucional) não se comove com pronomes neutros ou listas de microagressões. Adapta-se, resiste ou simplesmente coopta os novos discursos, sem alterar práticas fundamentais. O poder real não se altera por decreto linguístico.
5.° Gera efeito reverso
A imposição forçada de normas morais e linguísticas gera resistência instintiva. As pessoas, mesmo as bem-intencionadas, não gostam de ser forçadas a mudar, especialmente quando sentem que estão a ser moralmente atacadas ou envergonhadas. O resultado disso é a rejeição, polarização, “backlash”. O oposto do que se pretendia.
6.° É um fenómeno de elite
O wokismo vive e prospera em universidades, redes sociais e nichos culturais urbanos. Mas está profundamente desligado das preocupações reais da maioria da população, que se debate com problemas como falta de habitação, salários baixos ou insegurança. Para muitos, o wokismo parece mais um jogo de prestígio simbólico entre elites morais do que uma verdadeira luta por justiça.
7.° Simplifica em excesso
Reduzir a complexidade do mundo à dicotomia opressor versus oprimido pode parecer moralmente claro, mas é intelectualmente pobre e empiricamente frágil. A realidade humana é ambígua, contraditória e cheia de zonas cinzentas. Owokismo, ao negar essa complexidade, torna-se uma caricatura moral — e uma arma política ineficaz.
Em resumo, o wokismo está a afundar-se não porque seja demasiado radical, mas porque é demasiado simplista. Não porque combata injustiças, mas porque o faz de forma dogmática, punitiva e, muitas vezes, contra a própria natureza humana.
A questão que nos fica é saber se conseguiremos mudar o mundo sem entender primeiro como ele realmente funciona?