Recentemente, surgiu um debate na internet sobre o modo como se veste a Geração Z, após circular uma fotografia de um grupo de raparigas numa alegada saída à noite. Todas estavam vestidas de forma semelhante: jeans largas, top preto e ténis brancos. Para muitos, isso foi motivo de espanto. Mas porquê?
O que surpreende agora já surpreendia nos anos 2000, altura em que também todos se vestiam de forma parecida. A diferença é que esta é uma geração mais despojada, que privilegia o básico, o confortável, o simples — e isso pode causar estranheza a quem foi socialmente pressionado a destacar-se, a ser “extra” numa era em que sobressair era quase uma obrigação. Há uma força silenciosa na escolha de estar confortável. Vestir-se para si mesmo pode ser mais revolucionário do que tentar impressionar.

A Geração Z não veio para gritar “cheguei”. Talvez seja a geração mais “easy going”.
A verdade é que essa mesma fotografia, se tirada em 2010, provavelmente mostraria um grupo com vestidos pretos em vez de jeans e tops. E aí, talvez, já não causasse tanto alvoroço. Afinal, o que parece incomodar não é apenas o estilo semelhante, mas sim o facto de, aos olhos de muitos, a roupa não ser “apropriada” para a ocasião — uma saída à noite. Concordo que a roupa deve adequar-se ao contexto, mas e se esta geração estiver precisamente a marcar a diferença pela simplicidade? Uma geração que prefere o conforto de roupa larga ao desconforto de roupa justa? Contrariamente ao que se diz, talvez não seja por falta de esforço — talvez seja uma nova forma de expressão.
A Geração Z não veio para gritar “cheguei”. Isso já foi feito pela Geração X. Esta geração celebra o vintage das anteriores, mostra que se pode ser extravagante com subtileza, que se pode rejeitar o rosa choque, mas ainda assim abraçar um bom print animal. Talvez seja a geração mais “easy going”, e talvez seja exatamente isso que incomoda.
Tudo o que os mais novos fazem parece causar reação — simplesmente por ser diferente. Também levanta críticas o facto de não quererem construir grandes carreiras à custa da saúde mental. Mas se fossem obcecados pelo trabalho e lutassem ferozmente por subir na vida, ninguém se escandalizava. Porque isso era o “normal” de outros tempos. Só que não é sendo igual às gerações anteriores que se evolui.
A Geração Z é, muitas vezes, mal amada e mal compreendida. Dizem que estão errados, mas estão apenas a tentar fazer o certo. Estão a tentar existir num mundo moldado pelas escolhas de quem veio antes. Hoje, criticam a forma como se vestem. Ontem, foi o uso do telemóvel. Mas será esta, de facto, a geração que mais usa o telemóvel? Será mesmo esta a geração que não se sabe vestir? Ao contrário de outras gerações, que seguiam tendências ditadas por revistas ou passarelas, a Geração Z consome — e cria — moda nas redes sociais. São eles que ditam o que está na moda hoje. Se a moda também define o que é “saber vestir”, então a Geração Z — gostem ou não — está, definitivamente, na moda.