
A frase
Ser considerado woke num mundo está a dormir, no meio do sofrimento, não é um insulto. É o evangelho.
— Utilizador do Facebook, 12 de maio de 2025
“Ser considerado woke num mundo está a dormir, no meio do sofrimento, não é um insulto. É o evangelho.” A frase está a ser atribuída ao Papa Leão XIV e foi divulgada nas redes sociais, associando o atual chefe da Igreja Católica a uma política progressista conhecida como “woke”.

A palavra “woke” significa, em língua portuguesa, acordado ou desperto, mas também dá nome à política progressista, de tal forma que nas redes sociais se deu a entender que o Papa a usou para provocar quem o cola à defesa dessa crença — o que o tornou alvo de variadíssimas críticas.
https://observador.pt/especiais/o-wokismo-a-ideologia-que-nasceu-na-universidade-mas-se-espalhou-por-todo-o-mundo/
Ora, a verdade é que uma pesquisa mostra que o Papa Leão XIV nunca proferiu tal frase. Não há qualquer referência em meios de comunicação fidedignos e há mesmo várias plataformas de verificação de factos que o desmentem. Caso o chefe da Igreja tivesse proferido tal frase, esta teria sido divulgada, como acontece com a esmagadora maioria das intervenções do Papa, que são sempre amplamente escrutinadas.
Assim, considera-se que a frase começou a circular nas redes sociais para servir de ataque ao líder católico e à forma como tem levado a cabo o ainda curto pontificado. Desde logo, o facto de o Papa americano ter criticado a posição do Governo de Donald Trump relativamente aos imigrantes, o que levou vários apoiantes do MAGA (Make America Great Again) a partilharem críticas. Neste caso, a frase atribuída a Leão XIV tem a intenção de o colar ao wokismo.
Considerado um moderado com algumas tendências progressistas e uma figura conciliatória no Vaticano, o novo líder da Igreja Católica é o primeiro norte-americano a ocupar o cargo, sendo que o jornal La Repubblica o chegou a designar como o “Papa [norte] americano menos americano de todos” não só pela sua trajetória de vida, como também pelo seu estilo.
Recorde-se que, ainda antes da eleição, o agora Papa recorreu às redes sociais para republicar uma mensagem do arcebispo de Chicago, Blase Joseph Cupich, que criticou a política de separação de crianças que Donald Trump adotou durante o primeiro mandato. Além disso, tal como o Observador recordou aqui, também fez questão de divulgar iniciativas de acolhimento de imigrantes venezuelanos no Peru, onde era arcebispo-bispo Emérito em Chiclayo, uma cidade no norte do país sul-americano.
No X, em agosto de 2018, publicou um crowdfunding da Conferência Episcopal Peruana a “favor dos migrantes que deixaram as suas terras de origem em situações de emergência”. O New York Times recorda que o Papa Leão XIV “apoiou os imigrantes venezuelanos” no Peru e visitou “comunidades distantes” no país.
No sentido oposto, circularam publicações nas redes sociais que se referiam ao Papa Leão como sendo um “crítico severo da comunidade LGBT e da transsexualidade”. E não só: garantia-se mesmo que terá afirmado publicamente que a transsexualidade “é uma doença que deve ser diagnosticada” e que “necessita de tratamento” — alegações que o Observador desmentiu aqui.
https://observador.pt/especiais/a-favor-da-imigracao-critico-de-jd-vance-e-procura-a-paz-como-o-novo-papa-pode-gerir-a-politica-externa-do-vaticano/
Conclusão
Há muita informação falsa a circular sobre o Papa Leão XIV e nenhuma fonte oficial prova que tenha proferido uma frase em que diz que “ser considerado woke num mundo está a dormir, no meio do sofrimento, não é um insulto” mas sim o evangelho. Pelo contrário. Em nenhum órgão de comunicação fidedigno foi publicada tal declaração — que não passaria despercebida nem escaparia ao escrutínio social e mediático.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.