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Repetentes, antigos primeiros-ministros e um socialista. O novo governo francês de François Bayrou

Terá 13 ministérios e oito das pastas ficarão entregues a ministros que já as ocuparam com Barnier. Nos novos nomes, destacam-se antigos ministros, primeiros-ministros e tecnocratas.

Madalena Moreira
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O secretário-geral da presidência francesa anunciou esta segunda-feira os nomes que compõem o executivo de François Bayrou. A maior parte dos ministros, oito de treze, já tinha integrado o governo de Michel Barnier — o mais curto de toda a V República — e vão manter-se em funções. O executivo deverá reunir-se em Conselho de Ministros no próximo dia 3 de janeiro, adianta o Le Monde.

Entre eles destacam-se Bruno Retailleau, ministro da Administração Interna, e Sébastien Lecornu, ministro da Defesa, que chegou a ser apontado para substituir Barnier na liderança do executivo. Ao todo, haverá menos três ministérios do que no executivo de Barnier, com uma maioria de ministros da Renascença, o partido de Emmanuel Macron — serão seis.

Os nomes da Renascença incluem dois pesos pesados. Elisabeth Borne, primeira-ministra até ao início deste ano, vai regressar ao governo francês para ocupar a pasta da Educação e Manuel Valls, primeiro-ministro sob a presidência de François Hollande, será ministro do Ultramar.

Os Republicanos estarão representados em quatro ministérios, todos eles repetentes do executivo anterior — sem surpresas, uma vez que é esse o partido de Michel Barnier. Já o partido de Bayrou, o MoDem, terá apenas uma pasta, dos Assuntos Europeus, que também é uma herança de Barnier. O Horizonte, o terceiro partido que integra a coligação centrista Ensemble, ganhou o ministério da Ação Pública, Serviço Civil e Simplificação, entregue a Laurent Marcangeli.

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Importa destacar outros três nomes do novo governo: dois novatos e um veterano. Eric Lombard, banqueiro no banco público Casse de Dépots, será ministro da Economia, Finanças e Soberania Digital e Industrial. Outra tecnocrata é Marie Barsacq que, depois de ter sido diretora de Impacto e Legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024, será ministra do Desporto e Juventude.

O veterano é François Rebsamen, que já foi ministro do Trabalho pelo Partido Socialista entre 2014 e 2015. Agora, é como membro do partido que fundou, a Fédération progressiste, que ocupará a pasta do Planeamento Regional e Descentralização.

O último nome do executivo de Bayrou é uma mudança em relação ao governo de Barnier, mas não é uma estreia nos executivos. Gérald Darmanin foi ministro da Administração Interna sob Gabriell Attal — no início deste ano — e agora vai ser ministro da Justiça. O nome de Darmanin terá sido uma mudança de última hora.

https://twitter.com/xavierbertrand/status/1871233727013281801

Bayrou tinha garantido que que apresentaria uma executivo “até ao Natal” e já teria feito um convite a Xavier Bertrand, presidente da região de Hauts-de-France, para ocupar a pasta da Justiça. Contudo, o convite foi retirado na manhã desta segunda-feira, segundo anunciou o próprio Bertrand. “O primeiro-ministro informou-me esta manhã [de segunda-feira] que ao contrário do que me tinha proposto, já não me vai atribuir a responsabilidade do Ministério da Justiça, devido à oposição da União Nacional”, escreveu Bertrand.

Bertrand criticou o facto de Bayrou estar a depender do “aval de Marine Le Pen” e de “lidar com o extremismo”. A líder da União Nacional afirmou, durante o fim de semana, que não ia censurar por antecipação o governo de Bayrou e que tencionava esperar para ver os nomes que o primeiro-ministro ia anunciar.

A importância do Ultramar, ministros de Estado e a responsabilidade da oposição. Bayrou comenta o seu executivo

O primeiro-ministro negou, porém, que a decisão de retirar o convite a Bertrand tenha acontecido devido a pressões da União Nacional. François Bayrou explicou, em entrevista à BFMTV, que “após reflexão, chegou à conclusão que tinham demasiadas divergências” e classificou a abordagem de Bertrand à Justiça como “conflituosa e violenta”.

Na mesma entrevista, Bayrou alongou-se ainda sobre a escolha de Manuel Valls, interpretado pelos media franceses como um regresso “surpreendente”. “É um ministro kamikaze, que não tem medo do risco“, classificou o primeiro-ministro. Valls vai ocupar o cargo de segundo ministro de Estado, atrás apenas de Elisabeth Borne — que será a primeiro ministra de Estado.

Bayrou sublinhou que é a primeira vez que o ministro do Ultramar também é ministro de Estado, argumentando que isso traduz a importância que esse Ministério vai ter — tema colocado em cima da mesa na semana passada devido à passagem violenta do ciclone Chido em Mayotte.

O primeiro-ministro apelou ainda aos partidos que “assumam a responsabilidade”, garantindo que “convenceu Emmanuel Macron” da capacidade deste executivo governar e que cabe aos partidos fazer a sua parte para que isso aconteça. Ainda assim, as críticas às escolhas de Bayrou multiplicaram-se. Jordan Bardella, da União Nacional, classificou o executivo como a “coligação do falhanço”. Do outro lado do espectro, o secretário-geral do Partido Socialista, Olivier Faure acusou Bayrou de não ter reunido um governo, “mas uma provocação”.

Atualizado às 20h35 com as declarações de Bayrou em entrevista