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A decisão da Europa: mudar e crescer ou continuar a definhar

No ano 2000 a Europa tinha 41 das 100 empresas mais valiosas do mundo, hoje tem apenas 15. Este dado é suficiente para mostrar a perda de competitividade e criação de riqueza que aconteceu na UE.

Luís Rebelo
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O contexto em que a Europa se posiciona no mundo tem mudado a um ritmo muito acelerado, com um risco cada vez maior de perda de influência económica e política. No plano geopolítico, a invasão da Ucrânia pela Rússia e a divisão interna perante os eventos no Médio Oriente. Mais distantes geograficamente, mas também de elevado impacto, temos novos ventos que impactarão a economia global, como políticas comerciais desleais da China e a prometida introdução de tarifas comerciais às importações por parte da futura administração Trump.

Mas a decadência económica da Europa não é recente. E se, no ano 2000, a Europa tinha 41 das 100 empresas mais valiosas do mundo, hoje tem apenas 15. Este dado é suficiente para demonstrar a perda de competitividade e criação de riqueza que aconteceu na Europa nos últimos 25 anos. Um trajeto que se tem mantido apesar da quantidade de legislação nacional e europeia direcionadas ao crescimento económico – situação que nos deve fazer pensar duas vezes.

Felizmente parece ter havido nos últimos meses um abanão relativamente à importância de voltar a relançar a Europa como um continente industrializado, competitivo e descarbonizado, impulsionado pelo relatório Draghi – com uma nota de louvor para a lucidez da Comissão Europeia que o encomendou. Para relançar a Europa, precisamos que a nossa indústria tenha acesso a energia acessível e a preços competitivos (e não a energia a duas ou três vezes o preço praticado noutros países, como os Estados Unidos da América), precisamos de investimento público e privado, e precisamos de regras simples, reduzindo a burocracia para todas, mas em particular para as empresas inovadoras.

A transição económica global que se está a iniciar, e que temos de assumir sem rodeios na estratégia de reação às alterações climáticas, não pode ser marcada por retração económica, redução da atividade económica, menor ambição de produção de riqueza: tem de ser feita com mais tecnologia, e tecnologias limpas, que mantenham e aumentem o crescimento e a produção de riqueza e bem-estar das populações, reduzindo ou eliminando os efeitos que os desenvolvimentos tecnológicos anteriores provocaram.

Portugal e Espanha têm condições de excelência para a criação e desenvolvimento de indústrias de tecnologias limpas, devendo assumir a ambição de se tornarem uma região liderante na Europa. Temos acesso a energia renovável a preços competitivos, o que é um fator diferenciador, temos recursos humanos qualificados, e temos um ambiente regulatório favorável: o consenso político e social em torno da necessidade de efetuar a transição para uma economia de baixo carbono é em si, também, uma vantagem comparativa com outros países.

Mas precisamos todos de fazer mais. Precisamos de ser capazes de concretizar estas vantagens em investimentos reais e concretos. Temos empresas europeias prontas para fabricar baterias, eletrolisadores, veículos elétricos e aço e cimento praticamente sem emissões. Esta nova geração de líderes industriais pode sustentar a competitividade global da Europa nas próximas décadas, num momento em que outras geografias estão a investir significativamente para assumir a liderança nestas novas indústrias. No entanto, ainda encontramos dificuldades para fazer crescer estas indústrias na Europa, especialmente quando são desenvolvidas por empresas recentes e não por incumbentes nos mercados. Nas fases críticas de expansão, as empresas assentes em tecnologias limpas têm normalmente de passar de investimentos de dezenas de milhões de euros em capital de risco para validar a sua tecnologia, para centenas de milhões de euros em instrumentos de dívida para construir fábricas de grande escala. Precisamos de desenvolver mecanismos de financiamento público e privado (capital de risco, garantias públicas, blended finance, entre outros), criar um choque de procura (onde há um papel a desempenhar pelo setor público e respetivas regras de contratação) e promover a integração de mercados fragmentados, em particular o mercado de capitais.

Precisamos de mecanismos de financiamento que ajudem as nossas empresas a ficarem na Europa e não a saírem para economias com ecossistemas de financiamento mais atrativos, como os Estados Unidos. Bons exemplos destes mecanismos são o recentemente anunciado fundo para deeptech do Governo português, com capital público e privado, com mais de 110 milhões de euros direcionados a empresas com inovações tecnológicas disruptivas e investimentos em setores estratégicos para a transição verde e energética, ou a garantia pública de 500 milhões de Euros para indústrias cleantech anunciada pelo Banco Europeu de Investimento durante a COP29.

Há, portanto, um caminho possível para a descarbonização e a reindustrialização da Europa, mas exige deixarmos de lado as receitas habituais. Há, por isso, uma expectativa muito grande em torno do Clean Industrial Deal anunciado para os primeiros 100 dias de trabalho da nova Comissão Europeia. Investimento e financiamento, licenciamento, matérias-primas e políticas comerciais que exijam, no mínimo, reciprocidade a países com práticas comerciais desleais, como a China, são tudo áreas críticas para o sucesso destas indústrias. Perdemos a corrida na indústria da energia solar, mas ainda vamos a tempo de recuperar em muitas outras, assim haja não só vontade, mas determinação, criatividade e ação.