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(A) :: O humor, fast food da alegria

O humor, fast food da alegria

A pessoa que tem humor tende a retirar um proveito instantâneo desta posse. Já a pessoa alegre pode ter de esperar. E esperar custa, evidentemente.

Tiago de Oliveira Cavaco
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Ter humor é bom mas ter alegria é óptimo. E o primeiro não é necessariamente a segunda. Mais do que um momento, a alegria é uma meta, e por ser uma meta a alegria exige o que o humor não. A alegria pede até disciplina. Quem tem fé é chamado a viver para a alegria, ainda que possa ter pouco humor. Nesta medida, a alegria chega a ser uma ordem bíblica.

Por causa de a alegria ser também uma ordem bíblica, é mais do que um sentimento. É claro que a alegria envolve o que sentimos, mas vai além disso. Assim, até os tristes podem orientar-se para a alegria mesmo quando atravessam infortúnios. A tristeza pode ser apenas uma paragem provisória para quem tem na alegria a estação final. Logo, os mal humorados e os tristes não devem ser precocemente ser excluídos da lista dos futuros alegres.

Tendo a preferir a companhia de quem tem humor a quem não tem, mas reconheço que essa posse pode enganar. Há pessoas com impecáveis sentidos de humor e escassa alegria. E há pessoas que não têm sentidos de humor exemplares com alegrias abundantes. Estas últimas são mais promissoras mesmo que pareçam socialmente menos sofisticadas. A alegria vai levá-las a lugares para onde o sentido de humor não adquire bilhete.

Suspeito que um dos motivos que torna o sentido de humor mais valorizado do que a alegria é a sua gratificação imediata. A pessoa que tem humor tende a retirar um proveito instantâneo desta posse. Já a pessoa alegre pode ter de esperar. E esperar custa, evidentemente. O humor pode ser uma modalidade fast food da alegria, que nos sabe bem na hora da fome mas carece do encanto que a mesa lenta tem.

No fim de contas, tudo é uma questão de tempo. O humor, de resposta pronta, descrê da eternidade. A alegria, de demorada chegada, estica o humor além da piada. Estando em época do Advento, ocasião de treino na espera, consolo-me numa das breves e algo enigmáticas descrições que a Bíblia faz de como será o Céu: uma entrada no “gozo do Senhor Jesus Cristo”.

No último Domingo antes do Natal, sejam os cristãos cidadãos desta alegria demorada que nem sempre condiz exactamente com as expectativas sociais por humor. Que a possível ausência de gratificação imediata não nos assuste. Ainda que nos sintamos do lado de fora das circunstâncias, acreditamos que somos pessoas destinadas a entrar numa alegria divina com forma de pessoa em Jesus. É um mandamento que faz rir.