Recentemente, tive a oportunidade de visitar a Assembleia da República e assistir a uma sessão de trabalhos parlamentares. Este contacto direto com o coração da democracia portuguesa foi uma experiência enriquecedora, mas despertou-me para uma realidade preocupante: muitos portugueses, especialmente nas comunidades mais pequenas, nunca tiveram a oportunidade de visitar a capital do nosso país, muito menos a Assembleia da República, onde se decidem tantos aspetos que moldam as nossas vidas.
Ao comentar esta experiência num encontro informal com pessoas mais séniores da minha freguesia, percebi o quanto esta realidade é marcante. Muitos deles, ao longo de uma vida inteira, nunca tiveram a oportunidade de conhecer Lisboa, quanto mais pisar os corredores da casa da nossa democracia. Este é um aspeto que nos deveria levar a refletir enquanto país, pois estas pessoas — que tanto contribuíram e contribuem para o progresso e desenvolvimento das nossas comunidades — mereciam ter tido, ao longo das suas vidas, acesso a experiências que lhes permitissem um maior contacto com o país como um todo.
Por outro lado, pensando nas gerações mais jovens e futuras, esta experiência reforçou em mim a ideia de que é fundamental criar oportunidades para que as crianças e os jovens conheçam a capital do país e compreendam, de perto, o funcionamento das instituições que regem a nossa democracia. Por que não aproveitar o percurso escolar para organizar visitas de estudo a Lisboa que passem pela Assembleia da República e por outros marcos históricos?
Educar para a Democracia: Uma Ponte Entre Gerações
Para os jovens, estas visitas devem ser mais do que uma oportunidade de lazer e/ou turismo. Assistir ao funcionamento do Parlamento leva-os a compreender como as leis são criadas e o impacto que essas decisões têm no dia a dia da comunidade. Num tempo em que o desinteresse pela política parece crescer entre as gerações mais novas, aproximá-las do funcionamento das instituições é uma forma de combater a apatia e fomentar cidadãos mais ativos e informados.
Estas visitas poderiam também incluir momentos culturais históricos, proporcionando aos jovens um contacto direto com a nossa riqueza patrimonial histórica. Lugares como o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém ou o Museu Nacional resistem como testemunhos vivos da nossa identidade. Este conhecimento é fundamental para que as novas gerações compreendam o seu papel na construção do futuro de Portugal, valorizando o passado que nos trouxe até aqui.
No entanto, não podemos esquecer os séniores, que tantas vezes se veem excluídos destas iniciativas. Poderia ser igualmente enriquecedor organizar excursões ou programas específicos para os mais velhos, permitindo-lhes também conhecer a Assembleia da República e outros locais emblemáticos da capital. Estas experiências, para além do seu valor cultural, poderiam contribuir para fortalecer o sentimento de valorização e ligação ao país. Este tipo de práticas já é realizada por alguns municípios, mas deve-se expandir a nível nacional.
Literacia Política e Financeira: Um Pilar para o Futuro
Esta necessidade de aproximar os cidadãos das instituições reforça a importância de incluir, nas escolas, disciplinas como Literacia Política e Literacia Financeira. Ambas fundamentais para preparar as novas gerações para os desafios e para o futuro.
Literacia Política: daria aos alunos uma compreensão mais clara sobre o funcionamento das instituições, a importância do voto, os direitos e deveres dos cidadãos e a forma como as decisões políticas afetam toda a sociedade. Muitos jovens não votam porque simplesmente não percebem o impacto das suas escolhas. Ensinar-lhes sobre democracia e a cidadania desde cedo é uma forma de criar gerações mais informadas e responsáveis.
Literacia Financeira: seria uma resposta às exigências do mundo moderno. Saber gerir um orçamento, poupar, investir e lidar com o crédito são competências essenciais que nem sempre são ensinadas em casa, muito menos nas escolas, que são os locais onde obtemos grande parte do nosso conhecimento. Incluir estas disciplinas no ensino é preparar os jovens para que no futuro sejam adultos autónomos, capazes de tomar decisões financeiras informadas e conscientes.
A União Entre o Passado e o Futuro
A experiência na Assembleia da República deixou-me, assim, uma certeza: precisamos de construir pontes. Pontes que liguem as gerações mais velhas às mais novas, a experiência ao conhecimento e o passado ao futuro. Os séniores, com as suas histórias de vida e sabedoria acumulada, têm muito a ensinar aos mais jovens; os jovens, por sua vez, têm a energia e a vontade de transformar o mundo.
Cabe-nos, enquanto sociedade, criar oportunidades para que estas pontes sejam construídas. Investir na formação dos nossos jovens é garantir que o futuro de Portugal estará nas mãos de cidadãos conscientes e participativos. Ao mesmo tempo, valorizar os nossos séniores e proporcionar-lhes experiências enriquecedoras é uma forma de honrar o contributo que deram ao longo das suas vidas.
Num país que tanto valoriza a sua democracia, é imperativo que ela não seja apenas um conceito abstrato, mas algo vivido e compreendido por todos. As visitas à Assembleia da República, a introdução de novas disciplinas no ensino e o fortalecimento das ligações entre gerações são passos fundamentais para que Portugal se torne, cada vez mais, um país de cidadãos informados, envolvidos e orgulhosos da sua identidade.
Este é o desafio que lanço. Que sejamos capazes de educar os jovens com os olhos postos no futuro, sem nunca esquecermos aqueles que construíram o caminho até aqui.
Só assim seremos verdadeiramente uma nação democrática, inclusiva e solidária.”